A nanotecnologia, os marcadores de contaminantes e comida saudável Ciência Nordestina

terça-feira, 5 abril 2022

O momento é da nanotecnologia, mas também de incentivo aos pequenos produtores agrícolas e seus alimentos orgânicos

Quando se fala a palavra nanotecnologia, logo vem à cabeça um monte de cenas futuristas e de ficção científica, distantes de nossa realidade e do cotidiano. No entanto, os blocos de construção da nanotecnologia estão cada vez mais incorporados em nossa vida do que imaginamos. Peças de automóveis tem se tornado mais leves e resistentes, nossa roupa e os protetores solares têm camadas de nanopartículas para controlar a reflexão de luz, os testes rápidos para detecção de vírus são a nanotecnologia embutida que tornam as repostas mais rápidas e eficientes.

É justamente neste ponto que a nanotecnologia deve contribuir ainda mais. A produção industrial de alimentos (de origem vegetal e animal) vem abusando de insumos que podem destruir nossa saúde: são agrotóxicos, antibióticos e substâncias nocivas que aumentam a produção animal e reduzem a expectativa de vida de quem as consome. Ter a informação adequada sobre a presença e a quantidade de contaminantes nos produtos a se consumir passarão a ser um direito acessível a partir da nanotecnologia.

Para isso, a tecnologia de sensores de traços de contaminantes tem avançado ao ponto de que um lenço de papel seja passado sobre uma maçã e possa revelar se a mesma é própria para o consumo ou se ultrapassou o limite permitido de agrotóxicos adsorvidos até sua colheita. O mesmo serve para análise da água que bebemos, a carne, entre tantos outros produtos. O grande empecilho para a produção em massa destes dispositivos é a escalabilidade e o custo dos equipamentos que permitem detectar estas substâncias. Para tanto, é fundamental que a química, física, biologia e a engenharia andem juntos para permitir que os medidores (tal qual temos atualmente nos aparelhos que medem a glicose no sangue) sejam portáteis e baratos. Com medidores de traços de contaminantes disponíveis para a população será mais fácil inibir os abusos no uso de antibióticos em agricultura e pecuária, assim como de veneno nas verduras e frutas que consumimos diariamente.

Porém, é importante lembrar que a ciência é feita por humanos e voltada para humanos. Em um cenário de fome como o observado no Brasil é fundamental entender que enquanto a tecnologia avança, uma solução simples e saudável a ser incentivada deve ser a compra de produtos da agricultura familiar. O “agrotech” e “pop” que tanto se propaga na mídia é apenas um braço do mercado de commodities que alimenta as grandes fortunas. O Brasil que se mantêm na ponta dos produtores agrícolas manda suas frutas para fora do país. Nossa comida quase nunca é produzida para o consumo do povo brasileiro. Antes de ser um braço dos donos do poder, os cientistas precisam voltar seus olhos para o seu financiador, o povo. O momento é da nanotecnologia, mas também de incentivo aos pequenos produtores agrícolas e seus alimentos orgânicos.

A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras. Leia, opine, compartilhe e curta. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag CiênciaNordestina.

Leia o texto anterior: A comunicação do século XXI

Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Site desenvolvido pela Interativa Digital