Explorando a criatividade negocial e insights generativos, este artigo desmistifica a teoria do caos aplicada à inovação. Descubra como o método Triztorming e a heurística do caos podem gerar insights poderosos e soluções criativas para problemas negociais, utilizando conceitos como P2S3, contradições e caos determinístico.
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Relembrando…
Nossa jornada GenI (Generative Insights ou insights generativos), teve início na AC O que é criatividade negocial?. Nela tentei convencer a audiência de que esse tipo de criatividade é puramente reativo, o que levou a celeuma para outro patamar: sendo assim, quem é o responsável por gerar tal criatividade? Então, numa manobra ninja radical a la GBB-San, propus o insight como sendo o elemento generativo, o que, por sua vez, criaria uma questão cíclica, a da necessidade de se ter uma criatividade pré-instalada capaz de gerar insights que, por sua vez, acionariam a criatividade. Mas aí, indo pro nível xogum extremo, sugeri que o insight deveria atuar como um promovedor de problemas (externo, já na praça, ou interno, autogerado), e a criatividade negocial – uma reação –, a tentativa de resolvê-lo. Ciclo galinha-ovo quebrado! (acho que o termo “desfeito” ficaria melhor, hehehe). Não é à toa que me chamo, quis dizer, me chamam de GBB-San.
Porém, antes de efetivamente aprendermos a fazer brotar insights generativos em prol da criatividade negocial, precisou-se apresentar alguns jargões à audiência, o que fora feito em Gerando os próprios insights negociais – parte 1. Agora, e finalmente, após serem aceitos (ou não) os conceitos de negócio, problema, P2S3, consciente, subconsciente, inconsciente, heurística e contradições técnicas e física, chegamos aqui, com capacidade plena (espera-se!) para promovermos insights jamais vistos em nossa coluna. Vamos nessa então.
Um adendo: não se preocupe com a falta de familiaridade com o termo GenI (a pronúncia é pra ser “jinái”, pra ficar chique, e não “jeni”.), pois eu também não estou, uma vez que o inventei durante a escrita desta AC. O motivo? Como tudo que chama a atenção agora tem de ter IA, me inspirei na GenAI, Generative AI (Inteligência Artificial Generativa) e dei meu jeito de não ficar pra trás. Portanto, ao longo dessa AC, quando virem “GenI”, saibam que me refiro ao “Generative Insight”, termo mundialmente famoso a partir de hoje. Massa?
Caos, um ser determinístico
Na AC Domando a natureza caótica da Inovação, trouxe um conceito que deixou espantada a maioria dos leitores. De lá, trago esse trecho:
A teoria do caos é um campo de estudo em matemática, com aplicações em várias disciplinas, incluindo física, engenharia, economia, biologia e filosofia. Trata de sistemas complexos e dinâmicos rigorosamente deterministas, mas que apresentam um fenômeno fundamental de instabilidade chamado sensibilidade às condições iniciais que, modulando uma propriedade suplementar de recorrência, torna-os não previsíveis na prática a longo prazo. Pequenas diferenças nas condições iniciais produzem resultados amplamente divergentes para tais sistemas dinâmicos, tornando a previsão a longo prazo impossível, em geral. Isso acontece apesar de estes sistemas serem deterministas, o que significa que seu comportamento futuro é determinado por suas condições iniciais, sem elementos aleatórios envolvidos.
Em outras palavras, a natureza determinista desses sistemas não os torna previsíveis. A alta sensibilidade às condições iniciais dá a característica de instabilidade, o que faz com que seja incorretamente confundido com um sistema aleatório. Mesmo em sistemas nos quais não haja ruído, erros microscópicos na determinação dos estados inicial e atual do sistema podem ser amplificados, levando a comportamentos futuros de difícil previsão. É o chamado “Caos Determinístico”, muito confundido com aleatoriedade. É ou não é a descrição de Inovação?
O motivo para trazer este conceito caótico à tona vai ficar claro agora: para mim, promover o caos, partindo de coisas determinísticas, é a melhor forma de gerar problemas negociais, o DNA dos insights. Ainda não tá claro, né? Sigamos então.
Orquestrando o próprio caos, a fórmula para criar bons problemas!
A metodologia Triztorming faz uso de 25 geradores de insights. Além de outras técnicas, muitos são embalados pelo caos. O mais querido (não é o time ABC do RN, ilustres!) é o i9W, ou insight nine windons, já apresentado aqui. O principal motivo, segundo confissões de quem o utiliza, é sua simplicidade: fácil de aprender, eficaz e dá até pra bolar coisas de cabeça.
