Pesquisadores criam catalisadores para biocombustíveis Inovação

quarta-feira, 30 outubro 2024
Com um teor de óleo de cerca de 34% da massa total, a degradação da substância promove a sustentabilidade ambiental. (Foto: Cícero Oliveira / AGIR)

A pesquisa mira em aplicações industriais.

O consumo de combustíveis fósseis tem caído nos últimos anos, enquanto a demanda mundial por energia só aumenta. Com o planeta enfrentando os desafios das mudanças climáticas, a busca por fontes alternativas e menos poluentes de energia ganha ainda mais relevância.

Nesse cenário, um grupo de pesquisadores do Laboratório de Análises Ambientais, Processamento Primário e Biocombustíveis (LABPROBIO/NUPPRAR), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), desenvolveu catalisadores que promovem a degradação de óleos vegetais, resultando na produção de biocombustíveis e subprodutos de alto valor, como o ácido oleico e o ácido palmítico.

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Os biocombustíveis produzidos são líquidos de alta densidade energética e classificados como “drop-in”, o que significa que podem substituir diretamente a gasolina, o diesel e o querosene de aviação usados atualmente. Segundo Amanda Duarte Gondim, cientista coorientadora da pesquisa, os catalisadores são substâncias que aceleram reações químicas ou promovem reações específicas. No caso do estudo, os catalisadores desenvolvidos são baseados em argila mineral modificada com óxido de nióbio ou óxido de cobre, e são capazes de desoxigenar óleos vegetais para produzir combustíveis renováveis.

Grande interesse

“Esses ácidos possuem grande interesse em várias indústrias, como a alimentícia, cosmética e química, devido às suas propriedades benéficas e aplicações amplas”, explica Amanda Gondim. Os ácidos oleico e palmítico, por exemplo, são utilizados na fabricação de óleos comestíveis, cosméticos, detergentes e lubrificantes, além de serem matéria-prima para biocombustíveis.

A pesquisa foi desenvolvida em colaboração com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Amanda explica que a parceria surgiu a partir do uso de vermiculita, um tipo de argila mineral amplamente estudado pela equipe paraibana. “Na UFRN, realizamos as etapas experimentais e de desenvolvimento metodológico”, contextualiza.

Além de Amanda Gondim, outras pesquisadoras participaram do estudo, como Ana Paula Alves Guedes e Tatiana Rita de Lima Nascimento, além de Aruzza Mabel de Morais Araújo, que colaborou nas fases experimentais. Márcio Rodrigo Oliveira de Souza, doutorando em Química pela UFPB, também esteve envolvido em todas as fases da pesquisa. Ele destaca que a principal aplicação da tecnologia é a degradação do óleo de cártamo, uma oleaginosa que pode ser cultivada em regiões semiáridas, como o Nordeste brasileiro.

Acessível e sustentável

“O cártamo é uma planta com alto teor de óleo, cerca de 34% da massa total, e sua degradação resulta em biodiesel verde, uma fonte de energia renovável que reduz a emissão de poluentes”, afirma Márcio de Souza. O pesquisador destaca que a tecnologia desenvolvida se diferencia por utilizar materiais abundantes e de baixo custo no Brasil, como o nióbio e a vermiculita, o que torna o processo mais acessível e sustentável.

A pesquisa também mira em aplicações industriais. “Estamos atualmente realizando testes catalíticos com diversos óleos vegetais e polímeros para gerar subprodutos valiosos, como biodiesel e bioquerosene”, explica Souza. Esses combustíveis, segundo ele, são uma alternativa importante no combate às mudanças climáticas, pois ajudam a reduzir a dependência de fontes fósseis.

A pesquisadora Aruzza Mabel ressalta que esses testes são essenciais para otimizar o processo e garantir a eficácia e segurança dos catalisadores. “O depósito de patente foi feito em setembro, e agora entramos no período de sigilo de 18 meses, até que o processo seja analisado”, afirma. Segundo ela, o patenteamento é um marco para o reconhecimento dos pesquisadores e pode atrair mais investimentos e colaborações futuras.

Para o grupo, a inovação não apenas contribui para a geração de energia limpa, mas também oferece oportunidades comerciais promissoras, ao mesmo tempo em que fortalece a sustentabilidade. “Essa tecnologia é um passo importante para a transição energética”, conclui Amanda Gondim.

Edição Nossa Ciência

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