Pisoteio de animais é responsável em grande medida pela degradação do solo
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As terras áridas constituem aproximadamente 41% da superfície da Terra, das quais 10 a 20% estão degradadas, afetando cerca de 250 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, as terras secas compõem a região semiárida mais populosa do mundo, com aproximadamente 28 milhões de pessoas. Esta região é coberta pela Caatinga, bioma brasileiro exclusivo que abrange 844 mil quilômetros quadrados, o que corresponde a aproximadamente 10% do território nacional.
Estudo publicado na revista Applied Soil Ecology analisou o impacto da desertificação da Caatinga e constatou que a restauração de áreas pode restabelecer no solo índices físicos, químicos e biológicos próximos de sua composição original. Mas o estudo mostra também que a degradação reduz em mais de 50% a funcionalidade do solo, reduzindo a capacidade de sustentar o crescimento das plantas e promover bem-estar humano e animal. Outra consequência apontada no artigo é a diminuição do sequestro de carbono.
Exclusão de pastagem
Foram analisadas 54 amostras de terra obtidas em temporadas de seca e de chuva, em três diferentes territórios do Núcleo de Desertificação de Irauçuba, no norte do Ceará, sendo que cada um deles conta com áreas de vegetação nativa, degradada e restaurada.
A redução de mais de 50% na funcionalidade do solo foi calculada por meio de diversas análises físicas, biológicas e químicas em áreas degradadas pela ação humana. Do ponto de vista físico, observou-se que o comprometimento do solo é causado, principalmente pela compactação do pisoteio dos animais.
“O estudo ressalta a importância de implementar a exclusão de pastagem como uma medida estratégica para aumentar a cobertura vegetal e melhorar a saúde do solo em regiões de terras secas”, explica Antonio Yan Viana Lima, doutorando na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP) e primeiro autor do artigo.
Redução da porosidade
De acordo com o pesquisador, o pastoreio reduz a porosidade, impedindo a infiltração de água e, consequentemente, acaba acelerando o processo de erosão do solo. “Do ponto de vista biológico, os indicadores de composição microbiana, teores de carbono e atividade enzimática mostraram-se favoráveis para o crescimento da vegetação e para o sequestro de carbono”, detalha Lima. “Mas vimos pouca variação dos indicadores químicos entre as áreas estudadas, inclusive entre aquelas restauradas e degradadas. Isso demonstra que os componentes biológicos são importantes indicadores de saúde do solo, porque prontamente respondem a perturbações humanas”, complementa.
“Nas áreas restauradas, constatamos que, ao impedir a ação do homem, é possível atingir índices físicos, químicos e biológicos próximos de sua composição original”, conta Arthur Pereira, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do estudo.
Restauração
As áreas restauradas, segundo ele, são campos que há mais de duas décadas foram totalmente cercados no intuito de impedir a ação do homem e a circulação de animais. Nesses campos, não foi plantada nenhuma espécie, porque a proposta era verificar como e se a vegetação conseguiria se regenerar naturalmente sem essas interferências.
“O interessante é que os resultados das análises nessas áreas, em todos os aspectos, foram muito próximos do que se viu nas áreas de vegetação nativa. Assim, ao longo de duas décadas, está sendo possível recuperar a saúde do solo, o que pode ser promissor ainda para o sequestro de carbono, uma vez que essas terras registraram maiores valores de estoques de carbono total e microbiano”, afirma Pereira.
Metodologia
O estudo utilizou a ferramenta Soil Management Assessment Framework (SMAF) no semiárido. Usada para avaliar a saúde do solo, essa ferramenta se baseia em cálculos, realizados por algoritmos, que colocam os resultados dos fatores analisados em uma escala de 0 a 100, sendo 100 o mais positivo. E, a partir disso, chega a um número final que corresponde a um índice de saúde do solo.
Os pesquisadores tem financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Estadual de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ceará (Funcap).
Caatinga perdeu 8,6 milhões de hectares de vegetação nativa
Com informações da Agência Fapesp
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