Neurocientistas analisam a comunicação de roedores Pesquisa

quarta-feira, 11 janeiro 2017

Pesquisa do Instituto do Cérebro/UFRN aponta que os ratos produzem vocalizações ultrassônicas durante a locomoção

Uma descoberta recente na área da Neurociência vai ajudar a entender melhor a associação comportamental entre som e localização no contexto social dos ratos. Os pesquisadores do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Diego Andrés Laplagne (foto) e Martín Elías Costa, do Departamento de Física da Universidade de Buenos Aires (Argentina) perceberam que os animais produzem vocalizações ultrassônicas que funcionam como sinais sociais transportando informações espaciais sobre o emissor. A pesquisa foi publicada na revista Frontiers.

Diego Laplagne conta que desde a década de 1950 sabe-se que ratos e outros pequenos roedores emitem sons ultrassônicos, ou seja, inaudíveis para humanos. Contudo, até hoje ainda não estava clara a função dessa produção sonora. Nessa perspectiva, o estudo começou com o objetivo de “descobrir se entre dois ratos podem existir interações puramente vocais, onde um ficasse respondendo as vocalizações do outro”, explica o docente.

Entendendo as vocalizações

A pesquisa desenvolveu métodos para captar e gravar as vocalizações de pares de roedores, com o intuito de identificar que bicho originou cada som. Analisados os resultados, o neurocientista relata que os dados forneceram informações bem diferentes do que esperava, pois as vocalizações de cada rato obedeciam, principalmente, aos movimentos dele mesmo, e não às vocalizações feitas pelo vizinho.

Para entender se essas vocalizações durante a locomoção tinham uma motivação social, foram comparadas sessões, onde dois animais interagiam com outros e onde só um animal estava presente. Os ratos tiveram locomoção semelhante nas duas situações, porém, durante os movimentos, eles vocalizaram muito mais na presença de um vizinho. Este tipo de fenômeno é conhecido como “efeito audiência”, onde um comportamento muda de acordo com o “público” presente.

Grupos unidos

Com o teste, ficou claro que os ratos podem vocalizar sem movimento e mover sem vocalizar, mas que a produção vocal aumenta logo antes da locomoção começar e se mantém elevada até o animal parar. “Observamos que cada rato emitia a maior parte dos seus chamados enquanto ele caminhava ou corria de um lugar para outro, e fazia poucos chamados ao ficar quieto em um lugar”, descreve Laplagne.

Para o pesquisador, essa informação tem bastante representatividade sobre o processo comunicativo dos roedores, já que são animais que vivem em grupos sociais e, principalmente, no escuro. Então, esse seria um mecanismo para manter grupos unidos mesmo sem contato visual.

A maior dificuldade do estudo foi conseguir registrar de maneira simultânea e detalhada os movimentos e vocalizações dos roedores e saber quem originava cada informação, visto que os movimentos deles são frenéticos e emitem até oito chamadas por segundo. Também foi preciso criar uma forma de captar, processar e analisar os dados usando ferramentas computacionais.

Cortes no orçamento

Apesar do desafio, os pesquisadores consideram que a descoberta pode proporcionar um avanço sobre a comunicação vocal dos ratos, podendo enriquecer os conhecimentos sobre o funcionamento do cérebro dos mamíferos, incluindo os humanos. Conforme Laplagne, outros experimentos serão feitos para testar a hipótese de que as vocalizações ultrassônicas dos roedores ajudam na localização e reforçam a coesão social mantendo o grupo unido mesmo no escuro.

“Contudo, a continuação da pesquisa vai depender de investimento público na ciência, área que vem sofrendo fortes cortes no orçamento. Além disso, devido a possibilidade de aprovação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 241/55, tememos que a verba fique congelada e em nível baixo pelos próximos anos. Isso levaria, inevitavelmente, à redução no volume e na qualidade da pesquisa básica e aplicada feita no Brasil e, inclusive, na saída de muitos pesquisadores jovens que não encontrariam oportunidades de aplicar o aprendido no país”, analisa Laplagne.

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