Quero meu produto completo Disruptiva

quinta-feira, 3 outubro 2024
Manobra radical com a byke-potencial (Gerado via Copilot)

Como criar um produto completo e superar expectativas e a concorrência

É verdade: quem é que gostaria de um produto incompleto? Mas não é sobre a integridade de um produto que vamos falar hoje, mas de um conceito do design mais profundo: a completude da tarefa. E algo além: o que se espera quando se busca uma solução para resolver alguma necessidade. Algo que execute bem aquela tarefa. A Job To Be Done tão defendida por Clayton Christensen, seja ela feita por um produto (tangível), um processo, um serviço, um squad (time) ou uma startup, o que chamo de P2S3.

Para continuar entregando conteúdo de qualidade, Nossa Ciência precisa do apoio de seus leitores. Faça um pix para contato@nossaciencia.com

A AC de hoje trata disso, de o porquê de algumas soluções, muitas vezes aparentemente similares, serem mais desejadas do que outras. Tentarei explicar isso por meio do conceito de Produto Completo. PC para os íntimos. O interessante é que, depois de entender este conceito, fui compreender algo que me apetece o juízo desde a tenra infância gramática: o que diabos significa o tempo verbal mais-que-perfeito.

O conceito

Produto Completo (Whole Product em inglês), refere-se a uma solução que satisfaz completamente as necessidades e expectativas dos usuários, integrando funcionalidade, estética, inovação, viabilidade técnica e expectativas que o cliente nem sabia que tinha. Ele não apenas resolve um problema específico, mas também oferece ganhos extras e, consequentemente, uma melhor experiência de uso.

Vasculhando na Wikipédia, encontrei que “No campo do marketing, o conceito de ‘produto completo’ é uma adaptação do ‘produto total’ desenvolvido por Ted Levitt, professor da Harvard Business School. Em seu livro ‘The Marketing Imagination’, Levitt destacou que os consumidores adquirem mais do que apenas o produto principal. Eles compram o produto principal junto com atributos complementares, muitos dos quais são intangíveis”.

Por que compreender conceito importa?

Quem enxerga sua solução apenas como um item estanque, com único propósito específico, não conseguirá compreender toda a experiência que o usuário deseja ou merece ter, nem entender como e porque seus clientes escolhem e utilizam seu produto; ou pior, o da concorrência. Isso pode fazer com que você não perceba os espaços que seu produto não atendeu. Aproveitando sua “vacilada”, seus concorrentes, utilizando a solução capenga que você mesmo lançou no mercado e você como cobaia (o pessoal mais polido dá a esse movimento o nome de benchmarking), vão “explorar” seu produto incompleto como se fosse um protótipo deles, e aprenderão como preencher as lacunas que sua própria startup levantou. Massa, né não?

Compreender o conceito de PC pode trazer ganhos significativos para o desenvolvimento de sua solução, auxiliando no processo de tomada de decisão e mantendo-o no caminho certo. Você decidirá melhor ao entender que componentes e dimensões adicionais devem ser incorporados à sua solução principal, aprimorando sua proposta de valor e se distanciando da concorrência.

Descascando a cebola do PC

Inspirado no modelo apresentado pela Snowball , redesenhei em níveis os componentes do PC que você tem de aplicar ou perceber em sua solução, para que possa desenvolver aquele “produto que se vende sozinho”. São eles:

Estrutura de um Produto Completo

Componente Genérico. É o item que é enviado na caixa quando a compra é realizada. Ou seja: tá nas letrinhas miúdas do manual.

Componente Esperado. É o que o você acredita que vai adquirir ao comprar um produto. Em outras palavras, é aquilo que uma amiga que comprou disse que ele faz.

Componente Aumentado. É a versão idealizada do produto, que atinge todos os objetivos e necessidades do cliente, garantindo a satisfação da compra. Resumindo: você pagou “quinhentinho” torcendo para que aquele celular faça o mesmo que um “iPhone 47” de “vintemilzão”. Sonha garoto!

Componente Potencial. Representa as oportunidades de melhoria e crescimento do produto. Novas características e funcionalidades que podem ser adicionadas. Coisas que o dispositivo faz que não vêm escrito no manual e que nem o fabricante sabia que o produto era capaz de fazer. Exemplo: você já viu aquelas manobras impossíveis que a galera faz com bykes que desafiam as equações de Isaac Newton? Pois é, nem os fabricantes acreditavam que era possível fazer aquilo daquele jeito.

Finalizando…

Para quem pretende montar uma startup e entregar soluções que se diferenciem do status quo, é necessário que seu produto nasça e seja composto por, pelo menos, mais de uma das camadas do Produto Completo, além da genérica, claro! Do contrário, vão observar seu produto, aprender com as falhas dele, e depois encher de coberturas que irão “matar” aquilo que potencialmente seria um produto supimpa. Se você pretende lançar um produto, solução, projeto, empreendimento ou qualquer tipo de negócio, seu produto terá de ser completo. Ou mais-que-perfeito!

Leia o texto anterior: Pseudociência gera pseudoinovação

Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e gerente executivo da incubadora inPACTA (ECT-UFRN)

2 respostas para “Quero meu produto completo”

  1. Euriam Araujo disse:

    GBB-San, excelente recuperação desse conceito de Levitt dos anos 1980 !
    Fazendo associações com outras teorias relacionadas à inovação, o produto completo é essencial para que ocorra a adoção de tecnologias por parte do mercado tradicional. Por outro lado, conforme vão surgindo concorrentes e mais empresas exploram o produto potencial, por meio de inovações sustentadoras, ocorre o fenômeno da comoditização (termo utilizado por Clayton Christensen).
    Há um outro aspecto relacionado ao conceito do produto completo: ele surgiu na época do marketing de produto. Posteriormente, no final dos anos 1990, surgiram novas abordagens: economia da experiência (Pine II, Gilmore) e marketing da experiência (Schmitt). Com isso, se pensarmos em um upgrade do produto completo para experiência completa, como poderia ser explorada uma experiência potencial ? Jobs to be done: que experiências as pessoas estão buscando vivenciar ? P2S3 poderia se tornar P2SES2 (produto, processo, serviço, experiência, squad ou startup) ?

    Um abraço !
    Ciência -> Todos

  2. Gláucio disse:

    Salve, Mestre Euriam!
    Obrigado pelo upgrade da AC. Nunca havia pensado no quesito experiência como algo a ser construído. Pelo que você expôs, a “Ex” tem de caber em cada uma das letras do P2S3. Podemos, tranquilamente, rebatizar para P2S3-Ex!
    Grande abraço.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Site desenvolvido pela Interativa Digital