Veja a segunda parte da entrevista com o quadrinista e desenhista piauiense
Por Layza Mourão e Nayara Venâncio
Acompanhe a segunda parte da entrevista com Bernardo Aurélio, quadrinista e desenhista piauiense, criador de obras como Máscara de Ferro e Foices&Facões, baseada na Batalha do Jenipapo, uma das batalhas mais sangrentas já registradas no Brasil colônia. Na parte 1 dessa entrevista ele contou um pouco de sua trajetória profissional.
Bernardo: Sim, a gente pretende sim. Como o último foi em 2018, a gente precisava voltar lá no ano passado. Não é fácil entrar, ser selecionado, tem muita gente, é caro para você sair daqui e ir passar uma semana levando esse material, porque quadrinho pesa muito, enfim, a logística de estar lá é complicada. Por sorte, a gente ficou hospedado há dois quarteirões do nosso vizinho de mesa, são 600 mesas no evento, e o “cara” que estava sentado do nosso lado ia e vinha dividindo alguns custos com a gente. É uma coisa bem bacana. O evento é muito metódico, e quando você vai como mesário, eles não querem que você saia da mesa, então era eu e meu irmão, e em momento nenhum, a mesa podia ficar sozinha. Tinha os fiscais de mesa (risos). Teve um momento em que a Sophie Turner estava lá, a atriz de Game Of Thrones, e eu fui até lá perto pra ver, mas eu só vi o laranja do cabelo dela (risos) “oh, ali é o cabelo dela” (risos). Só. Fora isso, o Mike Deodato, que é um dos desenhistas mais importantes do Brasil, estava sentado na minha frente, então se você considerar o que realmente importa pra você, se você tá indo pra lá pra ver os quadrinistas, você vai ter muita facilidade no Beco dos Artistas, mas se você está indo pra ver os artistas de Hollywood convidados, você vai pegar uma fila de 3 ou 4 horas e talvez não chegue perto o suficiente. Então, cada um com suas prioridades.
Bernardo: Entre os piauienses eu fui o terceiro a ganhar um Troféu HQMix. Os primeiros foram Amaral, com a revista independente Hipocampo nº 02, que ganhou o prêmio 13º troféu HQ Mix em 2000 e o Salão de Humor do Piauí como evento. Esse troféu de agora, do VSH- Video Horror Show, foi um trabalho coletânea que surgiu quando a gente foi pra CCXP em 2018. Eu e meu irmão fomos os únicos piauienses que participaram da CCXP em São Paulo e lá você tinha seiscentos desenhistas e seicentas mesas expondo trabalhos no Beco dos Artistas. E meu irmão conheceu um pessoal lá e recebeu um convite para participar de uma coletânea de horror e essa foi uma outra experiência como roteirista. Primeiro com Foices e Facões e agora pelo VSH, mas o argumento do roteiro era de um cliente meu que andava aqui na livraria, o Felipe Aires, e eu até reclamei com o pessoal da revista que não deu o crédito dele, pois ele vinha aqui e a gente ficava conversando e eu dava dicas de roteiro pra ele e então o argumento original é meu e dele. Ele já havia feito um roteiro para concorrer em outro concurso de uma editora chamada Draco e inspirado em Lovecraft e terror, mas o roteiro não foi aprovado. Então eu falei “Felipe eu quero fazer um quadrinho inspirado no roteiro que tu escreveu, mas eu vou fazer todas as modificações que eu quiser na história e eu te dou o crédito como o argumentista original”. E então nós ganhamos e esse prêmio é meu, do meu irmão, do Felipe e mais umas, sei lá, 40 pessoas que fizeram parte dessa coletânea, de 10 ou 12 histórias e cada história tem duas ou três pessoas envolvidas.
Bernardo: Eu acho que com a volta de um evento. Um evento que tenha um Beco do Artistas em que os artistas possam se encontrar e se reunir, seja um evento Regional ou Nacional para que as pessoas daqui percebam o que as pessoas lá foram estão fazendo. Não é brincadeira não, mas se você parar pra pensar quem é que publica quadrinho? Pouquíssimas pessoas publicam quadrinhos no Piauí. Então, primeiro a realização de evento e segundo caminho é a publicação de mais quadrinhos no Piauí. Talvez tenham gente publicando na internet em sites, online e com certeza tem gente que a gente não conhece, mas aqui no cenário piauiense não conheço ninguém além de mim e do meu irmão que publica e imprime quadrinhos no Piauí. Por exemplo, o Leno Carvalho é um desenhista fantástico que trabalha para fora e ele não tem trabalho autoral e não imprime nada. Então o “The Rift” quadrinho que ele desenha, a gente imprimiu/publicou. Nós entramos em contato com os escritores nos Estados Unidos para imprimir, senão o Leno não teria nada impresso aqui no Piauí. E tem gente que só publica quando vai pra um evento e não tem continuidade. Mas cada um tem que dar seus pulos pra publicar, fazer uma catarse e publicar nem que seja online pra você criar público.
Bernardo: Eu sou muito impaciente. Para eu desenhar eu tenho de ter um horário pra desenho. É questão de organização de tempo. Tive suspeita de Covid19 e fiquei 10 dias isolado no quarto e de repente me dei conta que tinha um quadrinho para continuar que estava parado há seis meses e em três dias eu fiz 12 páginas. Ou seja, se eu tiver um dia da semana para desenhar, já tinha história escrita. Eu não sou um escritor profissional. Eu sou muito intuitivo. Começa como uma brincadeira e vai fluindo. Foices & Facões teve uma fonte histórica e às vezes eu escrevia por cena, tinha um prazo a cumprir então foi uma criação diferente do Máscara de Ferro, por exemplo. É como aquele ditado é 1% arte e 99% transpiração. Quadrinho é muito meticuloso, cena a cena e parte mais difícil é criar o layout da página.
Bernardo: Rabibi de Craig Thompson, Diomedes de Lourenço Mutarelli, Promethea de Alan Moore, Batman Ano Um de Frank Miller, Mangá: Nausicaä do Vale do Vento de Hayao Miyazaki, Mágico Vento de Bonelli.
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Leia o texto anterior: Os quadrinhos no Piauí a partir da perspectiva do desenhista Bernardo Aurélio – Parte 1
JOII – Grupo de pesquisa em Jornalismo, Inovação e Igualdade da Universidade Federal do Piauí.
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