Univasf 17 anos Ciência Nordestina

terça-feira, 26 outubro 2021

O caminho de desafios, lutas e vitórias desta universidade que vem incentivando a interiorização do ensino público

No último dia 18 de outubro de 2021 foi comemorado o aniversário de 17 anos da primeira aula dada na Universidade Federal do Vale do São Francisco. Esta data merece registro por uma série de fatores, dos quais ter na Univasf a primeira experiência de interiorização do ensino público federal do século XXI é o mais latente. Para além desta marca, há uma série de outros aspectos que merecem registro: a primeira delas é a mudança na forma de pensar da população.

Em 2004 até mesmo os professores menos experientes não entendiam para que servia a iniciação científica, a imprensa local falava do aquecimento do mercado imobiliário e a Universidade era vista como uma fábrica de diplomas. Esse complexo de inferioridade que tendia a levar a Univasf a ser um grande escolão precisou ser muito combatido, em especial por parte dos jovens professores que saíram de suas regiões para iniciar sua carreira científica no sertão nordestino. Aliás, eles (na lista dos quais eu me incluo desde o começo) lutavam pela premissa de toda universidade (fazer ensino, pesquisa e extensão). Afinal o diploma é apenas um documento que comprova habilidades que devem seguir para além do quadro, pincel e provas.

Um engenheiro com formação bancária tem carências enormes de vivência prática (fazer emenda em um fio ou uma adaptação em uma tubulação de água, por exemplo). Essas coisas são feitas em projetos de pesquisa e de extensão (fora das salas de aula, na vida real, em que as respostas não estão no fim do livro). E neste ponto tivemos grandes vitórias. A Univasf forma mestres e doutores. Os laboratórios de pesquisa funcionam e fazem parcerias internacionais, pesquisadores estrangeiros visitam a região… Entramos no mapa mundi da ciência. Nossos estudantes buscam oportunidades na pesquisa, querem mais que um diploma. Ainda faltam as start up, faltam iniciativas que integrem tecnologia com meio ambiente em problemas definidos pelo povo sertanejo, falta muito. Mas são apenas 17 anos. Vai melhorar.

Se estas foram as flores, também tivemos espinhos, muitos. Desde a mentalidade do escolão à uma intervenção que daqui a pouco chega aos dois anos. A Univasf ainda não participa efetivamente de fóruns com as instituições coirmãs de Recife, ainda é chamada de univasp e ufvsf… Ela ainda não adquiriu a força do povo sertanejo para fazer valer a democracia, afirmar sua identidade e se colocar em primeiro plano diante de interesses pessoais e mesquinhos. Tudo isso no pior momento da história para a educação e para a ciência.

Como diz um amigo, a solução é chamar Iazul (dos contos árabes) e lembrar que sim, tudo passa. Nenhum bem é eterno assim como nenhum mal. Então, sigamos com um norte. Uma Universidade forte, que forme gente consciente de seu papel na sociedade e que ajude na batalha contra a desigualdade, fome e miséria. Vai melhorar!

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Leia o texto anterior: 15 de outubro – dia do professor (modo remoto e presencial)

Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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