A educação precisa estar unida e ser resistência contra toda a forma de opressão ao livre pensar e de produzir conhecimento
Um experimento simples e muito revelador pode ser feito a qualquer momento junto a jovens na faixa dos 15 aos 18 anos: tente descobrir quantos desejam ser professores. A medida do desinteresse pela docência é mais uma das armas apontadas para a cabeça de nossa educação e por consequência contra o futuro do Brasil. Com isso, cresce a desinformação, a velocidade de propagação das fake news e some a esperança em um país que assumiu o seu complexo de vira-lata como uma verdade.
Desde que explodiu a pandemia no mundo, a arte da docência passou por momentos extremamente críticos, pois ao contrário do que se imagina, o modo remoto é muito mais desafiador do que parece. Câmeras desligadas, pouca interação com os estudantes, uma aprendizagem que mais se aproxima de uma incógnita… Muitas disciplinas práticas atrasadas, com turmas gigantescas a serem ofertadas… E se não bastasse tanto problema, surge como “grande presente” um corte de 90% nos escassos recursos da ciência brasileira.
Não seria ainda o caso de descobrir se a resiliência docente está no fim, pois espera-se que do Titanic que afunda, os professores sejam aqueles que tocam seus instrumentos até o fim. Talvez ainda seja o momento de questionar se merecemos este futuro. Sem educação não há esperança para a classe trabalhadora, não há solução para os problemas negligenciados e nem tão pouco há um conceito mínimo de nação. Se todo o patriotismo se resume a entregar as riquezas e a mão de obra é porque o capitalismo estabeleceu mais uma colônia de exploração e morte para alimentar seu povo “desenvolvido” de luxo e lixo tecnológico. Se houvesse uma mínima empatia do povo brasileiro para com o próprio povo brasileiro, teríamos alguma argumentação a fazer. Porém nem isso se pode fazer.
Enfim, nada a comemorar nesta data, por tudo o que já foi feito contra a educação e contra o povo brasileiro – as 600 mil mortes não podem ser esquecidas. A educação precisa estar unida e ser resistência contra toda a forma de opressão ao livre pensar e de produzir conhecimento. A ciência brasileira precisa sobreviver, pela atual e pela futura geração de cientistas que devem ter o direito de escrever a sua história buscando as soluções para o seu povo.
Resta fazer o que sabemos, ou mesmo como dizia Belchior na Divina Comédia Humana
“Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso
E eu vos direi, no entanto
Enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não, eu canto”
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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