… nem professores. Apenas empreendedores inovadores!
“Opa, espera aí GBB-San! Sobre o que falas?”. Deixa eu começar essa história desde o começo então, para que vocês saibam porque estamos aqui e, por mais que ainda não nos compreendam, não vamos parar!
O ano era 2007. Tudo começou… Melhor: deixa eu encurtar esse papo e trazer uma passagem que depositei em Mas afinal, o que é um “Mestrado ancorado em uma Incubadora?”, lá dos idos de 2018. Portanto, reportem-se àquela época. Para facilitar a anacronia, vou colocar as datas entre colchetes. Segue a viagem:
“Há cerca de 10 anos [2007], depois de um ano de try and error, sobre pau e pedra, foi aprovado o primeiro projeto de incubação oficial da UFRN, o NATA. A ideia era criar um ambiente propício para geração e apoio de novos empreendimentos, a reboque da Lei 10.973/2004 – Lei de Inovação, a qual tinha por missão lançar o Brasil, ou pelo menos abastecer a nave, em direção ao que o Porto Digital(Recife) faz há uns 20 anos [Projeto(1990)- Fundação(2000)] e a galera da Stanford University faz há cinco décadas no Silicon Valley [1950]. Bom, esse recém-nascido, cujo nome refere-se à parte mais alta do leite talhado, forçando um trocadilho, sobreviveu à incubação. Pouco tempo depois, e havendo a necessidade de regulamentar todo o processo já em curso há quatro anos, conseguimos aprovar a Resolução CONSEPE 054/2011, a resolução que regulamentava a incubação de empresas na UFRN. Era uma manhã de um 31 de Maio [2011] magnífico, no qual um Conselho Superior composto por uns 40 conselheiros, técnicos administrativos e alguns estudantes emitiam em quase uníssono a ‘calorosa’ frase: “Vamos tirar isso de pauta!”. [Nota: tirar de pauta a proposta de incubação de empresas de base tecnológica na UFRN. Nem ouvir queriam…] Bom, se o começo foi na base de madeira e feldspato [Nota: paralelepípedo], nesse dia senti uma chuva de meteoros, já que era eu o arauto que estava empunhando o papiro em nome do grupo do empreendedorismo acadêmico. Bons tempos aqueles (ainda bem que não voltam)… Mas a razão prevaleceu, esse fato virou história e hoje a UFRN é reconhecida como uma universidade empreendedora. Em 2013 a Resolução CONSEPE 089/2013, a qual dava uma ‘guaribada’ na anterior, passou com louvores, como se fosse algo do DNA da instituição. Está em vigor até agora. Nessa época o NATA virou INOVA Metrópole. Depois criamos a BIO INOVA, a TECNATUS, a inPACTA e a i9Agrotec. Expliquei então a pedra fundamental da estrutura que defendo. Agora vamos à questão da formação”.
Mais do que professores…
Bom, para quem achava que os docentes da ênfase Negócios Tecnológicos (NegTec) eram apenas teóricos com enrustição empreendedora, vejam “o quilo de sal” que tivemos que comer para que hoje, 05 incubadoras depois, cursos de graduação e pós, parque tecnológico e outras coisas que esqueci, fossemos reconhecidos como a 1ª universidade mais empreendedora entre quatro regiões do país. Mais adiante, vou tentar explicar também porque esse nosso espírito “enrustido” ainda é necessário e porque, exatamente por isso, estamos “eliminando” os estudantes e professores de nossa ênfase, que inclui também o MPI, Mestrado Profissional em Ciência, Tecnologia e Inovação, e a incubadora inPACTA. Vai ser libertador!
Sobre nosso mestrado, o MPI.
Da mesma AC histórica: “Empolgados com este sucesso, já que toda cicatriz conta uma história e é mais robusta do que a pele anterior, partimos para outros vôos. Percebendo que o novo ecossistema que estava por aflorar começava a mostrar um aumento na demanda dos empreendimentos e uma proporcional diminuição na qualidade científico-metodológico no perfil dos respectivos empreendedores, o Grupo de Negócios Tecnológicos (GNT), capitaneado pela Professora Zulmara Carvalho, consegue aprovar o Mestrado Profissional em Ciência, Tecnologia e Inovação, o ‘potiguarmente’ famoso MPI. Era um novembro de 2014 e, segundo a lenda acadêmica, foi o primeiro mestrado de inovação pura aprovado em Instituição Federal de Ensino Superior (IFES). Começamos a rodá-lo em Novembro do ano seguinte, tendo na primeira chamada mais de 150 inscrições. Diferentemente do que se pensa, o mestrado é totalmente aberto à sociedade, não havendo necessidade alguma de vínculo acadêmico com a UFRN, nem perfil definido. Lidamos com a ‘inter-multi-trans-pré-pro-etc’- disciplinaridade como se fosse requisito obrigatório para entrada no MPI. O único item básico – além de diploma de qualquer instituição de ensino superior reconhecida pelo MEC, claro – é ter perfil empreendedor inovador. E como garimpamos isto? Outra inovação: o candidato manda pra gente um projeto em quatro páginas, sem formato definido e, se aprovado, defenderá sua proposta em um pitch elevator de 5 minutinhos. Dá pra observar muita coisa daí. O corpo docente tem de jornalista a médico, passando por engenheiros e designers, bioquímicos, economistas, ambientalistas, advogados. O corpo discente, em sua quarta turma, com mais de 100 ‘cabeças’, entre formadas e em formação, é de uma diversidade de difícil descrição. Isso é o que torna o MPI belo e único. As ideias pululam o tempo todo. Essa ‘densi-diversidade’ é a que realmente alimenta a inovação. Pronto, falei da outra parte: a formação. (Juntando as coisas). Uma vez que o GNT foi o pioneiro na incubação de empreendimentos e na pós-graduação inovadora na UFRN, e estando coordenando estas duas ações, resolveu-se por dar um outro passo inovador: fazer o combo. Ora: percebemos que a Ciência não é um fim, mas um meio. Percebemos que o empreendedorismo inovador tem a Ciência como arcabouço. Observamos que muitas ideias férteis vêm de fora da universidade, faltando apenas um ‘trato’ científico. E, mais ainda, temos a convicção de que tudo isso necessita de método acadêmico. Assim, reformulamos em 2016 o componente de 120 horas do MPI Estágio Gestor, EG, para ser o elo entre o MPI e nossa incubadora, a inPACTA, já que nesse componente o mestrando tem de mostrar sua veia gerenciadora de inovação. Nasce aí o binômio MPI-inPACTA, um mestrado ancorado em uma incubadora, o qual, de acordo com a ‘segunda lenda’, é o único mestrado no Brasil no qual o passageiro tem por um dos produtos a criação de um processo de startup. Bom, “re-inovamos”. Se nadamos contra a maré ao iniciarmos a incubação na UFRN, imagine agora, ao querer formar metodologicamente cientistas empreendedores? É ver pra crer. E os resultados nos abonam [2018]”.
