Uma proposta de descolonização do jornalismo a partir da experiência real e mística do cotidiano latino-americano
Por Sarah Fontenelle Santos* (Instagram: instagram.com/sarahfontenelle.santos/).
A captação
De posse de tantas liberdades, precisamos planejar o modo como vamos levantar os elementos da realidade, não é mesmo? Contar as nossas histórias e memórias, individuais ou coletivas, é uma tarefa que nos exige comprometimento e para que não nos percamos no caminho, Edvaldo Pereira Lima (2009) nos socorre mais uma vez.
A construção fluída de nossas histórias
Uma questão recorrente que eu encontrava em sala de aula – e fora dela – era se o jornalismo literário é apenas escrito e se alguns programas de tv e rádio são da corrente do jornalismo literário. Bom, isso daria um debate longo, não quero me estender, mas lembrar aqui da experiência coletiva que vivemos no rádio (na FM Universitária, UFPI) com o Gira Poesia – esse era um programa experimental que dialogava com os movimentos culturais e de resistência, onde abusávamos do nosso potencial criativo e reelaborador da realidade. Assim, as dicas que vão seguir, que, mais uma vez, recorro a Edvaldo Pereira Lima (2009), são dicas de texto, mas nada impede que seja devidamente apropriadas na construção de outras mídias.
Concluindo sem conclusões
Por fim, gostaria de afirmar que este é um convite a reelaborar a realidade coletivamente, a partir de nossas subjetividades e cosmovisões de mundo. Podemos e devemos registrar nossas histórias e fazer delas uma importante arma na construção do poder popular. Procurei contribuir com alguns caminhos que temos experimentado, mas é claro, eles podem ser desaprendidos e reaprendidos. Ainda sou dessas que crer em Galeano “Barricadas fecham ruas, mas abrem caminhos”. Portanto, que façamos das destruições do feito, reconstrução rumo ao Ser Mais. Eu mesma, chegando ao final deste texto, já não sei se chamo este jornalismo de mágico, fantástico, realista, holístico ou transcendental, pois já me abriram caminhos. Espero que o mesmo tenha ocorrido a quem chegou até aqui.
A prática educativa de comunicAção é aquela que acessa memórias para dizer de outras narrativas possíveis. E é assim que queremos comunicar-agindo coletivamente. Fazer comunicação ou jornalismo desta forma é andarilhagens em memórias. É fazer com que a escrita faça sentir e agir e nos encaminhe para um lugar (vários) de escombros e alpendres das nossas memórias, individuais e coletivas. São andanças-atos de enunciação e anunciação de mundos.
Krenak (2019), afirma que sua luta é por poder contar sempre mais uma história. Assim, afirmo com ele que contar as nossas histórias e registrar nosso que-fazer é um jeito a mais de adiar o fim dos nossos mundos. É, portanto, exercício que age na permanência da contra-colonização e decolonialidade. Queremos, portanto, um jornalismo que diga sobre nós, das nossas existências e vivências e seja capaz de forjar rupturas nesse sistema-mundo capitalista rumo a um Bem Viver.
Por fim, gostaria de dizer que o jornalismo e os processos midiáticos sirvam para contar as nossas histórias.“Visibilizar os invisibilizados”. O objetivo primeiro da nossa comunicação-andarilhança é restaurar a palavra das mulheres, LGBTQIA+, dos povos negros (pretos) e indígenas, dos povos de santo, das diferentes formas de professar a fé, das pessoas com deficiência, das pessoas velhas, dos mais novos, das comunidades, periferias, dos povos do campo, caatingueirxs, ribeirinhxs, vaqueirxs, rezadeiras…. e toda gente que conosco tecem o cotidiano.
*Sarah Fontenelle Santos é jornalista e relações públicas por formação, comunicadora popular por questão de classe, co-idealizadora da Plataforma de Comunicação Popular e Colaborativa OcorreDiário e praticante de outros mundos possíveis.
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Leia a coluna anterior: Jornalismo Mágico na América Latina – Parte 1
“Epistemologias Subalternas e Comunicação – desCom é um grupo de estudos e projeto de pesquisa do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte”.
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