Com a persistência do movimento anticiência, as práticas prejudiciais permanecem incontestadas, perpetuando um modelo insustentável de produção.
A indústria da desinformação tem usado de forma insistente (e até efetiva) as fake news e o negacionismo, pois debater com terraplanistas pode ser desgastante e infrutífero, uma vez que é no vazio que sempre terminam estas conversas. Porém, enquanto os defensores da ciência subestimam os negacionistas por suas práticas, estes buscam os espaços formais da ciência para avançar com suas ideias (Universidades e congressos de áreas). Um episódio completo sobre o tema (Do ET Bilu à Ratanabá) é detalhado pelo podcast Ciência Suja e joga luz sobre esta questão.
Para continuar funcionando, o Nossa Ciência precisa do apoio de seus leitores. Faça um pix para contato@nossaciencia.com
Dessa forma, tendo em vista o modo organizado com que se desenvolve a propagação de conceitos negacionistas (com financiadores, inclusive) surge uma dúvida crítica: a quem o negacionismo serve? Uma primeira hipótese seria atribuir àquelas pessoas que estão lucrando com as condições atuais do planeta. Neste grupo estão as pessoas que continuam contaminando a água, solo e ar, em troca de um modo de produção que já se mostrou falido.
As populações que moram próximas a estes empreendimentos (refinarias, mineradoras e plantações inundadas de agrotóxicos) são as primeiras afetadas de uma rede que termina por todo o planeta (somos uma só aldeia). Para quem quiser entender mais, outro episódio do Ciência Suja é o “Zonas de Sacrifício”, que traduz o interesse destas corporações em manter a população alheia às sequelas de sua ação.
E é aí que entra a desinformação: jogar cortina de fumaça sobre a ação destas empresas termina por ser um último recurso para conter a opinião pública. Se as pessoas que convivem na zona de sacrifício naturalmente não acreditam na correlação entre a ação humana e a degradação do meio ambiente e até mesmo nas mudanças climáticas, pode-se dizer que tudo está sob controle.
Ora, se alguém acredita (e defende) que a terra é plana, passa a ser muito mais fácil fazê-la acreditar que os venenos usados no agronegócio são meros defensivos agrícolas e que não afetam sua saúde. E neste ponto, ter cientistas sendo ouvidos sobre riscos e sequelas da ação de suas empresas no meio ambiente é sinônimo de prejuízo. Isso significa que a anticiência é fundamental para manter as coisas como estão, com a espécie humana afetando irreversivelmente o clima do planeta às custas de manter o “mercado” feliz.
Leia o texto anterior: Quanto tempo tem o tempo de cada um?
Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência
Deixe um comentário