Seu passeio de Rolls-Royce, White Label & Permutas Disruptiva

quarta-feira, 10 agosto 2022

Será que não há um meio de todos os projetos se ajudarem, de modo sustentável e sem que haja conflitos de interesses nas respectivas entregas?

Achou que falaríamos sobre lifestyle startups, aquelas movidas por sonhos cujo sucesso é ancorado no estilo de vida de seus idealizadores, ou, no mínimo, de startups de whisky, né não? Na verdade, não seria um má ideia… Retornando ao foco, a missão desta AC é ampliar o horizonte sobre a seção recursos-chave do Canvas de Modelo de Negócios, aquela que aponta os recursos (humanos, físicos, intelectuais, financeiros, digitais…) sem os quais qualquer projeto não poderá fazer seu negócio funcionar. Em Propostas de valor invencíveis, falamos sobre as hipóteses que alicerçavam qualquer Canvas: H1, hipótese de desejo; H2, hipótese de alcançabilidade; H3, hipótese de sustentabilidade. Os recursos-chave compõem a H2, a hipótese-fronteira entre uma apresentação de Powerpoint© e a execução de um P2S2 (produto, processo, serviço, startup). Afinal, todos desejamos que uma proposta de valor vá além de um bate-papo. Mostrarei aqui uma das formas que descobri há quase um ano (set/2022), quando tive a satisfação de conhecer, via plataforma Linkedin©, Rafael Barbosa, CEO da XporY – aliás, nome para lá de sugestivo -, e compreendi qual recurso-chave estava faltando às startups quando eu estive gestor na Inova Metrópole. Afinal, se existem projetos de todos os tipos rodando simultaneamente em um mesmo ecossistema, será que não há um meio de todos se ajudarem, na verdade se completarem, de modo sustentável e sem que haja conflitos de interesses nas respectivas entregas? E a resposta para mim agora está óbvia: White Labels e/ou permutas! 

Economia colaborativa

Extraindo do portal da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), reportagem de 29/06/22, onde a coisa tá pegando:

O Parlamento de Goiás aprovou, em segunda votação, proposta voltada a instituir a Política Estadual de Estímulo, Incentivo e Promoção da Economia Colaborativa. Objeto do processo nº 2.039/20, de autoria do deputado Virmondes Cruvinel (UB). A matéria tem como foco auxiliar empresas e profissionais liberais na retomada da economia diante do impacto em decorrência da pandemia provocada pela covid-19. O projeto de lei segue para a sanção do governador Ronaldo Caiado (UB).

“A economia colaborativa já é um princípio existente, mas que nós pretendemos regular, organizar e, principalmente, trazer uma capilaridade que ainda não existe em Goiás. (…) A aprovação dessa lei na Alego demonstra a preocupação dos parlamentares para a dificuldade enfrentada pelas empresas. (…) E entendem se tratar de uma ferramenta que pode ser eficaz. (…) A principal preocupação do empresário é investir e não conseguir colocar sua produção no mercado. Nesse desenho, as produções futuras dos empresários poderiam ser lastreadas também em intenções reais de compra de outros parceiros, sem necessidade de troca direta”, explica Virmondes.

Bom, se você estava ressabiado, sabemos agora que a permuta está caminhando para virar lei. Notícia legal, né mesmo (não deu para evitar o trocadilho jurídico).

Comutações multilaterais

Para não perder o embalo, da mesma reportagem:

A propositura apresenta as permutas multilaterais como uma das ferramentas a serem empregadas para mobilizar a adoção da economia colaborativa em Goiás. E é por meio dessas comutações que empresas, profissionais liberais e autônomos poderão cadastrar seus produtos e serviços em uma plataforma digital acessível a uma comunidade que pretende realizar trocas comerciais. Especialistas aprovam a iniciativa e defendem a economia colaborativa como um caminho viável para a recuperação dos setores econômicos, especialmente o de serviços, em um período de queda do poder aquisitivo entre os consumidores. De acordo com Rafael Barbosa, especialista em economia colaborativa, as permutas multilaterais são tradicionalmente aplicadas em períodos de crises econômicas a fim de movimentar os negócios.

