Desapegue-se: inovação não é fim, é meio! Disruptiva

quarta-feira, 20 abril 2022

A falta de compreensão dos conceitos “fim” e “meio” pode colocar uma empresa que tenta impor um modelo altamente inovador muito próximo do abismo

Antes de começar, algumas definições. Para esta Aula Condensada, entenda-se “meio” como atividade realizada para se alcançar algo, e “fim” como este algo. Agora podemos…

Há três anos escrevi sobre as características da Tecnologia da Informação (TI), sugerindo que dia a dia sua aplicação e/ou utilização se aproximavam cada vez mais de uma commodity do que de uma inovação propriamente dita. Entretanto, parece que a maioria das pessoas ainda não se deu conta de que talvez uma Transformação Analógica bem executada valha mais do que não-tentativas ou uma quase Transformação Digital, e que isso envolva mais criatividade e mudança de postura do que implantação maciça de TI. Um termo em voga, que a “galera” tem usado para isso é “hype” – coisas que são muito repercutidas à exaustão -, e que graças à fluidez do marketing digital tem levado ao efeito FOMO (Fear of Missing Out), ou “medo de estar perdendo algo”. O resultado: O excesso de divulgação das palavras “Inovação e TI” juntas (hype) faz com que pareçam sinônimos, ao mesmo tempo que imprimem em nossa medula uma urgência em usá-las (FOMO), tendo um efeito bombástico de fazer com que misturemos “fim” com “meio”, garantindo que atropelemos os “fins” com os “meios”! Confuso? Vou reescrever de uma forma menos bonita: a inovação não é o objetivo de uma empresa, de uma empreitada ou de um serviço. A inovação é uma ferramenta para se atingir um objetivo. A falta de compreensão dos conceitos “fim” e “meio” pode colocar uma empresa que tenta impor um modelo altamente inovador muito próximo do abismo! Ruim de se ler, mas é um fato: recentemente, assistimos a empresa brasileira que mais comprou startups em 2021 (25 no total) ter um dos maiores tombos na bolsa (perdeu, até março, 75% de seu valor de Mercado), erro que, segundo especialistas, deveu-se ao não pivotamento do tradicional modelo de e-commerce para um atualizado marketplace. Ou seja: não “desapegou-se” e optou por continuar misturando meio e fim no mesmo espaço, quando a maior do varejo mundial, a Amazon, é um marketplace desde 2006. Espero, para o bem de todos, que se recupere rapidamente. Uma nova mudança de postura é premente. Follow me, please!

Commodity

Para não precisar escrever uma tese sobre, trago o conceito da Oxford Languages online: 

“Qualquer bem em estado bruto, geralmente de origem agropecuária ou de extração mineral ou vegetal, produzido em larga escala mundial e com características físicas homogêneas, seja qual for a sua origem, geralmente destinado ao comércio externo”.

Trabalhadores e startups avulsas

Vocês conseguem diferenciar o conceito anterior do de infoprodutos? Sim, então vamos lá: só nos Estados Unidos, 4% da população total (o que dá perto de 12 milhões de pessoas) está enquadrada como Nômades digitais. Essa turma trabalha em várias áreas de negócios, de qualquer lugar, para qualquer empresa no mundo, com salários-padrão pagos em dólar. Ou seja, no caminhar do andor, ter excelentes programadores à disposição será questão de encontrá-los em sites especializados, o que fará com que a qualidade do desenvolvimento aumente e os preços das soluções tendam a valores padrão, fazendo com que o desenvolvimento de soluções básicas (aquelas comuns a qualquer empresa) transformem-se – adivinha em que? – commodities!!! Ou seja, em pouco tempo, as empresas não precisarão mais ter um corpo fixo complexo de TI e, por consequência, também não precisarão comprar tantas startups.

Ativos “fixos”

O desenvolvimento de soluções-padrão será conseguido via site. O objetivo da empresa deve estar bem estabelecido em seu planejamento estratégico. E qual o meio que ligará as soluções de TI, estruturantes, ao propósito da empresa, “o fim”? Agora é fácil: a Inovação. E quem comandará esse “babado” todo? Resposta: o DevNeg de sua empresa, um ativo “fixo”, uma vez que a inovação, além de estratégica e inerente a cada empresa, tem de ser contínua. Perder o DevNeg pode significar uma transferência inadvertida de conhecimento para seu maior concorrente. Portanto, esse posto terá de ser ocupado por alguém com alto poder de liderança, criatividade e de extrema confiança da empresa, enquanto o CEO toma conta do alinhamento com o Mercado, do comercial e do financeiro. Pode ser que essas duas figuras habitem o mesmo corpo, mas não é o que mostra a práxis, principalmente quando se trata de empresas familiares. Exagero meu ter um “fixo”? Segundo o que consta na reportagem Startup que oferece CFO as a Service recebe aporte de R$ 4,4 milhões já se está terceirizando outros postos do C-Level. O próximo pode ser o seu! 

Desapegando e modularizando tudo

Na AC Fintechzação: a desvinculação do Varejo, proponho uma modularização do sistema financeiro atrelado ao varejo de modo que se possa reduzir corrosões reincidentes, utilizando como base Fintechs. Esta proposta pode ser aplicada a qualquer setor e com outros tipos de startups, desde que cada empresa defina corretamente (i) o que tem de fazer (fim), (ii) o que pode ser terceirizado (meio) e (iii) aquilo que precisa ser aprendido (inovação), o que a encaixaria na categoria de Empresas do futuro, cujas características:

  1. Ser mais consciente
  2. Ter ciclos de inovação mais curtos
  3. Possuir maior conexão com os clientes e consumidores em potencial
  4. Manter boa conexão com os seus colaboradores
  5. Criar constantemente novos modelos de negócios
  6. Adotar a flexibilidade ao seu modelo de trabalho

garantirão uma boa chegada ao ano 2030. Portanto, saber o que pode ser delegado a outrem – ou seja, desapegar-se daquilo que é “meio” e liberar isso para empresas especializadas -, as deixará mais leve para correr e descartar P2S2s que não apresentem o rendimento adequado. Tenha sempre em mente: não se pode desprezar um objetivo (fim) de uma empresa nem confundi-lo com os meios para se chegar a tal.

Finalizando…

Tudo que é escalável tende a ser convertido em commodity; é o que também está acontecendo com a TI. A inovação de uma empresa tem DNA próprio, constituindo-se em seu melhor ativo, por isso é “pessoal e intransferível”: esta é a maior diferença entre TI e Inovação. Temos que aguardar o esfriar das hypes, transformar o FOMO em JOMO, Joy of Missing Out (alegria de estar por fora), desapegarmos de atividades terceirizáveis e preocuparmo-nos apenas com a atualização e consolidação contínua do modelo de negócio da empresa – principal atividade fim de um CEO -, para que ela continue exercendo sua missão. Desejo uma rápida recuperação à “Amazon Brasileira”.

Referências:

https://www.infomoney.com.br/do-zero-ao-topo/de-magazine-luiza-a-meliuz-veja-as-maiores-compradoras-de-startups-na-america-latina/)

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/03/15/magazine-luiza-decepciona-e-acumula-perda-de-r-146-bi-em-valor-de-mercado.ghtml)

Nômades digitais

Startup que oferece CFO as a Service recebe aporte de R$ 4,4 milhões

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Leia a edição anterior: Sugerindo 17 objetivos para startups

Gláucio Brandão é Pesquisador em Extensão Inovadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Gláucio Brandão

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