Todos aqueles que fazem ( ou tentam fazer) ciência no Brasil, esperam por dias melhores
E mais um ano vai chegando ao fim. A variante Ômicron (que surgiu com a resposta ao apartheid vacinal) veio mostrar que a covid-19 resiste e que o capitalismo é seu fiel mantenedor. Deveríamos ter aprendido neste ano que estocar vacinas e manter todo um continente com índices irrisórios de imunização não é uma decisão inteligente. Enquanto a humanidade não compreender que acumular riquezas é uma ação que a levará à fome e miséria, permaneceremos sendo estes seres inteligentes, mas totalmente irracionais na ação de entender que tudo está interligado.
2021 foi um ano complicado em praticamente todos os sentidos: desde a explosão da fome à tragédia da pandemia, passando pelo colapso do sistema de pesquisa e educação superior no país – ou seja, do mais imediato à chama que alimenta a esperança – tudo foi afetado.
Filas de famintos que buscam restos de ossos nos caminhões de lixo, jovens que não buscam mais na educação a possibilidade de um futuro melhor…
Tradicionalmente esta seria uma época de esperanças e votos de fé no futuro. Porém a face horrenda da humanidade revelada pela pandemia ainda nos assusta. Para os cientistas brasileiros, como presente, restou apenas uma caixinha rasgada onde está escrito “resiliência”.
De fato, depois de tudo o que aconteceu, apesar da vacina e do sucesso da ciência sobre o vírus, formar estudantes na graduação, orientar mestres e doutores ainda é um ato de resistência. Este é o sinal de fumaça daqueles que ainda acreditam que o país pode ser independente, grande, feliz. Fumaça que anuncia a chama de esperança que ainda resiste.
Em particular, esta mesma resiliência é aquela que mantem esta coluna viva. Refiz as contas visitando o site e esta é a 224o semana ininterrupta que venho até vocês falar de ciência. São sonhos e desilusões, esperanças e cansaço traduzidos em palavras todas as terças (pontualmente). Talvez seja mesmo uma terapia, ao saber que as pessoas leem e dão atenção a quem faz (ou atualmente tenta fazer) ciência no país. Até por isso elas continuam (a coluna e a ciência), na esperança por dias melhores. Sempre. Esperando. Esperançando.
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Leia o texto anterior: Educação bancária e engenharia contextualizada
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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