“Durante esse período, muitos empresários ficam com estoques parados e serviços ociosos por conta da dificuldade de encontrar clientes. Por outro lado, pode ter uma pessoa interessada nessas mesmas ofertas, mas que não tem condições de fazer a aquisição. As permutas multilaterais buscam beneficiar essas duas partes”, enuncia o especialista.

Segundo Barbosa, as diversas possibilidades de negociações que não se restringem a trocas entre duas pessoas ou empresas são a maior vantagem da permuta multilateral em comparação com as tradicionais permutas bilaterais. “No modelo multilateral, o permutante utiliza uma plataforma onde deixa sua oferta disponível para milhares de pessoas”, assinala.

Rafael prossegue ao informar que com a adoção do sistema diminuem as restrições de negócios e aumentam as possibilidades de um permutante encontrar uma oferta que será essencial para a manutenção ou a continuidade do funcionamento de seus negócios.

Reduzindo o Custo BR e exercendo o “bom-mocismo”

Em Fintechzação: a desvinculação do Varejo, anotei:

“O custo Brasil é um termo genérico, usado para descrever o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no Brasil, dificultando o desenvolvimento nacional, aumentando o desemprego, o trabalho informal, a sonegação de impostos e a evasão de divisas. Por isso, é apontado como um conjunto de fatores que comprometem a competitividade e a eficiência da indústria nacional”. (Wikipedia).

Na mesma AC demonstrei que se o Custo BR fosse um país teria o PIB maior do que o da Dinamarca. Sugeri como solução para redução desse PIB um processo que chamei de Fintechzação do Varejo. Entretanto, e sob a luz das comutações laterais, entendo agora ser aquela minha proposta um sistema de permutas, em que as intenções de compra-venda de produtos e serviços só precisariam ser efetivadas ao final da transação, eliminando dissipações intermediárias. Bingo! Outro fato interessante: por formar e oferecer uma grande rede de contatos entre empreendedores de todos os tipos e tamanhos e, ao mesmo tempo, viabilizar soluções financeiras, além de ser uma fintech, será que uma plataforma como a XporY configura-se também como uma startup de impacto social, uma Social-Fintech? Isso existe? Será que entendi direito, Rafael? E o que todo este processo tem a ver com o Canvas, GBB-San, economista júnior de startups? Explico na sequência.  

White Label (WL)

“Conceito de mercado que descreve a terceirização do desenvolvimento de produtos e serviços, criando um molde que pode ser personalizado e redistribuído. Na prática, significa que um item ou plataforma foi desenvolvido por uma empresa, mas recebeu a marca de uma parceira que o revende para seus clientes. Por isso, recebe o nome de White Label que, traduzido, significa “etiqueta branca”. Assim, a empresa revendedora não precisa arcar com custos de criação de uma solução, podendo, inclusive, lucrar ao adicionar uma taxa e negociar com seus clientes. Em contrapartida, ela não possui direitos sobre a licença do produto ou serviço. O White Label costuma ser adotado quando uma companhia quer expandir sua atuação, mas não possui a expertise – nem o interesse – necessários para fazer isso”, definição que encontrei no site da Fia Business School.

