Na semana do Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, o Nossa Ciência reuniu matérias especiais sobre o lado feminino da Ciência e Tecnologia do nordeste. Abrindo a semana, uma entrevista com Ângela Maria Paiva Cruz, reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
De origem interiorana, Ângela Maria Paiva Cruz é filha de Santa Cruz, município a 120 km de Natal. Desde maio de 2015, ela é a reitora, pelo segundo mandato consecutivo, da UFRN. Bacharel em Matemática, mestre em Filosofia e doutora em Educação, tem sua formação básica e superior na educação pública. É docente do Departamento de Filosofia da UFRN há mais de três décadas e atua no ensino, pesquisa, extensão e na gestão universitária. Atuou como vice-reitora na gestão 2007-2011 e reitora reeleita, tendo cumprido o 1º mandado no período 2011-2015. Como marca de seu mandato ela destaca as ações de inclusão, interiorização e internacionalização. Ângela Cruz também preside, atualmente, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Em seu gabinete no campus central da UFRN, ela recebeu a equipe do Nossa Ciência para falar de sua trajetória e desafios.
Nossa Ciência: Como é ser gestora de uma grande universidade como a UFRN? Quais os principais desafios?
Ângela Cruz – Principalmente ser gestora de uma universidade é um grande desafio. Eu fui a primeira reitora eleita depois de mais de 50 anos de existência da universidade. Na nossa primeira gestão, quando fui eleita éramos duas mulheres, a professora Fátima Ximenes e eu. Os desafios são imensos, porque a responsabilidade, o projeto de universidade desses mais de 50 anos é um projeto em crescimento, cresce e se consolida principalmente em qualidade, o que nos deixou o legado de dar continuidade a esses projetos que foram conduzidos por reitores homens. Acredito que tenha recebido a confiança, enquanto professora, para conduzir esse projeto com muito critério para que ela continuasse sendo uma universidade de referência. Então, em resumo é um grande desafio. Agora em termos de projeto, que a gente tem que conduzir, o esforço foi juntar equipes, nas duas gestões, que nos dessem a condição de pegar o nosso Plano de Desenvolvimento e o Plano de Gestão que havia sido discutido com a comunidade para fazer acontecer. Desafio, e todo desafio traz consigo muitas realizações, porque a gente veio com muita vontade de realizar metas, projetos, mas também diversos problemas.
Como a senhora analisa a situação de homens e mulheres na universidade?
AC – Nós temos uma universidade, se a gente olhar o número de professores, de técnicos, de alunos nós temos uma certa equiparação. Em alguns momentos temos mais homens que mulheres em alguns setores, em algumas áreas muito mais mulheres do que homens. Nas áreas de Humanas e Sociais nós temos muitas mulheres, e inversamente na área de exatas. Mas, esses movimentos estão em movimento: tanto há mais homens nas áreas sociais do que mulheres, por exemplo, nós vemos isso nas colações de grau, nas áreas humanas e de saúde temos muito mais mulheres. Na área de exatas, temos colações de grau com uma ou duas mulheres, ainda é raro. Já na questão da qualificação das mulheres nós vemos muito mais professoras nas áreas duras, que são de exatas e tecnológicas. Então, olhar pelo perfil da universidade é uma forma de olhar, estamos numa certa igualdade, certa equiparação em termos absolutos, de números.
NC – Antes de assumir como reitora, sua vivência de universidade ajudou nessa função? Como foi sua trajetória, desde Santa Cruz?
AC – Sempre fui professora, venho de uma família que sempre acreditou em Educação como a riqueza que uma família pode deixar para os filhos. Tive na sala de minha casa uma sala de aula, minha irmã mais velha, por exemplo, era professora naquelas salas de aula de comunidades onde não havia escola. Vivenciei a escola muito cedo, fiz vestibular, Matemática, tanto Licenciatura como Bacharelado, e na primeira oportunidade que me surgiu ainda como aluna fui ser professora do Estado. O exercício com a docência começou muito cedo ainda na década de 79, eu acho que já estava em sala de aula, do Estado. Depois eu também fiz concurso para o Município, em 82 ingressei por concurso na UFRN e fui para o campus de Santa Cruz. Naquele momento, havia campus no interior, num momento muito difícil, que tinha campus no interior por esforço da administração da universidade, mas não havia uma política de interiorização que ajudasse a consolidar. Lá todos os professores davam aula de muitos componentes curriculares, eram 9, 10, 12 componentes, da Matemática à Filosofia passando pela Pedagogia. Dei aula em Santa Cruz em condições bastante precárias, lá passando 9, 10 anos e o campus estava fechando, não havia condição de qualificação dos professores, porque saindo professores não tinha quem substituísse. Então, era uma condição precária e o campus de Santa Cruz fechou. Daí eu vim para Natal, todo o Departamento de Filosofia veio.
