Falta de informações sobre a importância da vacinação e fortalecimento dos movimentos antivacinas contribuem para diminuir os índices de imunização
Há 34 anos o Brasil está livre da poliomielite, também chamada de paralisia infantil. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde (MS) tem alcançado êxito no uso da vacina oral poliomielite bivalente (VOPb) no combate à poliomielite desde que essa vacina foi introduzida de forma oficial em 1977.
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Porém, a adesão dos brasileiros à vacinação contra a pólio, que já foi de mais de 100% em quase metade do país em 2011, caiu para 77,2% em 2022, segundo dados do MS.
Um artigo elaborado por pesquisadores de várias universidades públicas brasileiras, publicado na revista Ciência & Saúde Coletiva, aponta algumas possíveis causas para essa queda. Entre os fatores que podem estar associados à redução da vacinação encontram-se a redução do orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS), problemas de gestão dos serviços, organização das salas de vacinação e da comunicação em saúde, além do aumento de vacinas do calendário, resultando em maior complexidade do programa, desde a gestão até a administração.
“Além disso”, enumera o artigo, “contribuem para o contexto de queda da cobertura vacinal a mudança do sistema de informação de dados de doses aplicadas para dados individuais, o desconhecimento da importância da vacinação, o fortalecimento dos movimentos antivacinas, a disseminação de fake news, que reforçam a hesitação em vacinar.”
Uma busca no site do Ministério da Saúde indica que o Rio Grande do Norte (RN) alcançou sua melhor cobertura vacinal com a VOPb, em 2015, com 97,64% numa tendência que vinha crescendo desde 2012, com 93,98%. Nos anos de 2016 e 2017, as quedas foram muito acentuadas, ficando abaixo de 70%.
No primeiro ano do Governo Fátima, a cobertura foi de 80,7%. Em 2020, o ano da pandemia de Covid-19, houve queda significativa, chegando a 70,58%. Mas já a partir de 2021, a cobertura vacinal voltou a crescer no RN até alcançar os 84,24% neste ano de 2024.
Já a análise da cobertura vacinal em Natal indica que historicamente os números são inferiores aos alcançados pelo conjunto das cidades potiguares (veja tabela). Nos anos de 2022 e 2023, a capital ficou mais de 20% abaixo na vacinação de crianças contra a poliomielite, em relação ao Rio Grande do Norte. Mas nem sempre foi assim. Nos anos de 2016, 2018 e 2019, os indicadores de vacinação em Natal foram melhores do que os das outras cidades do RN em conjunto.
Quando comparada a outras capitais de estados nordestinos, Natal mostra desempenho mediano (veja tabela). Desde 2018, a capital potiguar apresenta cobertura vacinal melhor do que João Pessoa (PB).
Já na comparação com números de Recife (PE), entre 2015 e 2024, Natal não apresenta bom rendimento. Somente nos anos de 2019, 2020 e 2021 a cobertura vacinal natalense é superior à recifense.
Na comparação com Fortaleza (CE), a capital cearense tem indicadores bem superiores aos de Natal. Em 2017, Fortaleza vacinou, percentualmente, praticamente o dobro de crianças contra a pólio em relação a Natal. Em 2024, no entanto, Natal apresenta superioridade nos números.
Neste ano, haverá uma mudança na vacinação contra a poliomielite em todo o país. O Ministério da Saúde anunciou que vai substituir as duas doses de reforço da VOPb, conhecida como gotinha, por uma dose de vacina inativada poliomielite (VIP) que é injetável, de modo que o esquema vacinal contra a doença será exclusivo com VIP.
De acordo com o Ministério, a decisão foi baseada em critérios epidemiológicos, evidências científicas sobre a vacina e recomendações internacionais para deixar o esquema vacinal ainda mais seguro. Países como os Estados Unidos e nações europeias já utilizam esquemas vacinais exclusivos com a VIP. A mudança ocorrerá até 4 de novembro.
O esquema vacinal será:
ANO | RN | NATAL |
2013 | 93,86 | 78,38 |
2014 | 95,63 | 72,74 |
2015 | 97,64 | 82,57 |
2016 | 70,25 | 72,48 |
2017 | 69,52 | 44,39 |
2018 | 90,32 | 96,53 |
2019 | 80,74 | 85,02 |
2020 | 70,58 | 68,36 |
2021 | 71,67 | 69,79 |
2022 | 74,96 | 60,37 |
2023 | 78,18 | 61,71 |
2024 | 84,24 | 79,32 |
ANO | NATAL (RN) | JOÃO PESSOA (PB) | RECIFE (PE) | FORTALEZA (CE) |
2015 | 82,57 | 91,16 | 105,71 | 118,37 |
2016 | 72,48 | 75,07 | 87,47 | 127,87 |
2017 | 44,39 | 64,10 | 87,27 | 85,96 |
2018 | 96,53 | 80,57 | 86,84 | 129,96 |
2019 | 85,02 | 81,55 | 68,81 | 95,87 |
2020 | 68,36 | 57,91 | 65,51 | 95,70 |
2021 | 69,79 | 44,21 | 61,40 | 73,21 |
2022 | 60,37 | 42,97 | 63,35 | 71,59 |
2023 | 61,71 | 38,52 | 63,05 | 78,46 |
2024 | 79,32 | 50,49 | 88,22 | 77,37 |
Mônica Costa
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