O futuro precisa ser suportado pela mistura dos saberes com um conceito de inclusão amplo, ressignificando até mesmo o conceito de sustentabilidade
O Brasil viveu nesta ultima semana (29 julho a 01 de agosto de 2024) a culminância de sua 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI) em Brasília (DF). Para além de um debate rico sobre o futuro de nosso país, este foi, principalmente, um momento de reforçar as esperanças de que ainda podemos seguir sonhando com um futuro melhor para o nosso povo.
E este futuro precisa ser suportado pela mistura de saberes (tradicionais e produzidos pela academia) com um conceito de inclusão amplo, ressignificando inclusive a sustentabilidade, que não deve apenas ser vista como descarbonização, mas como uma ferramenta que respeite a população que é afetada pelas soluções ditas “verdes”.
Um exemplo disto é a energia eólica e seus impactos na população sertaneja nordestina. A tecnologia deve estar cada vez mais a serviço do planeta, afinal, o conceito de ‘ciência única’ precisa considerar os efeitos de seus produtos sobre o meio ambiente, seres humanos e animais, de maneira integrada, uma vez que o desequilíbrio em qualquer um destes afeta todo o resto.
Desenvolver uma ciência comprometida socialmente é também permitir com que as pessoas se apossem de seus resultados, retornando com os novos rumos que de fato interessam ao planeta. Este fator inclui uma visão completamente nova para divulgação científica, que não pode e não deve ser vista como uma via de mão única da academia em direção à sociedade.
Por incrível que possa parecer para a academia, excelentes divulgadores de ciência também estão fora das universidades. A colonização que se tenta consolidar (conhecimento transbordando da universidade para a sociedade) não precisa ser regra geral, no que se deve estabelecer com a democratização do ensino superior e a mudança no perfil do estudante da universidade pública, quebrando os paradigmas das elites que tradicionalmente acessam o ensino superior. Todo esse processo de inclusão e responsabilidade ambiental é fundamental para que os cientistas tenham a visão clara de que em um país independente, o mercado é despersonificado e muito menos importante nas decisões de fato democráticas. A ciência pode e deve ser ferramenta de remediação de todo o dano gerado pela espécie humana no planeta, alimentada pelas necessidades reais das pessoas e não das elites.
Leia o texto anterior: A ciência nordestina voltou
Helinando Oliveira é Professor Titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciências
Helinando Oliveira
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