Acesso aberto a publicações científicas Ciência Nordestina

terça-feira, 27 agosto 2024
(Foto: Viktor Braga/UFC)

Promoção da democratização do conhecimento X custos financeiros: quem vai pagar a conta?

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O discurso parece convincente em um primeiro momento, quando se diz que o conhecimento deve ser acessível a todos. Neste ponto não há como discordar. A questão implícita está no caminho que se segue para chegar ao acesso livre às publicações científicas. Para entender o problema, vamos conduzir o leitor por todo o trajeto que se segue desde a construção do laboratório até o ato de publicar um artigo, permitindo com que o mesmo tire suas próprias conclusões.

A caminhada acadêmica formal começa com o sonho de fazer ciência, produzir conhecimento. Para isso, se faz necessária a conclusão do doutoramento, de tal forma a permitir o acesso às concorridas chamadas públicas por equipamentos e instalações. Quando bem sucedido, o laboratório começa a ser construído e passam a ser atraídos os primeiros estudantes de pós-graduação. Surgem os primeiros resultados, que são normalmente divulgados em congressos e discutidos entre os pares. Na sequência, o amadurecimento dos resultados deve permitir que a descoberta seja submetida à publicação em periódicos da área.

Publicação do trabalho

O trabalho passa então a ser analisado por revisores que lançam seus questionamentos e sugestões de melhoria. Uma vez bem sucedidos em suas argumentações, os autores logram êxito e conseguem ver seu trabalho publicado na respectiva revista científica. Porém, antes que isso aconteça, para que as pessoas possam ler livremente seu trabalho, o autor deve pagar as taxas de publicação que por vezes chegam a 4.500 dólares.  

 A pergunta que surge imediatamente é: Ora, se o resultado merece publicação porque pagar por isso? O pesquisador que decide publicizar seu artigo ainda precisa buscar recursos para pagar pela publicação de seu trabalho.

Dessa forma, a política de acesso livre tem um lado democrático (o acesso à informação por parte de toda a população) e um limitante grave (para o pesquisador que percebe que conseguir recursos para publicação é bem difícil).

Open access

Com a tendência de conversão dos periódicos para o modelo de acesso livre (do inglês open access) surge uma questão relevante para o processo: quem pode fazer pesquisa no planeta? Além de financiar a pesquisa e as bolsas, o governo ainda precisa dispor de recursos para tornar público os resultados de seus pesquisadores.

Em tempos de lençóis curtos, pagar mais de 20 mil reais por artigo publicado não parece ser uma saída interessante para uma nação em reconstrução científica. Manutenção de equipamentos, reagentes e insumos são muito necessários. Chegamos em uma encruzilhada conceitual em que o conceito de open access passa a limitar o desenvolvimento científico de países com política científica ainda em consolidação. O que fazer?

Leia o texto anterior: Onde está o conhecimento?

Helinando Oliveira é Professor Titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciências

Helinando Oliveira

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