Estudo propõe a criação de protocolos para melhorar a sobrevivência e o desenvolvimento a longo prazo dos prematuros
A prematuridade é um problema de saúde global, sendo uma das causas de morte em crianças menores de cinco anos. O início precoce da nutrição enteral em recém nascidos prematuros beneficia os resultados clínicos, porém atingir a alimentação enteral completa continua sendo um desafio para as equipes de saúde. A nutrição enteral é uma forma de alimentação que fornece nutrientes ao paciente por meio do trato digestivo, através de uma sonda ou ostomia.
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Pesquisa desenvolvida na Maternidade Escola Januário Cicco, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (MEJC-UFRN) constatou que o peso dos bebês prematuros ao nascer influencia o tempo necessário para atingir a adequação nutricional. Isso indica que quanto menor o peso do bebê ao nascer, maior será o tempo necessário para que seja possível receber a dieta adequada.
O estudo resultou na publicação de um artigo na revista Journal of Pediatric Gastroenterology & Nutrition, com o título Adequação nutricional da dieta enteral de recém-nascidos pré-termo: um estudo de coorte prospectiva (Enteral adequacy of the diet of low-birth-weight preterm newborns: A prospective cohort study). Primeira autora do artigo, a nutricionista Thayanne Gurgel de Medeiros Mendes, ressaltou a importância da pesquisa, justificando que estudar e compreender a dieta dos bebês prematuros é essencial para contribuir para a saúde dos neonatos internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin). “O nascimento de um bebê prematuro é um evento de grande complexidade e a nutrição adequada desempenha um papel fundamental no ganho de peso e no desenvolvimento do bebê,” garante.
Mendes ressalta que a pesquisa contribui para entender o processo de adequação dos bebês da Utin à dieta e a construir estratégias e protocolos para que a equipe assistencial possa atuar. “De forma geral, os bebês prematuros tendem a demorar na adequação da dieta. E isso vai ajudar para procurar estratégias, desenvolver metodologias para atuar precocemente e evitar que isso ocorra em tempo mais prolongado”, disse. O estudo foi desenvolvido durante seu Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde da Mulher (PPgCASM).
“Tivemos apoio das equipes da MEJC, coletamos os dados sobre a dieta dos bebês prematuros para avaliar se eles conseguiam se adequar à dieta em tempo considerado que a literatura traz com adequado”, resumiu a pesquisadora.
O trabalho foi orientado pela professora do Departamento de Nutrição da UFRN e membro permanente do PPgCASM Márcia Marília Gomes Dantas Lopes. A professora disse que o estudo traz uma série de benefícios para o usuário do Sistema Único de Saúde (SUS). Um deles é a melhoria nos resultados clínicos, considerando que as dietas adequadas podem ampliar a sobrevivência e o desenvolvimento a longo prazo dos recém-nascidos pré-termo, reduzindo complicações e promovendo um crescimento saudável.
“Promove também eficiência no uso de recursos, considerando que, mediante avaliação da adequação das dietas e sua relação com o peso de nascimento, é possível identificar práticas que otimizam os recursos disponíveis. Isso ajuda a garantir que as intervenções sejam direcionadas de maneira eficaz, evitando desperdícios e melhorando o uso dos recursos limitados nas UTIs neonatais”, acrescentou. Explicou ainda que a análise dessas relações pode contribuir para a formulação de protocolos de nutrição mais eficazes e personalizados.
Para Lopes, a publicação do artigo mostra a importância da nutrição na assistência ao prematuro. Ela ressalta que é necessário um manejo nutricional adequado para se alcançar resultados terapêuticos satisfatórios, considerando-se não apenas o volume, mas também a composição de macronutrientes na dieta enteral.
“Enfrentamos notáveis desafios na busca da alimentação enteral plena, especialmente para bebês com menor peso ao nascer. Nossas descobertas destacam a urgência de uma abordagem multidisciplinar e otimizar resultados para esta população vulnerável”, afirmou, lembrando a importância da MEJC como campo de prática e na assistência à mulher e ao recém-nascido.
“Os profissionais da MEJC contribuem no monitoramento da saúde da mãe e do bebê, oferecendo acompanhamento pré-natal para identificar e tratar condições que possam afetar a gravidez e o parto, e cuidados pós-natais para apoiar a recuperação da mãe e o desenvolvimento saudável do recém-nascido. O cuidado na maternidade frequentemente envolve uma abordagem interdisciplinar, com médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, farmacêuticos, nutricionistas e outros profissionais trabalhando juntos para oferecer um cuidado abrangente e coordenado”, disse. O PPgCASM desenvolve pesquisas nas diferentes fases da vida da mulher. O mestrado acadêmico do PPgCASM é o primeiro a funcionar em uma unidade hospitalar, vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Mônica Costa, com informações da Ebserh
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