NC – Quando e como ocorreu seu envolvimento com a gestão e a política da universidade?
AC – Desde o campus de Santa Cruz, mesmo apenas na função de professora já me envolvia com as questões principais da universidade, com as políticas, participando de conselhos superiores, com as comissões. E vindo pra Natal tive mais tempo inclusive de participar mais efetivamente de colegiados superiores, também de comissões permanentes de pós-graduação, de avaliação da docência. De modo que essas experiências paralelas à docência na educação superior me ajudaram, todas elas me ajudaram porque eu já participava dessas discussões dos projetos da universidade como um todo, não apenas o projeto acadêmico em si. Então tudo isso me ajudou a ter uma visão da universidade com seus desafios, seja no campus central onde as coisas estão mais ou menos à mão, como também no interior onde quase nada está ao alcance do professor, não estava naquela época. Felizmente tive uma oportunidade importante na gestão ainda como vice-reitora do professor José Ivonildo do Rêgo de coordenar o projeto Reuni e ter a condição de ajudar, junto com um grupo de colegas, a reestruturar e reabrir campus como o de Santa Cruz.
NC – Que característica acadêmica ou administrativa destacaria na sua gestão? Qual seria a sua marca frente à UFRN que será lembrada na história?
AC – Nós costumamos olhar a história de lá pra cá, claro, mas creio que a leitura será feita claramente ao término de tudo. Estamos procurando deixar marcas como o projeto de interiorização da universidade, o projeto de inclusão social e uma concepção de uma universidade que respeita a pluralidade, a diversidade e as diferenças, nessa visão de universidade para todos. A questão da inclusão, da interiorização e da internacionalização, costumo falar de vários is, nessa segunda gestão ficou muito patente esses is nas nossas ações estratégicas. A internacionalização pelo fortalecimento das cooperações, da participação da universidade em vários projetos com professores e alunos. Na interiorização nós pudemos implementar projetos de fortalecimento dos campi da universidade, porque temos toda certeza de que um campus no interior ele só se consolida se dermos as condições para a pesquisa e para a pós-graduação. Só ensino como tivemos no passado lá em Santa Cruz, não é suficiente. Em Santa Cruz, em Macau, nós fechamos, porque a gente não segura aluno, porque a vida não termina na graduação. A vida acadêmica também não segura professor que não quer fazer apenas ensino e graduação, ele quer fazer pesquisa, quer atuar, ajudar a formar pessoas no nível de pós-graduação. Então, por isso estamos trabalhando para ampliar as condições de pesquisa no interior, criando mecanismos específicos de fortalecimento de áreas de pesquisa e grupos de pesquisa para ter as condições de implementar a pós-graduação. Felizmente já temos 5 mestrados no interior e no início da nossa gestão não havia, havia somente especializações que são pós-graduação latu sensu, mas mestrado não havia. Em breve vamos fazer a aula magna do curso de Medicina multi campi, em Caicó e vamos fazer a abertura desse mestrado. Essa Escola começou em 2014, mas nós já vamos inaugurar o mestrado na área de saúde. Então, para interiorizar e formar pessoas no interior, nós criamos um argumento de inclusão para o interior, damos 20% a mais na pontuação do ENEM para os alunos da micro região onde estão os campi. Qual é a razão disso? É que nós entendemos que a universidade precisa formar os jovens do interior para que eles contribuam para o desenvolvimento da sua região. Se trouxermos todos os jovens para as capitais, dificilmente eles voltarão para dar alguma contribuição para aquela região onde ele nasceu. Dessa forma, o interior vai continuar sempre pobre de pessoas, de inteligência e desenvolvimento econômico e social, enquanto a capital vai ficar com muita gente, mas também com muitos problemas sociais. Criamos e implantamos o curso de Medicina no interior, um curso multi campi e a recuperação, reestruturação de Santa Cruz foi toda na área de saúde onde nós já tínhamos o Hospital Universitário Ana Bezerra.