Independentemente do que seu negócio soluciona, você só terá clientes fiéis se eles enxergarem que quem captura e entrega valor (necessário, esperado, desejado ou inesperado) é você. Claro, pois do contrário procurariam outro solucionador. Portanto, seu negócio não só tem que ser a solução, mas também parecer sê-la, e com exclusividade! Deixa eu exemplificar para ficar mais claro: você, muito provavelmente, já viu muita coisa sobre Airbus, Boeing, Embraer e centenas de outras fabricantes de aeronaves. Constroem excelentes aviões, that’s right? Entretanto, você já ouviu alguém dizer “vou voar de Rolls-Royce”, “vou ali ver se o GE roda macio”, “dizem que a Pratt & Whitney é muito silenciosa”, “eu prefiro a Honeywell”, “sou mais a Williams International”. Muito dificilmente… Motivo: são as 05 – e únicas – fabricantes de turbinas para aviões comerciais no mundo. Um dos principais modelos de negócio da Rolls-Royce, por exemplo, é de aluguel da turbina por hora, sabia? Te peguei, né? Onde eu quero chegar: tais companhias aéreas, literalmente, não sairiam do chão se seus core businesses fossem direcionados também à construção de turbinas. Voam? Sim! Parece que o motor é delas? Também! Os fabrica? Não! Querem aprender a desenvolvê-los? Pelo menos “sim” para a Embraer, que está até testando um protótipo!

Proposta de valor sob a óptica WL

Maria quer montar uma startup de saúde, uma HealthTech, e para isso está acompanhada de um bocado de profissionais da área (nutrição, medicina, enfermagem, psicologia, fisioterapia…), mas “manjam” nada de tecnologia. João tem uma de tecnologia, cujos Devs altamente sobrecarregados física-mental-emocionalmente apresentam, dia-a-dia, queda no rendimento. Em um encontro de negócios, ambos percebem uma oportunidade de trocas de serviço. O resultado é que dentro de seis meses, Maria and sisters têm sua plataforma de saúde premiada em um Summit event da área, e a Tech de João recebe o prêmio GPTW (melhores empresas para trabalhar). Nos bastidores, sabemos que um atuou como White Label do outro. Agora, expandam esse case para centenas, milhares de startups, e não só para necessidades internamente cruzadas, mas para áreas diferentes a elas e em qualquer lugar do globo. Perceberam? Somente uma plataforma dedicada à promoção de comutações laterais, que operasse com moedas virtuais e outras operações financeiras, poderia juntar e catalisar o casamento destas necessidades. Teria-se então um banco com inúmeras soluções disponíveis; White recursos. Um efeito direto aconteceria na redução de custos operacionais. Um efeito colateral, quem sabe, dar-se-ia no turnover da moçada: as empresas poderiam terceirizar funcionários entre si, evitando-se a atual fluidez de RH exclusivamente por salários, que inviabilizam até startups promissoras. Portanto, startups Brasil afora, permitam-se! Ou melhor, permutem-se!

Proposta de valor sob a óptica WL: preocupe-se apenas com o que está em vermelho

Sob a óptica WL, a proposta de valor de meu negócio (PV) seria subdividido em 3 camadas: 1) o que tenho de saber fazer, 2) o que devo terceirizar e 3) o que tenho de aprender, antes que alguém o faça, pois é aí onde mora a evolução de minha PV, onde a concorrência estará de olho, pois os princípios já foram validados por meu negócio.

Finalizando…

Graças ao White Label, muitos já andaram de Rolls-Royce e nem sabem disso. Qualquer negócio nascente, startup ou mesmo estabilizado, deve dedicar-se full time à construção ou aprimoramento de sua PV-raiz, desapegar-se da construção de soluções adjacentes pré-existentes (White Labels) e considerar as permutas. Se posso deixar uma dica, recomendo conversar com a galera da XporY sobre possibilidades sustentáveis. Tenho certeza de que, no mínimo, o aprendizado será bom. Palavra de quem já conversou com o staff e, como você, provavelmente já andou de Rolls-Royce. Então, por que oferecer um patinete?

Referências

A coluna Empreendedorismo Inovador é atualizada às quartas-feiras. Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #EmpreendedorismoInovador.

Leia a edição anterior: Propostas de valor invencíveis

Gláucio Brandão é Pesquisador em Extensão Inovadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Gláucio Brandão

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