O efeito estufa ocorre quando uma parte da radiação solar absorvida pelas superfícies do planeta, antes de perdida de volta para o espaço sideral, é aprisionada por alguns gases da atmosfera como, por exemplo, o dióxido de carbono (CO2). Sem o efeito estufa, a temperatura do nosso planeta seria em torno de 30 graus menor do que é hoje. O problema é que, desde o século XIX, mais CO2 está sendo emitido para a atmosfera do que sendo removido pelos ecossistemas, aumentando sua concentração. No Brasil, em relação ao ano 2019, cerca de 72% dessas emissões tinham como origem as atividades agropecuárias e os processos relacionados a esse ramo, como desmatamento, queimadas e queima de combustíveis fósseis das máquinas utilizadas no campo, provocando o que chamamos de aquecimento global – um aumento da temperatura média do nosso planeta.
Diante do problema, cientistas de todo o mundo pesquisam alternativas que colaborem para a diminuição do aquecimento global. É o que ocorre, por exemplo, no Laboratório de Ecologia de Ecossistema, coordenado pelo professor Alexandre de Siqueira Pinto. Neste espaço, o foco tem sido a investigação de alternativas para que atividades no campo, como pecuária, produção de alimentos, fibras e lenha, sejam manejadas de maneira ambientalmente sustentável.
“O boi, por ser um animal ruminante, libera muito metano e a própria utilização de fertilizantes também colabora para a emissão de muitos gases de efeito estufa. Aquele carbono que deveria estar na biomassa e no solo vai para atmosfera”, explicou o professor do Departamento de Ecologia.
Na busca de soluções, uma das técnicas utilizadas pelos estudiosos da UFS é a modelagem ambiental, um programa de computador que permite, entre outras finalidades, a construção de mapas de estoques de carbono em vegetações. A partir destes dados, a equipe consegue propor tipos de manejo que proporcionem o “sequestro” de carbono e armazenamento na biomassa e no solo em áreas cultivadas, retirando-o da atmosfera. Duas áreas, em especial, têm sido observadas pelos integrantes do laboratório: o plantio realizado nas regiões da Caatinga e na Mata Atlântica.
Caatinga
Uma das pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Ecologia de Ecossistemas estuda os estoques de carbono na região da Caatinga, bioma presente nos nove estados nordestinos e no norte de Minas Gerais. O trabalho é executado pela mestre em Ecologia e Conservação pela UFS Maiara Pedral, em parceria com pesquisadores da Rede de Estudo de Carbono do Nordeste, a qual é composta por pesquisadores de várias instituições de pesquisa e universidades da região, além do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG).
A escolha deste bioma, explica a pesquisadora, se deve ao fato da sua relevância para a sobrevivência humana e por haver estudos recentes que preveem o aumento das áreas em processo de desertificação em decorrência das mudanças climáticas. Os estudos iniciaram pela construção de um mapa dos estoques de carbono na biomassa de caatinga para o estado de Pernambuco.
A perspectiva do grupo é que em breve toda a região semiárida do Nordeste seja avaliada, preenchendo assim uma lacuna de dados sobre a temática. “Desta forma, poderemos auxiliar no planejamento e proposição de manejo no âmbito de políticas públicas voltadas à redução do desmatamento, reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, além de ações relacionadas ao enfrentamento das mudanças climáticas”, detalhou a pesquisadora.
Mata Atlântica
A Mata Atlântica corresponde à segunda formação vegetal de maior biodiversidade no Brasil, ficando atrás apenas da Floresta Amazônica, compreendendo cerca de 15% do território nacional. É bioma que historicamente mais sofreu com a ação humana.
Na UFS, o responsável por esta investigação foi o estudante de Ciências Biológicas e estagiário do Laboratório de Ecologia de Ecossistemas Vitor Batista, cujo campo de pesquisa foram os fragmentos naturais situados nas proximidades do Instituto Federal de Sergipe (IFS), no município de São Cristóvão.
Na pesquisa realizada no período de agosto de 2019 a julho de 2020, como parte das atividades do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (Pibic), o pesquisador simulou cenários futuros de mudanças climáticas com a proposta de responder a seguinte pergunta: como os fragmentos florestais irão responder às esperadas alterações nos padrões de precipitação e temperatura até o final do século?
A partir desta pergunta ele analisou quatro cenários de mudanças climáticas desde o mais otimista até
o mais pessimista. O cenário otimista prevê que os acordos ambientais entre os países serão cumpridos e as políticas públicas para redução das emissões de gases do efeito estufa serão de fato aplicadas. Por outro lado, no cenário pessimista ocorrerá exatamente o contrário. “Nesse cenário positivo eu percebo que não ocorre muita variação da temperatura, porém se essas políticas públicas não forem cumpridas, a gente percebe que as variações de temperatura serão maiores”, disse o estudante.
Os resultados obtidos pelo pesquisador mostraram que até o final do século deve haver redução nos estoques de carbono da biomassa aérea viva (folhas, galhos e tronco) em função do efeito combinado de diminuição das chuvas e aumento das temperaturas mínimas e máximas.
Consequências
Uma pergunta que podemos estar nos fazendo agora: e se, apesar das pesquisas conduzidas pelos cientistas do Laboratório de Ecologia de Ecossistemas e do mundo, as alternativas sustentáveis para a produção de alimentos não forem colocadas em prática o que pode acontecer? A resposta dada pelo professor Alexandre de Siqueira Pinto é: as consequências já estão sendo sentidas.
O pesquisador aponta como exemplo o que está sendo vivenciado no hemisfério norte, onde estão ocorrendo mortes de pessoas relacionadas às ondas de calor – matando mais do que outros eventos climáticos, como alagamentos e acidentes com raios. Nos Estados Unidos, por exemplo, estimam-se a morte de 700 pessoas em função desse fenômeno.
O agravante, segundo ele, é que as previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontam que até 2100, dependendo das práticas que vierem a ser adotadas pelas populações, a temperatura média do planeta Terra poderá aumentar de 1,5º C até 4º ou 5º C.
“Ou seja, os eventos que estamos vendo hoje, que já estão sendo trágicos, vão ser potencializados. É por isso que a sociedade precisa ser informada a respeito disso para também fazer parte desse time que quer que os alimentos sejam produzidos com a menor emissão possível de gases de efeito estufa”, finalizou o professor.
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