Miró da Muribeca e a ciência marginal Ciência Nordestina

terça-feira, 9 agosto 2022

A autenticidade do poeta que versava sobre a marginalidade das coisas e a sua importância no cenário cultural brasileiro

Nesta semana o poeta Miró da Muribeca se encantou. Levou consigo a sua poesia ácida e inteligente, que não veio das academias, mas latejou do chão quente das periferias em direção às suas veias.

A autenticidade deste poeta que versava sobre a marginalidade das coisas e a sua importância no cenário cultural brasileiro permite com que extrapolemos conceitos da poesia para uma irmã próxima, muito mais formal e sisuda, a ciência. Penso que se Miró escolhesse ser cientista talvez nunca tivesse publicado um artigo ou proferido suas palavras de inteligência em uma conferência. A ciência é assim… Primeiro o diploma e depois o resto…

E sempre teimam em fazer a mesma pergunta: e se Max Planck fosse brasileiro nos dias de hoje? Ao mesmo tempo eu respondo: certamente teria ido para a Europa e faria o mesmo sucesso que fez. No entanto, esta pergunta está equivocada e perdida. A pergunta correta é: quando o Miró da ciência terá oportunidade de ser doutor e fazer a sua voz ser ouvida no Brasil? Ou ainda: quantos Mirós morrem por dia no Brasil sem ter a oportunidade de acessar o conhecimento formal? Ou mais: quanto mais “sabidos” em ciência seríamos se ouvíssemos os meninos que sentem as dores que latejam nas periferias?

Eu sou um destes meninos que via seu pai ganhar 4 vezes menos do que merecia por não ter um diploma. E desta dor que estourava de seus olhos cansados, prometi a ele que teria o diploma para defender a dor daqueles que nunca puderam ter um diploma. Assim como fora com seu Fernando (meu pai), assim como foi com Miró.

Levar o povo para a Universidade é fazer a poesia de Miró ganhar o carimbo da formalidade (não que sirva para além do “cartorialismo” brasileira), é fazer o conhecimento da vida de seu Fernando formar engenheiros. É plantar sonhos…. E como dizia Miró, as folhas do calendário estão caindo. O povo brasileiro tem pressa.

olhei para o passado
as folhas dos calendários
caindo

é preciso plantar cedo sua árvore
pra mais tarde ter uma sombra
que lhe agasalhe

– Poema do livro aDeus (Mariposa Cartonera)

Miró da Muribeca

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Leia o texto anterior: Desatenção nas aulas e o novo normal

Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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