NC – Na sua opinião, interiorizar vai ficar como a marca mais importante de sua administração?
AC – Interiorizar com certeza é uma marca, mas a inclusão também é. Fortalecemos muito as políticas ajudadas também pelas ações afirmativas, mas também por programas bons que foram implantados pelo governo federal de inclusão de pessoas com deficiência. Hoje nós temos um setor que é nosso Núcleo de Acessibilidade, que dá assistência e boas condições de permanência a mais de 200 alunos que são cegos, dislexos, chamamos de diferenças, mas todos têm igual condição. Então, essa questão de incluir, não apenas as cotas por escolas públicas que cresceu muito, felizmente, nesse processo de inclusão. São três marcas importantes e não poderia deixar de falar da inovação tecnológica. Na inovação tecnológica nós demos mais condições ao nosso Núcleo de Inovação que é o NIT, para que os nossos professores, pesquisadores sentissem mais confiança e apoio para o desenvolvimento de projetos empreendedores e inovadores de modo que nós possamos passar dos 24 registros de patentes, por exemplo, que é um dos indicadores, para cerca de 130 hoje. No final da primeira gestão estávamos com cerca de 100, recebemos as primeiras cartas patentes nesse período, já temos três cartas patentes, essa é uma diferença no nordeste. Creio que no nordeste só a UFRN tem esse número de patentes. O número de pedido de registros, de programas de computador, de marcas etc cresceu muito, porque a administração deu condições para apoiar os nossos pesquisadores para fazer esse desenvolvimento. O programa de Incubadora de Empresas também foi na nossa gestão que criamos esse programa, hoje já são cinco incubadoras e algumas delas com um avanço significativo e estamos acompanhando a criação de um parque tecnológico puxado, capitaneado pela Incubadora Inova Metrópole.
NC – Quando falamos em marcas e nos grandes feitos lembramos os entraves, os problemas enfrentados. Quais são os entraves que a senhora destacaria?
AC – Mais recentemente o problema orçamentário. De 2014 pra cá, nós estamos vivendo ora um contingenciamento, ora cortes no orçamento. Em 2015, 2016 trabalhamos com 50% de corte no orçamento do capital, contingenciamentos e cortes também no custeio da universidade. Estamos num processo de “aposentação”, tendo muitas aposentadorias em cargos onde não há concurso, ou seja, necessariamente aumentando a terceirização que vai corroendo também o orçamento de manutenção, de geração de qualidade e desenvolvimento institucional. Este é um fator mais recente. Já vivemos um período mais tranquilo que foi da expansão, onde os problemas foram o do crescimento, porque crescer também é doloroso, foi um período de muito desafio. Implementamos o modelo formativo em ciclos, que são os bacharelados, o de Ciência e Tecnologia e depois o outro que se criou de Tecnologia da Informação (BTI), são modelos de formação diferentes que temos aqui na universidade. Esses são bons problemas, implantar e realizar obras é bastante complicado, mas foram problemas bons que tínhamos a mão e depois nós ficamos com os problemas ruins. Problema ruim é não ter orçamento para aquilo que planejamos fazer. A outra dificuldade é a burocracia e a questão das regulamentações, das leis vigentes hoje no setor público e que valem tanto para uma empresa pública ou instituição pública bastante linear, que trabalha um processo de trabalho dirigido para uma única questão, por exemplo, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Agora pense uma universidade e a complexidade que há, as regras que estão pautadas para um, estão pautadas para outro igualmente. A complexidade do ensino, da pesquisa, da extensão, da inovação é muito maior de se lidar. Há muito engessamento, os processos são muitas vezes lentos demais, como os de licitação. A questão da falta de autonomia, principalmente sob o ponto de vista da administração e da gestão financeira é muito difícil, esses são entraves. Pouco pessoal, estamos perdendo pessoal. Nós já tivemos 3.900 técnicos, hoje nós temos cerca de 3.200, com a universidade imensamente maior do que nós tínhamos antes. Um avanço que também nos permitiu crescer dessa forma é que investimos muito, meu antecessor o professor Ivonildo, depois nós, investimos na questão dos sistemas informacionais. Eu fico pensando como seria trabalhar tudo no papel numa universidade do tamanho que nós temos se nós não contássemos com as tecnologias de comunicação e informação que a gente tem hoje, no caso da UFRN com sistemas bastante robustos. Nós temos muitas dificuldades por falta de pessoal, muitas vezes você tem os professores, muita produção, por exemplo, para criar uma pós-graduação e aí você fica com uma dificuldade de um espaço físico e também de pessoas para trabalhar nos laboratórios, nas secretarias etc. Questões do crescimento necessário para responder às demandas que nós temos hoje passam por esses aspectos da legislação, que é burocrática, que engessa, retarda a realização de metas. A falta de pessoal, a gestão de pessoal que é bastante complexa, entre outras.
