Pesquisadora da UFRN fala dos estudos acerca da obra do pensador italiano
Professores e pesquisadores de diversas áreas se reuniram no 5º Encontro Nacional/4º Colóquio Internacional Antonio Gramsci para discutir o legado do filósofo italiano. A professora Eliana Andrade da Silva, da UFRN, apresentou um estudo sobre a austeridade fiscal e seus efeitos nas classes subalternas. Ela falou ao Nossa Ciência sobre o evento e destacou a atualidade do pensamento gramsciano e sua relevância para compreender as relações de poder e hegemonia na sociedade contemporânea.
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Alguns temas são transversais em várias áreas de estudo. Há estudo do pensamento do italiano Antonio Gramsci (1891-1937) em Ciência Política, Serviço Social, Filosofia, História, Educação e Jornalismo. Na última semana de agosto, ocorreu o 5º Encontro Nacional/4º Colóquio Internacional Antonio Gramsci (IGS-Brasil)/4ª Conferência Gramsci, Marx e o Marxismo.
A professora Eliana Andrade da Silva, do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, participou do evento. Lá apresentou o artigo “Austeridade como método econômico das classes dominantes e seus efeitos econômicos, políticos e ideológicos sobre as classes subalternas”.
Em entrevista ao Nossa Ciência, a professora explica que seu artigo analisa a austeridade fiscal, como método econômico das classes dominantes e seus efeitos sobre as classes subalternas. “Trata-se de um estudo fundamentado no materialismo histórico-dialético. A coleta de dados desenvolveu-se em documentos e Leis, tais como Emenda Constitucional 95, Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista, Lei da Terceirização. Todas essas leis fazem parte do ajuste fiscal a partir de 2016”, detalha.
O evento foi realizado na Universidade Federal do Maranhão, tendo como prioridade contribuir para o aprofundamento dos estudos e difusão da obra e vida de Antonio Gramsci. Na descrição do Colóquio, propõe-se a análise da crise da hegemonia mundial e a necessidade histórica de construção de uma nova hegemonia, como estratégia emancipatória dos subalternos.
Para Andrade Silva, “Gramsci é um autor importante para entender as relações do Estado, a questão da hegemonia, como o Gramsci se relaciona com as classes sociais, como as classes sociais se articulam frente ao avanço, por exemplo, do conservadorismo, ao avanço do próprio capitalismo.”
O estudo do conservadorismo e do ajuste fiscal como estratégias de controle da hegemonia na sociedade tem sido amplamente desenvolvido pela professora. Neste Colóquio, realizado em São Luís (MA), o trabalho apresentado aprofunda a relação entre ajuste fiscal e conservadorismo ideológico das classes dominantes. “Concluímos que a austeridade é uma ferramenta econômica e ideológica, associando liberalismo econômico, repressão política contra as classes subalternas e exploração da força de trabalho”, aponta. O artigo teve a participação dos pesquisadores Lázaro Samuel Veras Bandeira e Maria Gizeli Herculano da Silva. Ambos são alunos de graduação no curso de Serviço Social, da UFRN.
Ressaltando a atualidade do pensamento gramsciano, a pesquisadora explica a tendência atual do estudo da filologia do pensamento gramsciano. “é entender as conexões e os conceitos que o autor deu às suas análises a partir dos textos originais”. Em sua opinião, os escritos do autor de Cadernos do Cárcere são ferramentas para a compreensão das relações sociais hoje. “Gramsci é um filósofo, um pensador que se destinou a estudar as relações sociais, as relações políticas e como os segmentos, os grupos podem se tornar dominantes”, justifica.
Falando ainda sobre a importância de se ler esse autor na atualidade, ela afirma que “É um autor que ajuda a pensar as relações Estado e sociedade, a esfera da política, como a esfera formada por várias correlações de força. Gramsci vem se tornando cada vez mais, na América Latina, um autor a ser estudado, pesquisado”, reforça.
A Conferência teve a presença de pesquisadores da Itália, Argentina, Uruguai e Guatemala. Do Brasil, além dos potiguares, participaram estudiosos do Piauí, Paraíba, São Paulo, Paraná e RJ, entre outros. “A gente encontra essas ressonâncias entre o regional e o nacional, amplamente articulados aos estudos que vêm sendo feitos na América Latina”, avalia a pesquisadora.
Como grande contribuição à disseminação do pensamento de Gramsci no Brasil, Andrade Silva fala do evento. “A importância é ser um espaço de aprofundamento, de divulgação das obras de Gramsci, do pensamento gramsciano e também novidades em termos do eixo dos estudos gramscianos.” Durante o fórum foi divulgado o projeto de organização de uma nova versão dos Cadernos do Cárcere, a ser disponibilizada ao público até o fim de 2024, no site da IGS-Brasil. De acordo com a pesquisadora, o acesso ao material será gratuito.