A popularização e a divulgação da ciência: fontes de inspiração para as descobertas do amanhã Artigos

sexta-feira, 3 fevereiro 2017

Artigo do biólogo Thiago Lustosa Jucá, publicado no Jornal da Ciência, que mostra a importância da ciência como popularizadora e divulgadora de ideias

O ano de 2017 mal começou e a capa da revista americana Nature já traz uma descoberta surpreendente na primeira semana do ano. Em uma reunião da sociedade americana de astronomia, cientistas revelaram através de observações no maior radiotelescópio do mundo, localizado no novo México, que a fonte de pulsos intermitentes de ondas de rádio, descobertos ainda em 2007 e considerada um dos maiores enigmas da astronomia moderna, está em uma galáxia pequena e escura, localizada a cerca de 2,5 bilhões de anos luz da Terra. A descoberta, segundo os autores, revela-se surpreendente uma vez que, ao apresentar menos estrelas do que grande parte das galáxias, as galáxias anãs parecem ter menos chance de hospedar quanto criar esses pulsos de onda de rádio.

Tal notícia me faz traçar um paralelo com duas obras literárias de ficção científica, “Da Terra à lua” e “Contato”, bem como com seus respectivos autores, Júlio Verne e Carl Sagan. Ambos foram grandes divulgadores e popularizadores da Ciência do século XIX e XX, respectivamente. Enquanto, o primeiro estava maravilhado com as conquistas tecnológicas da revolução industrial e teve o privilégio de ter vivido em uma época anterior às grandes guerras mundiais, o segundo teve o desprazer de ter tomado conhecimento dos horrores de um mundo em guerra e, ainda estava assombrado com a parcela da ciência que rumava para fins militares, como também com a possibilidade do uso de armas e possível inverno nuclear.

Júlio Verne foi capaz de imaginar, um século antes, algumas das conquistas mais surpreendentes da ciência, coma a ida do homem à lua. Da série de romances científicos escritos pelo autor, com narrativas imaginativas, porém verossímeis, nasceu o livro “Da Terra à lua”. O autor narrou de maneira pioneira à história de um grupo de heróis de guerra e cientistas que se envolveram em um grande projeto científico, o maior da época, para montar um canhão para lançar um projétil para a lua. Nessa ficção, o projétil tripulado pelo personagem Miguel Ardan, antecipou descobertas, como sobre a face escura da lua, que só posteriormente, com o projeto Apollo 11 e missões subsequentes se confirmariam.

Por sua vez, Carl Sagan, escreveu no ano de 1985 o livro Contato. Nesse livro, Carl nos revela que o contato ou a busca de sinais oriundos do espaço, não necessariamente, é sinônimo de seres estranhos desembarcando em discos voadores como no filme ET, de Steven Spielberg, mas vai muito além disso. Sinais captados através de radiotelescópios podem, por exemplo, conter mensagens capazes de nos fazer repensar todas as nossas concepções de vida e do universo. Nesse romance, a menina inteligente e à frente de seu tempo, Ellie, que se transformaria em Dra. Arroway e a líder de um projeto no maior centro de radiotelescópios do mundo, o Argus, capta um sinal que continha uma mensagem formada por números primos, vinda de uma estrela chamada Vega, com instruções para a construção de uma máquina para viajar no tempo.

Em ambos os livros de ficção, ficou claro como a imaginação, a ciência e a razão permeiam questões complexas no buraco negro que é a consciência humana ao abordar questões filosóficas, religiosas, políticas e, além do mais, antecipar, mesmo que de modo imaginário, grandes descobertas e avanços da ciência. Em ambas as histórias, discussões científicas calorosas, colaborações entre diversas pessoas, hipóteses muitas vezes mirabolantes, e avanços científicos marcantes podem ser associados a recente descoberta anunciada na Nature.

No final do ano de 2016, um grupo de cientistas brasileiros, oriundos das mais diversas instituições do País (Inpe, USP, LNLS, ITA e PUC-RS) anunciaram o projeto Garátea-L, que pretende lançar a primeira sonda brasileira à orbita da lua. Tal iniciativa mostra que assim como na ficção de Júlio Verne e Carl Sagan, “a nossa ficção pode se tornar realidade” daqui a alguns anos, mais uma vez, assim como a recente descoberta anunciada na revista Americana. Além desse projeto de orgulho nacional, temos a série de TV brasileira “O show da luna”, que mostra as curiosidades, descobertas e aventuras de uma menina de 6 anos que ama ciências, além de usar a imaginação para transformar a Terra em um imenso laboratório. Certamente, assim como a série de TV Cosmos, e a literatura de Júlio Verne, o show da Luna é uma ótima oportunidade para a educação científica de nossas crianças. Minhas filhas de 4 e 7 anos, por exemplo, adoram! Mas infelizmente não temos nenhuma série como essa na TV aberta no País.

E mesmo que no Brasil, a atual política governamental esteja em desacordo com todas essas questões científicas, não as tratando com a devida prioridade, através da implantação de uma agenda de retrocessos, como a fusão de ministérios da ciência, reformas esdrúxulas do ensino médio e com a redução drástica de recursos para CT&I, dentre outros, a ciência brasileira não deve temer jamais uma de suas principais atribuições, a de popularizadora e divulgadora de suas ideias, avanços e descobertas.

Referências Bibliográficas 

Thiago Lustosa Jucá é Biólogo, Doutor em Bioquímica de Plantas pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Atualmente trabalha como Técnico Químico de Petróleo na Refinaria de Lubrificantes e Derivados do Nordeste, PETROBRÁS, onde é Vice Presidente da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e Coordenador do Grupo de Trabalho do Benzeno.

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