Carnaval!? Ciência Nordestina

terça-feira, 16 novembro 2021

Será que já é hora de se fazer mega festas e abandonar as máscaras?

Todos deveriam estar bem conscientes de que a pandemia não acabou. A manchete do The Guardian de 30 de outubro de 2021 diz: “Alemanha teme quarta onda de Covid, já que as taxas de vacinação continuam baixas”. E ao observar os indices de vacinação, em 11 de novembro percebemos que 76% dos brasileiros estão parcialmente vacinados contra 69% dos alemães, porém com índices de segunda dose muito próximos. Isso significa que certamente estamos comemorando o fim de algo que ainda não foi embora. Já não há mais duvidas sobre a eficiência da vacina, porém as pessoas precisam entender que o novo normal exige máscaras e regras de afastamento. A liberação de grandes festas e a lotação dos estádios de futebol são assustadores. E estamos nós em meados de novembro, com o fim do ano às portas. Vêm aí o Natal, reveillon e carnaval… E agora? Os governos devem mesmo liberar estas mega festas? Antes de discutir as implicações desta questão, convido-os a fazer uma continha básica. Tomemos como modelo um bloco de carnaval de Recife e imagine que saiam 1,5 milhões de pessoas correndo atrás da folia – digamos ainda que este bloco exija que todos os foliões estejam completamente imunizados (primeira abstração). Consideremos ainda que a eficiência das vacinas seja extraordinária e gire em torno de 99% (segunda abstração). Isso nos levaria a considerar que apenas 1% dos presentes seriam contaminados e apresentariam sinais mais graves da doença, requerendo internação e cuidados especiais. Ora, 1% de 1,5 milhão de pessoas dá 15000 doentes com a forma grave da doença. Tudo isso apenas em uma cidade. Consideremos agora todos os blocos de carnaval de todas as cidades do país. Vale mesmo a pena? O carnaval é um negocio que movimenta muito dinheiro – a indústria do álcool anseia por este momento. Todavia, dizem que vidas não têm preço. Já se foram mais de 600 mil brasileiros. Será que ainda não aprendemos? Não é hora de lotar estádios, não é hora de se fazer mega festas e nem tão pouco abandonar as máscaras. E não importa se tomou duas ou três doses da vacina, a máscara é o maior sinal de cuidado com o próximo. Podemos transmitir a doença mesmo sendo assintomáticos. E o planeta é um só. Da mesma forma que um anônimo plantou o almoço que você fará ou já fez, é nossa missão cuidar do próximo a partir de um gesto tão simples como colocar máscaras. Máscaras sim; já o carnaval pode esperar até 2023. Suportaremos.

Fonte: https://www.theguardian.com/world/2021/oct/30/germany-fears-fourth-covid-wave-as-vaccination-rates-remain-low

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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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