Pesquisadores da UFC identificaram a presença da praga do ácaro-vermelho-das-palmeiras na cultura de carnaúba, planta-símbolo do Ceará
Sinal de alerta na agricultura cearense. Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas (IFAL) e da EMBRAPA Tabuleiro Costeiros identificaram, pela primeira vez, a presença de infestações do ácaro-vermelho-das-palmeiras (Raoiella indica Hirst) em carnaúbas do Ceará e de Alagoas. O estudo foi publicado recentemente no periódico Entomological Communications.
Esse tipo de animal deixa as folhas amareladas e provoca sua necrose, reduzindo a produtividade das plantas que ataca. No caso do Ceará, a espécie foi identificada no Campus do Pici Prof. Prisco Bezerra e na rodovia CE 040.
Os pesquisadores chegaram a detalhar a presença da praga nas folhas da carnaúba, constatando todas as formas de desenvolvimento do ácaro e uma densidade populacional elevada, aproximadamente o dobro da encontrada em folíolos de coqueiros. Para eles, isso demonstra que a carnaúba tem “adequação nutricional” ao ácaro, tornando-se um hospedeiro primário.
O ácaro-vermelho não é uma praga qualquer. Ele tem chamado a atenção de estudiosos de diversas regiões devido a sua capacidade de dispersão. Até 2004, ele só era registrado no Hemisfério Oriental. Naquele ano, chegou à Martinica, no Caribe, e rapidamente tornou-se um enorme problema para os produtores de banana. Dali, multiplicou-se de forma rápida atingindo as demais ilhas da região.
Em 2009, o ácaro-vermelho-das-palmeiras chegou ao Brasil, em Roraima. O Ministério da Agricultura tentou isolar a região Norte com uma série de medidas de contenção, mas em 2015 ele se alastrou por todas as regiões do País. Hoje, é considerado uma das espécies invasoras de maior capacidade de dispersão das Américas, podendo se espalhar por até mil quilômetros em um ano.
Capacidade de adaptação
O problema se agravou porque o invasor se adaptou muito bem à vegetação tropical das Américas. “A preocupação é que no Hemisfério Oriental, foram relatados menos de 10 hospedeiros para ele. Quando chegou às Américas, e especialmente ao Brasil, foi se espalhando de forma assustadora. Mais de 100 espécies de plantas já foram atacadas”, explica o Prof. José Wagner da Silva Melo, do Departamento de Fitotecnia da UFC.
O Prof. Wagner foi autor do primeiro registro do ácaro-vermelho no Ceará, em 2015, em coqueiros e bananeiras. Foi naquele ano que o pesquisador chegou ao Ceará vindo de um estágio pós-doutoral em Amsterdã para trabalhar como docente no Departamento de Fitotecnia da UFC. “É possível que esse ácaro já estivesse aqui antes”, diz.
Impactos
No caso da cultura do coco, os produtores relatam perdas da ordem de até 70% na produção, mas o impacto econômico é incerto. “A preocupação vai além da expansão acelerada. Não temos estudo de quantificação da perda econômica. O que temos são relatos de produtores que indicam quanto estão perdendo. Não sabemos se isso ocorre por manejo inadequado no combate ou se é pelo ácaro em si”, diz.
O professor lembra que a cultura da carnaúba no Ceará é extrativista, com uma população de plantas já envelhecida. Apesar disso, ela tem forte impacto econômico e social e uso muito diversificado. De acordo com dados da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), foi responsável por 2,4% da balança comercial cearense no ano passado, movimentando US$ 34 milhões. Em todo o País, 96,3 mil empregos foram gerados diretamente a partir da exploração da carnaúba.
“Se o ácaro-vermelho-das-palmeiras é um problema com coqueiros, que têm tratamento de cultivo mais desenvolvido, quanto se pode perder com uma cultura que é extrativista?”, questiona o Prof. Wagner. “Além disso, o principal produto é a folha ─ que é de onde se extrai a cera ─ e é justamente ela que é atacada. O prejuízo pode ser imensurável”, alerta.
O professor já fez um primeiro alerta à Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Estado e lembra que, como se trata de uma espécie invasora, a vegetação nativa não teve tempo de coevoluir com ela ─ e com isso desenvolver mecanismos de defesa, como enzimas e proteínas que possam protegê-la da praga.
Olhando em perspectiva, ele ressalta que a Universidade possui um rico banco de germoplasma da carnaúba. “Uma possibilidade seria avaliar esse banco e verificar se, nele, temos uma variedade que se mostre mais resistente.”
Além do Prof. Wagner Melo, participaram da pesquisa que produziu o artigo Carnaúba [Copernicia prunifera (Miller) H. E. Moore, Arecaceae], uma nova hospedeira de Raoiella indica Hirst, 1924 (Acari: Tenuipalpidae) os pesquisadores Eduardo Sousa Neto, do Departamento de Fitotecnia da UFC; Izabel Souza, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas (IFAL); e Elio Guzzo, da EMBRAPA Tabuleiros Costeiros. A pesquisa contou com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Fonte: Agência UFC
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