NC – E com relação as ações afirmativas voltadas para as mulheres, por exemplo, creche para filhos de alunas. Como sua administração lida com essas questões?
AC – Hoje o orçamento para a assistência é basicamente do Programa Nacional de Assistência ao Estudante que a gente chama PNAES, onde tudo é dedicado ao estudante. A demanda de creches para filhos de estudantes sempre existiu. Lembro que trabalhei muito com DCE (Diretório Central dos Estudantes) essa questão e uma solução que nós encontramos foi um apoio creche para os meninos e meninas, alunos e alunas que têm filhos em idade de estar na creche e que não tenham com quem deixar a criança ou não tenham condição de colocar numa creche. Então, para essas pessoas que estão numa situação de vulnerabilidade econômica, social há o apoio creche, que tem suprido a demanda. que tem se apresentado. Esse apoio é tanto para alunos como para alunas. No caso das mulheres, nós criamos o comitê UFRN com Diversidade e todos os anos quando se aproxima o dia 8 de março nós fazemos essas avaliações sobre quanto nós crescemos e avançamos nos direitos, mas também quanto ainda há a se fazer. Dados de organismos nacionais e internacionais mostram que a violência contra a mulher, o desrespeito em relação a gênero, a sexo, a violência letal contra a mulher tem crescido de forma exorbitante. O assédio sexual também é um tipo de violência que também cresce e a universidade é uma seção da sociedade, então o que acontece na sociedade acontece aqui também. Infelizmente essa violência também cresce aqui notadamente nos últimos anos, até talvez tenha existido em outros tempos, mas as mulheres não tinham uma forma de expor esse problema. Depois da lei Maria da Penha no Brasil a gente tem muito mais suporte para as mulheres, embora algumas ainda não revelem o problema. E isso tem ajudado, via ouvidoria e os outros mecanismos que a gente tem na universidade, mostram que tem saltado muito a violência, o assédio moral, o assédio sexual contra as meninas.
NC – O fato de ser mulher, uma gestora a resolubilidade dessas questões é mais célere?
AC – Eu acho que por parte das mulheres pode ter mais sensibilidade para implementar ações. Um dos grupos que a gente dá bastante apoio é o Centro de Referência de Direitos Humanos e Igualdade Racial que trabalha os direitos humanos. Estou correndo atrás do novo Ministério dos Direitos Humanos uma vez que isso foi colocado em relevo, espero que isso tenha sustentabilidade e políticas muito sérias e permanentes. O grupo Tirésias – Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Diversidade Sexual, Gênero e Direitos Humanos – é outro grupo multidisciplinar que trabalha essas questões na UFRN. Fora isso nós implementamos um comitê até para reunir mais, reorganizar e sistematizar as ações desses outros grupos. A professora Fátima Ximenes, pró-reitora de Extensão coordena esse comitê e nós estamos nos colocando sempre em pauta, seminários, aula magna, entre outras coisas. No ano passado trouxemos a professora Nilma Lino, que era ministra dessa área, da Secretaria de Mulheres e Igualdade Racial, ela veio nos falar exatamente dessas questões. E agora em março, para outra aula magna, estou convidando uma pessoa para falar de direitos humanos novamente. Nós estamos trabalhando com mais sensibilização para que não apenas na convivência, mas também na formação do cidadão do futuro, que é o nosso aluno, tenhamos essas questões perpassadas nos projetos pedagógicos, nos processos de formação. Não adianta fazermos muita aula, muita palestra se o meu curso trabalha conteúdo por conteúdo restrito da área sem colocar em destaque como conteúdo formativo esses aspectos da convivência humana, do direito, do respeito da diferença como nós vemos na própria universidade. Infelizmente, muitos problemas que vemos na sociedade estão reproduzidos aqui nas nossas salas de aula, nos laboratórios e esses núcleos e esse comitê da UFRN trabalha com políticas e ações para que a gente dissemine a cultura do respeito aos direitos humanos independente de questões de gênero e de sexo, de qualquer diferença. Isso é mais fácil da mulher perceber, buscar e implementar ações. Não nego também que há vários colegas reitores bastante sensíveis a essas questões, mas para nós mulheres naturalmente a gente sabe onde o sapato aperta. Nós sabemos que é verdadeiro o depoimento de uma aluna, por exemplo, que foi filmada por um celular no banheiro, a gente sabe o quanto isso dói, o homem não sabe. Acho que isso é um demarcador.
