A luta da ciência contra o capital começa pelo reconhecimento de que precisamos mudar esta realidade
As imagens que circulam nas redes comprovam a entrada completa e total do Brasil no mapa da pobreza. As longas filas de doação de ossos de boi e a refeição à base de feijão quebrado ou mesmo a notícia de famintos que roem ossos crus nestas mesmas filas não apenas saltam aos olhos, mas também gritam por uma reação imediata por parte de toda a sociedade brasileira.
Por outro lado, a crise que ataca toda ciência viveu outro triste episódio quando o sistema eletrônico do CNPq saiu do ar (um apagão digital das plataformas). E tudo isso acontece ao mesmo tempo em que os governos estaduais abrem todas as atividades comerciais e sociais mesmo sob o risco da variante delta e com índices ainda muito baixos de vacinação para a população.
Este recorte desanimador é também um alerta sobre o papel necessário para a ciência. Dos dois caminhos possíveis a seguir, não há muito o que discutir: no primeiro deles, aquele que foi seguido como decorrência da pandemia, segue o acúmulo de riqueza pelos mais ricos e aprofundamento da pobreza no meio da população. O segundo caminho, menos trivial, mas totalmente necessário é o de confronto contra o capital. Antes de ser uma missão utópica, resta para a ciência uma reinvenção sincera e concreta de fazer do conhecimento uma ferramenta de libertação e quebra de desigualdade social. Em uma primeira instância esta é a esperança que resta no meio de tanta destruição.
Para as ciências exatas e duras, isso parece ainda ser mais complexo, dada a universalidade do conhecimento que é buscada. Porém, antecedendo todas estas premissas há uma humanidade necessária (toda ciência é humana) e que requer uma abordagem totalmente inovadora em soluções que devem priorizar o financiador de todas as pesquisas (que é este mesmo povo que agora sofre com a pobreza, fome e insegurança).
Humanizar todas as ciências é um passo fundamental para quebrar a polarização do ego do pesquisador. Não é o “Meu” problema que importa, mas sim o problema de quem sofre (de todo o povo brasileiro). A luta da ciência contra o capital começa pelo reconhecimento de que precisamos mudar esta realidade. Tão importante quanto os problemas universais são os nossos problemas, é a perspectiva de fazer toda uma nação sonhar outra vez e isso passa pela promoção de uma próxima geração de cientistas. Precisamos construir tudo novamente.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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