Olhando hoje para a quantidade de iniciativas que nossos estudantes de graduação e pós estão envolvidos, encabeçando ou premiados (vou poupar vocês dos links, pois naquela AC história, já em 2018, existiam bastante): Startup NE, Centelha, Investimentos internacionais, Shark Tank, Inovativa, SEBRAE, Campus Party, gerindo os próprios negócios, desenvolvendo ações para entidades públicas e privadas, realizando contratos de transferência de tecnologia etc., e mais de 200 startups passadas pela UFRN depois, vejo que criamos alguma autoridade, e por isto continuamos abonados!
CinO’s, as cabeças que passam por aqui!
Depois desse aprendizado, um novo formato de empreendedor começou a ser forjado no MPI. Entendemos que poderíamos “ensinar e aprender” um empreendedorismo de alto nível. Nessa linha nasceram os mestrandos empreendedores inovadores, CEO cientistas, ou como chamávamos por aqui Chief Innovation Officers (CInO), nossos gestores de inovação, cujo o termo utilizávamos sem saber de sua remota origem lá dos anos 1998, segundo a Wikipedia. Essa galera trabalha e erige a Ciência Empreendedora, algo que ainda estamos conceituando. De 2017 para cá, já são mais 71 CInO’s formados em todas as áreas do conhecimento, inúmeros TCCs, os famigerados Trabalhos de Conclusão de Curso, e
Não temos professores, nem estudantes: somos iguais!
Quando se trabalha na educação, sempre existem assimetrias envolvidas em relação ao conhecimento científico, entre quem repassa o que acha que sabe e aquele que recebe o que acredita não saber. Quando se trabalha o empreendedorismo, a expressão mais adequada deveria ser “assimetria de execução mercadológica”, ou aquilo que se produz no Mercado. Como gosto de trabalhar conceitos matematicamente, pois é a linguagem da Natureza, vejo a coisa de forma muito estóica! Profissionalmente falando, todo mundo poderia ser definido mais ou menos assim:
(I): Profissional de Mercado = Conhecimento Científico nível B * Execução Mercadológica nível A.
Admitindo uma equação semelhante para os propedeutas, ficaríamos com:
(II): Profissional da Educação = Conhecimento Científico nível A * Execução Mercadológica nível B.
“Bunitu, né não?” Onde eu quero chegar: em um horizonte determinístico, se pudéssemos atribuir valores numéricos às duas expressões, não me espantaria dizer que chegaríamos a:
(III): (I) = (II) = constante.
Ou seja: precisamos de ambos conhecimento e de ambos profissionais! Massa, né não?
Equalizando…
No começo, catávamos estudantes. Com um pouco de tempo, encantávamos curiosos. Depois disso, começamos a selecionar empreendedores inovadores. Com a ajuda dos que apostaram em nós, hoje formamos CInO’s, Chief Innovation Officers! Tudo isto historiado, acredito ser necessário dizer porque NegTec não lida mais com estudantes ou professores, mas com construtores de novos mundos. Caso você se interesse em vir para cá, e sendo irritantemente arrogante, já te avisamos: NegTec tem várias assimetrias e só lida com empreendedores inovadores. Não temos estudantes nem professores, tá bom?
Referências:
UFRN – 1ª universidade mais empreendedora entre quatro regiões do país (https://www.ufrn.br/imprensa/noticias/53817/ufrn-e-1a-universidade-mais-empreededora-entre-quatro-regioes-do-pais)
Chief Innovation Officers (CInO) – Wikipedia (https://en.wikipedia.org/wiki/Chief_innovation_officer)
Defesas de tese UFRN – (https://sigaa.ufrn.br/sigaa/public/programa/defesas.jsf?lc=pt_BR&id=9109)
A coluna Empreendedorismo Inovador é atualizada às quartas-feiras. Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #EmpreendedorismoInovador.
Leia a edição anterior: Desenvolvendo futuros incrementais e disruptivos
Gláucio Brandão é Pesquisador em Extensão Inovadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Gláucio Brandão
Deixe um comentário