NC – A senhora é a presidente da Andifes, a Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior como está sendo sua gestão?
AC – Não sou a primeira mulher, tivemos a professora Maria Lucia, lá no passado tivemos a professora Vrana, do Rio Grande do Sul. A professora Maria Lucia me antecedeu na gestão, mas como na Andifes se reproduz de fato o que acontece nas universidades, majoritariamente, ou seja, em toda a sua vida, em 28 anos de Andifes, a quase totalidade de dirigentes era masculina, de presidentes reitores. É um desafio maior do que gerir a universidade, porque aqui estamos com nossos pares, lá (na Andifes) estamos com os “ímpares” que representam seus pares que são diferentes dos nossos. Então é uma tarefa bastante difícil eu fiz parte da diretoria anterior com a professora Maria Lucia, eu era vice-presidente, com isso eu treinei um pouco, foi como um “teste drive”. A gente recebe a confiança pela forma como fui eleita, numa eleição majoritária, não tivemos nenhuma outra candidatura, isso nos dá bastante confiança de que as pessoas estão acreditando em nós. Mas os desafios existem, muitas vezes nos sentimos testadas, digamos assim. Na universidade, no inicio da gestão, percebia alguns olhares que eram de desconfiança, desconfiando se poderia dar certo ou não porque você é mulher, as vezes a gente sente assim. Não posso dizer isso da Andifes, lá é um desafio muito grande porque somos poucas mulheres, somos muito mais hoje, acho que mais de 20, porque houve uma movimentação grande, uma substituição bastante grande pelo menos 10 universidades estão mudando de gestão nos últimos meses. Na maior parte desses anos nós tínhamos 6, 7 mulheres reitoras quando às vezes menos. Então, as comunidades estão se movimentando, a UFRN aos 55 anos teve uma reitora mulher, há muitas universidades perto dos 80, 100 anos que ainda não tiveram uma reitora mulher, isso é muito prototípico de uma sociedade patriarcal. As mulheres no Brasil, as estatísticas mostram que nós temos em termos de formação em nível superior, somos mais mulheres qualificadas em certas áreas do que homens, mas os cargos em geral não são assumidos na mesma proporção da qualificação como também na quantidade de pessoas bem formadas naquelas áreas, isso no setor público. Se a gente olhar o setor privado, ou onde não há plano de carreira, as mulheres são contratadas, muitas vezes, para os mesmos cargos que os homens, com salários menores. Ainda há muita diferença a ser resolvida, ainda há muito que se conquistar em termos de igualdade.
NC – Na ciência, ainda são poucas mulheres que abraçam a carreira de cientista. A senhora vê um caminho para mudar isso?
AC – Acho que tem que haver indução, editais separados, bem como políticas específicas. Se eu fizer um paralelo com a universidade, por exemplo, na questão da pesquisa no interior, no início se a gente não tivesse feito editais diferenciados com a inclusão dos pesquisadores do interior, alguns deles em algumas áreas não concorreriam, perderiam sempre para os colegas de área do campus central. Portanto, é preciso haver indução, fazer editais para mulheres e com isso permitir que elas avancem tanto quanto.
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