Gerando os próprios insights negociais – parte 1 Disruptiva

quinta-feira, 22 agosto 2024

Crie algo que goste e seja feliz ou contamine muitas pessoas com esse algo e seja sustentável. É necessário optar por uma dessas duas frases?

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No capítulo anterior…

Tá legal, moçada, pode “só” parecer clichê, mas é uma frase que me persegue desde a infância, e sempre quis ter oportunidade de dizê-la. Vou continuar então!

… defendi que a criatividade negocial nada mais é do que uma reação a insights oriundos do mercado e, como tal, “… pode ser ensinada, aprendida ou aprimorada.” Para a AC de hoje, prometi mostrar métodos sistemáticos que desenvolvi para gerar insights radicais. Entretanto, na ânsia de fazer isso, esqueci da necessidade primeira de adequar a estrutura mental da audiência aos conceitos que utilizo, frequentemente, de modo não muito convencional. Isto poderia tornar os métodos incompreensíveis, daí a necessidade de dividir esta AC em duas partes. Outra nota importante: aqui me refiro apenas à criatividade negocial. “Se tu, mortal, desejares utilizar tais dicas em prol de tua arte ou de tua comédia, saiba que os danos pelas eurecas provocadas correrão por tua responsabilidade!”. Mas, claro, você pode tentar, pois o ato de inovar é o que alimenta esta coluna. Vamos às adequações necessárias então!

Negócio e Problema

Sem dúvida, termos batidos e tacitamente compreendidos. Mas você já mergulhou no cerne da questão, na etimologia dessas palavras? Vejam como é importante entender de onde vieram, para saber onde podemos chegar. Recorri então ao site Etimologia e encontrei:

  • Negócio. Identifica-se no latim como negotium e sua desconstrução expõe os elementos: o prefixo neg- remete à palavra negare em latim, contemplando-se como negar, sobre uma raiz indo-europeia que expressa o “não”; e otium, que se relaciona ao lazer e, consequentemente, à ideia básica de não fazer nada além de dedicar o tempo a si mesmo. Em poucas palavras, em seu sentido literal, um negócio é qualquer atividade que não está destinada ao lazer, mas sim à produtividade econômica.
  • Problema. Representa um obstáculo a ser resolvido à frente, para que se possa avançar. Sua origem etimológica provem do latim em problēma, sobre o grego em próblēma, conjugando o prefixo pro-, interpretado como adiante, acompanhado pelo verbo ballein, por lançar, sobre a raiz indo-européia *gwele-, por puxar, e o sufixo -ma, como agente de resultado.

Resumindo: (i) tudo aquilo que fazemos e não envolve ócio é um negócio; (ii) tudo que nos impede de avançar é um problema. Escrito isso, coloco duas questões:

  • Faz sentido criar negócios ou ciência sem que haja um problema, sem algo à frente que nos incomode ou nos faça reagir?
  • Você consegue diferenciar “fazer ciência” de “fazer negócio”?

Galinha e Ovo

Alguém poderia levantar a seguinte questão cíclica: “Para gerar insights negociais, eu já não teria que ser criativo?”. E a resposta é “Não!”. Essa predisposição à criativa convencional pode te ajudar muito na geração de coisas ligadas às áreas que apontei, como artes e comédia, mas não muito para as questões relativas a mercado ou até para a própria ciência, uma vez que, etimologicamente, ambos são negócios.

Para os conceitos de negócio e problema aqui apresentados – que você não sabia, né não? –, são necessários fatores ou propósitos impulsionadores que movimentem o poder de criação ou de resolução pois, do contrário, os resultados transformar-se-iam em arte ou comédia (essa última, com maior frequência). Podemos criar poesias, quadros, música etc. por pura inspiração, conduzidos por nenhum propósito. Já para o mercado, e para a ciência – embora boa parte dos cientistas trabalhem mais para adoçar o próprio ego –, não há racionalidade em criar apenas “por criar”. Nestes termos, defendo que a criatividade negocial não precisa de musa, mas de coisas que promovam reação. A reação catalisa a criação. Assim, o insight vem antes e a criatividade negocial surge como sua consequência. Causa-efeito. Promova um bom insight e, fatidicamente, você será obrigado a criar algo.

P2S3

Em termos negociais, costumo operar em cinco dimensões: Processo, Produto, Serviço, Startup e Squad, o que batizei de P2S3. De forma sintética, o processo envolve uma sequência de atividades dentro de algo. O produto pode ser definido como um artefato físico ou digital. Serviço é alguma atividade humana que satisfaz a uma necessidade sem assumir a forma de um bem material. Já o termo squad, mais moderno, aplica-se a um pequeno grupo de profissionais multidisciplinares destacados para trabalharem juntos e entregar um produto ou serviço específico, mas com tempo de duração predeterminado. E quando a intenção é fazer tudo isso, em um só lugar, de modo arriscado e com a intenção de criar algo para escalar no mercado, aí eu chamo de startup. Os métodos que apresentarei na próxima AC serão aplicados ao P2S3.

