A canção inédita Pesquisa

quarta-feira, 16 fevereiro 2022
Tarsila do Amaral, fotografia retirada por volta de 1925 – Crédito: Desconhecido

Pesquisa de professores da Escola de Música da UFRN resulta em gravação de música inédita composta pela pintora Tarsila do Amaral

A obra Abaporu (1928) é uma das principais referências do movimento modernista no Brasil, cuja autoria é de Tarsila do Amaral, considerada uma das maiores pintoras da América Latina. Porém, além da sua grande habilidade com as artes plásticas, Tarsila também tinha um outro talento escondido. Em visita à família da artista, o professor Durval Cesetti, da Escola de Música da UFRN (EMUFRN), acabou se deparando com uma canção em francês composta pela artista, que sua sobrinha-neta, Maria Clara do Amaral, tinha achado recentemente.

O projeto de pesquisa do professor Durval envolve a busca por partituras que ainda estejam em manuscrito, ou seja, que nunca tenham sido publicadas. Ao mesmo tempo, ele realiza um projeto de editoração de partituras, que são publicadas no site da Escola de Música da UFRN, com o intuito de que essas peças possam ser conhecidas por outros músicos. Durval tem uma parceria com o Instituto Piano Brasileiro (IPB), o qual realiza um trabalho de resgate e divulgação da cultura pianística brasileira. O Instituto frequentemente envia os manuscritos ao professor, para que ele possa realizar a primeira gravação mundial das peças.

Partitura de canção atribuída a Tarsila do Amaral – Foto: Cedida

Em 2021, o IPB enviou diversas obras de Lydia do Amaral, mãe de Tarsila do Amaral, para Durval. Só quem tinha conhecimento da existência dessas peças era a família e seus descendentes. Maria Clara do Amaral foi quem encontrou as composições e as enviou para o IPB. As gravações das obras de Lydia do Amaral foram publicadas na internet e podem ser ouvidas aqui. A família foi se correspondendo com o professor e o convidou para realizar um sarau em Mombuca, no interior de São Paulo. O objetivo era realizar uma homenagem a Guilherme do Amaral, neto de Lydia, que completava 91 anos. Durval aceitou.

Enquanto estava manuseando os manuscritos de Lydia, Maria Clara lhe mostrou uma canção em francês assinada por Tarsila. Quando perguntou aos familiares, eles lhe disseram que era uma composição da própria Tarsila do Amaral. Ainda segundo eles, ela teria sido uma ótima pianista e chegou a cogitar a ideia de seguir carreira como musicista.

“Esta partitura, de uma canção intitulada Rondo d’Amour, estava com uma letra bem difícil de ler, diferentemente das peças de Lydia do Amaral, por exemplo. Por causa disso, supõe-se que provavelmente Tarsila não havia pensado em fazer essa partitura para outras pessoas interpretarem a canção, devendo ter sido uma composição que fez para si mesma, durante seus estudos musicais, e que depois foi guardada por sua mãe”, explica o professor Durval Cesetti.

Elke Riedel, soprano, Durval Cesetti, piano, e Kaio Morais, tenor, interpretaram a canção – Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

O professor realizou uma editoração profissional da canção. Por conta da difícil leitura do texto em francês, ele pediu o auxílio da amiga Catarina Brandão, diplomata da Embaixada do Brasil em Paris, na França. “Além do valor histórico de acharmos uma composição de uma das nossas maiores artistas plásticas, eu fiquei imediatamente impressionado ao perceber que parecia ser uma obra muito bem-feita, algo que se confirmou após termos feito a sua gravação”, conta Durval.

Após terminar de realizar a editoração, ela foi publicada no site da EMUFRN e Durval convidou os professores Elke Riedel e Kaio Morais para, juntos, realizarem as primeiras gravações da canção. Ouça a canção:

Tarsila do Amaral

Tarsila de Aguiar do Amaral nasceu em Capivari, interior de São Paulo, no dia 1º de setembro de 1886 e faleceu no dia 17 de janeiro de 1973, com 86 anos. Ela é considerada uma das principais artistas modernistas da América Latina. Aos 16 anos, Tarsila pintou seu primeiro quadro em Barcelona, na Espanha, chamado Sagrado Coração de Jesus.

No último domingo, 13, foi comemorado o centenário da abertura da Semana de Arte Moderna de 1922. O evento foi uma manifestação artística que marcou a história da cultura brasileira, realizado entre os dias 13 e 18 de fevereiro. O Grupo dos Cinco foi o conjunto de artistas que liderou esse marco. Faziam parte os escritores Menotti Picchia, Oswald de Andrade e Mário de Andrade, como também as pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. Foram expostas cerca de 100 obras.

As obras de Tarsila tiveram características das três fases do Renascimento, sendo elas: Pau Brasil, Antropofágica e Social. No total, ela pintou cerca de 270 obras. Algumas delas são: A Estação Central do Brasil (1924), A Feira (1924), O Pescador (1925) e Abaporu (1928).

Esta última foi um presente que a pintora deu para Oswald de Andrade. Raul Bopp, escritor e amigo de Oswald, perguntou: “Vamos fazer um movimento em torno desse quadro?”. O nome Abaporu, em tupi-guarani, significa antropófago e, assim, deram esse nome ao quadro que inspirou o início do movimento antropofágico. A obra foi vendida para o argentino Eduardo Constantini, em 1995, e hoje está exposta no Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires (Malba).

Fonte: Agecom/UFRN

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