Escolhendo a semente. Olhe para o mercado, ou um projeto em particular, e pense em, pelo menos, um dos itens de um P2S3 (processo, produto, serviço, startup, squad) que você tenha interesse em interferir. Vamos chamar sua escolha de semente. Coloque-a na célula A (vide figura). Em B, identifique as partes que a compõem. Esta semente está em algum contexto, que deve ser descrito em C. Feito isso, volte para A e pense como a semente era no passado; isso vai para D. Seus componentes são colocados em E e seu contexto passado em F. Agora você tem um quadro com presente e passado, e seu subconsciente, que é cerca de 250 mil vezes mais veloz que o seu consciente, começa a ter insights de como foi feita a progressão dessa semente do ontem para o hoje. Com isto em (sub)mente, você começa a ter devaneios do que colocar em G, a potencial semente aprimorada. Descreva seus componentes e deposite na célula H. Você agora tem 8 células preenchidas para “brincar” e tentar preencher a cereja do bolo: a célula I, que poderia muito bem significar “inovação”. No entanto, é o contexto futuro que será ocupado pelos frutos gerados pela semente inicial, o seu “novo” P2S3; ou o que ele criará!
De posse do conteúdo das 8 células (A-H), promova o caos, pela recombinação não familiar de coisas familiares. Rode a Heurística do Caos enquanto a mistura de células for de fácil resolução, pois, enquanto assim estiver, indica que o problema já foi resolvido por alguém. Observe que, até aqui, a heurística não foi feita para promover criação. Ela está balançando com força total seu subconsciente com insights determinísticos produzidos exclusivamente por você mesmo; by yourself. Imagina o que pode surgir com a junção de mais cabeças?
Um exemplo pra “fixar os insights”
Montando o circo. Suponha que a semente escolhida fora o carro elétrico. Ele vai para a célula A. Em D cabe, tranquilamente, um carro a combustão. Mantendo este exemplo, em B haveria bateria, pneus, computador de bordo etc.; em C, vias, ambientes sem CO2, abastecimento elétrico e por aí vai. Da célula D, desço à E e escrevo seus componentes: pneus, motor a explosão, carenagem etc. Seguindo a mesma lógica, em F eu teria um ambiente com CO2, vias sujas e postos de combustíveis, por exemplo. A coluna do passado está ok. Agora vamos aos futuros desejados. Partindo de A, posso sugerir drones, carros com células de hidrogênio, veículos feitos à base de grafeno etc. Em H suas respectivas estruturas: hélices, controles inteligentes e por aí vai. Em I, poderia criar um mercado, uma estrutura que abastece o carro por indução; vias aéreas exclusivas para drones e o que a imaginação der. Fechada a coluna do futuro, têm-se mais 08 possibilidades para trabalhar futuros incrementais; 08 novas oportunidades. Pode-se, por exemplo, escolher-se umas das células, transformá-la em semente e começar outra i9W. Observe que a expansão a partir de uma dada semente não tem fim.
Gerando insights: a heurística do caos. Agora é hora de “Caosar”. Foi mal o trocadilho! Utilizando os conteúdos produzidos, podemos escolher qualquer combinação de duas, três ou até quatro células ao acaso, e tentar associá-las de maneira a poderem representar uma única semente. O que poderia surgir da associação das células A-H-I-E (carro elétrico & Hélice & abastecimento por indução & motor a explosão)? Vou dar uma sugestão: carro com motor híbrido, que utilizasse etanol (renovável, requisito do futuro) e uma hélice – em alguma parte de sua estrutura – capaz de converter o movimento do fluido do ar (que passa por ela) em energia elétrica, usando um motor de indução. Não sei se faz sentido, pois cabe refinamento, mas é um ótimo insight radical gerado. Num ponto como esse, eu sairia do loop da heurística e iria para a caixa vermelha da figura: acionaria a criatividade negocial.
Tocando fogo no parquinho: provocando contradições
Se você ainda não achou radical a simples aplicação do caos no i9W, pode-se ir mais longe e inverter a função da semente escolhida, recomeçando a heurística do caos para gerar novos insights. No caso em voga, coloque em A um anticarro elétrico. Pra começar, eu nem sei o que seria esse treco! Escolhido isso, progrida misturando as células do + i9W (convencionais) com as do – i9W (invertidas). A mistura dos insights opostos gerará contradições, que podem ser apenas técnicas (condições conflitantes) ou físicas (características opostas que terão de ser resolvidas). Garanto a você que os insights gerados serão insanos. As soluções, se ocorrerem, serão classificadas como criativas, tenho certeza, e você ainda poderá utilizar IAs para te ajudar nas buscas por respostas.
Finalizando
Utilizando como semente o P2S3, a mente consciente, o subconsciente, uma heurística simples, contradições e caos, conceitos aparentemente complexos, em um trio de aulas conseguimos produzir um método capaz de gerar insights infinitamente. Despertar sua criatividade negocial é apenas uma questão de tentar resolver o que você mesmo criou. Apenas uma reação. Dito dessa forma, e sendo técnico (ironia, claro!), os mais criativos serão aqueles com menor grau de preguiça. Albert Einstein e Steven Jobs, caso estivessem neste plano, com certeza recomendariam estas três ACs sobre criatividade condensada.
Leia o texto anterior: Gerando os próprios insights – parte 1
Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e gerente executivo da incubadora inPACTA (ECT-UFRN)
Excelente, Obrigada por compartilhar suas ideias.
Saudações, Partner!
Obrigado pelo apoio de sempre!
Boa, capitão!
O caos é uma escada, não é um abismo.
Saudações, Cmdt Ramon!
Gostei do aforismo. Vou usar!
Thanks, brother.