Pessoas idosas que vivem com HIV apresentam envelhecimento precoce Pesquisa

quarta-feira, 24 agosto 2022

Estudo realizado por pesquisadores da UFPE utiliza inteligência artificial

Pessoas idosas que vivem com HIV, o vírus causador da Aids, apresentam um envelhecimento biológico precoce que supera a idade cronológica em até 15 anos. Essa foi a principal conclusão da tese “Fatores associados ao envelhecimento biológico precoce em pessoas idosas com HIV”, de autoria da médica geriatra do Hospital das Clínicas da UFPE Isaura Romero Peixoto, orientada pela professora Heloísa Ramos Lacerda e aprovada pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“A partir de meados dos anos 1990, a terapia antirretroviral transformou a infecção letal pelo vírus HIV em uma doença crônica, aproximando a expectativa de vida das pessoas infectadas à da população geral. Apesar dessa grande conquista, o HIV e a terapia para reduzir a sua carga viral no organismo promovem um envelhecimento biológico precoce que avança a idade cronológica dessas pessoas em até 15 anos”, explica Isaura Peixoto.

Nesse estudo, a idade biológica foi estimada graças ao uso de inteligência artificial (deep learning) utilizando resultados de exames usuais da prática clínica e de baixo custo (como colesterol, glicose, triglicerídeos, entre outros). Entre maio de 2018 e fevereiro de 2020, foram avaliadas 59 pessoas, com idade igual ou superior a 60 anos, de ambos os sexos, vivendo com HIV e fazendo a terapia antirretroviral, e tratadas em dois hospitais de referência em HIV/Aids no Estado: o Hospital das Clínicas da UFPE e o Hospital Universitário Oswaldo Cruz da Universidade de Pernambuco (UPE).

“A pessoa idosa apresenta um processo natural de imunodeficiência, mas que é acelerado com a infecção pelo HIV e pelo uso da terapia antirretroviral, que traz efeitos colaterais, como a disglicemia (pré-diabetes e diabetes tipo 2), uma das grandes responsáveis por esse envelhecimento biológico precoce. Daí, a importância do uso da estimativa da idade biológica no cuidado a pessoas com HIV, em especial aquelas acima dos 60 anos”, afirma Isaura Peixoto.

Foram identificados como fatores associados a esse envelhecimento precoce em pessoas idosas com HIV o uso de cannabis (maconha), a contagem baixa das células de defesa do organismo contra a ação do HIV (os linfócitos T CD4) e a disglicemia. O estudo alerta também para o alto risco de doença cardiovascular no período de dez anos, em pessoas idosas com disglicemia, estimado pelo escore de Framigham.

A pesquisa destaca ainda a importância de médicos que acompanham pessoas idosas com HIV conhecerem aspectos do processo natural de envelhecimento (senescência) e prescreverem de forma criteriosa medicações que possam dar qualidade ao envelhecimento, buscando controlar a carga viral e a normalidade do número das células de defesa contra o HIV.

“Além disso, é importante a intervenção multidisciplinar para a melhoria do estilo de vida, principalmente a cessação do tabagismo e do uso de drogas ilícitas, a adoção de dieta com baixos níveis de gordura e açúcar, o incentivo à atividade física e as medidas educativas sobre doenças sexualmente transmissíveis, por meio de uma abordagem clara sobre a sexualidade na terceira idade (muitos homens idosos fazem sexo fora do casamento sem preservativo), além da busca pelo diagnóstico e tratamento precoces da infecção pelo HIV”, pontua Isaura Peixoto.

Fonte: Ascom da UFPE

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