Consciente, Subconsciente e Inconsciente

Em Criando coisas com o mais poderoso dos brainstormings , falo de lógica e criatividade e sobre os lados esquerdo e direito do cérebro que dominam, respectivamente, essas atividades. Mostro também como estimular o subconsciente para que trabalhe a nosso favor pois, embora faça parte da nossa consciência, não está ativamente em nossa percepção focal, porém armazena lembranças recentes e mantém-se em contato com o consciente e o inconsciente. Infelizmente, não podemos simplesmente “convocá-lo” – pelo menos não diretamente –, como fazemos com a mente consciente, responsável pela nossa cognição e tomada de decisões. Por último, e o mais importante para Freud, há o inconsciente, uma espécie de piloto automático da mente, que opera sem dar satisfação alguma ao consciente. Ele armazena memórias profundas, experiências esquecidas ou reprimidas. É onde residem as neuroses e distúrbios mentais, responsável por não te deixar dormir mesmo quando você, conscientemente, tenta esquecer aquele boleto não imaginário.

Para os conceitos de negócio e problema aqui apresentados, são necessários fatores ou propósitos impulsionadores que movimentem o poder de criação ou de resolução pois, do contrário, os resultados transformar-se-iam em arte ou comédia.

E por que eu invoquei estas estruturas mentais em uma AC sobre criatividade negocial? Porque nosso departamento consciente trabalha numa média de 40 bps (bits por segundo) e nosso “setor sub” numa velocidade de 11 Mbps (milhões de bits por segundo) . Ou seja: se pudermos acionar o “sub”, conseguiremos resolver problemas 250.000 vezes mais rápido do que conscientemente. É por isso que você dorme com uma bronca e acorda com uma solução (ou, pelo menos, achando que é). O insight autogerado que desenvolveremos tem de mostrar essa habilidade, a de convocar o “sub”, nosso melhor processador.

Heurística

Na AC Você já ouviu falar em H.A.? trago este conceito:

Heurísticas são processos cognitivos empregados em decisões não racionais, sendo definidas como estratégias que ignoram parte da informação, com o objetivo de tornar a escolha mais fácil e rápida. Este conceito nos diz que nosso cérebro é perito em buscar atalhos mesmo com informações incompletas. Não para resolver as “equações” em si, mas para buscar as ferramentas. Utiliza para isto esses passos fundamentais:

  • Procura – As decisões são tomadas entre alternativas e por esse motivo há uma necessidade de procura ativa.
  • Parar de procurar – A procura por alternativas tem que terminar devido as capacidades limitantes da mente humana.
  • Decisão – Assim que as alternativas estiverem encontradas e a procura for cessada, um conjunto final de heurísticas são chamadas para que a decisão possa ser tomada.

Vamos utilizar essa heurística para mandar processamento para o subconsciente. Assim, conscientemente criaremos os insights e subconscientemente processaremos as alternativas. Será divertido.

Contradições Técnica e Física

Pegando o “gancho” na frase de Heráclito de Éfeso (540 a.EC), “O pensamento sempre funcionou por oposição!”, e com base na Teoria TRIZ, cujos conceitos chegaram a mim por acidente há uns 15 anos, sei que a melhor forma de alimentar insights conscientemente e com método está na promoção de heurísticas geradoras de contradições técnicas (duas partes conflitantes de um sistema) e físicas (impossibilidades excludentes: características opostas e simultâneas).

A criatividade negocial não precisa de musa, mas de coisas que promovam reação. A reação catalisa a criação. Assim, o insight vem antes e a criatividade negocial surge como sua consequência. Causa-efeito. Promova um bom insight e, fatidicamente, você será obrigado a criar algo.

Desenvolvendo durante 10 anos uma metodologia para criatividade negocial utilizando este princípio, posso garantir com veemência que funciona. Muito em breve, as 300 páginas do livro Triztorming endossarão o que digo. Portanto, já adiantei a fórmula que usaremos para criar belos insights.

Finalizando…

Os conceitos “enquadrantes” de mindset estão postos. Só precisaremos agora brincar conscientemente com algumas regrinhas que apresentarei na próxima AC para gerar insights radicais e forçar a criatividade negocial a trabalhar. Para quem tem criatividade convencional, quem é, digamos assim, naturalmente inspirado, deixo uma frase de efeito: Crie algo que goste e seja feliz! Para quem quer trabalhar a criatividade negocial, deixo um conselho: Contamine muitas pessoas com esse “algo” e seja sustentável! Nós, empreendedores, preferimos a segunda frase. Se pudermos combinar ambas, não precisaremos mais trabalhar.

Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e gerente executivo da incubadora inPACTA (ECT-UFRN)

Gláucio Brandão

2 respostas para “Gerando os próprios insights negociais – parte 1”

  1. Yuri disse:

    Impossível ler essa aula e não ficar pensativo. Obrigado, grande GBB San!

  2. Gláucio Brandão (GBB-San) disse:

    Cmdt. Yuri, meu brother! Há quanto tempo, rapaz?
    Sou eu quem agradece o apoio e às visitas a sala de aula.
    Se gostou dessa, vai ter mais insights ainda com a AC (aula condensada) da próxima quinta.
    Grande abraço.

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