Se é Bayer, é bom? SCIARÁ

terça-feira, 27 dezembro 2016

Professores protestam contra a parceria entre a UFC e a Bayer. Companhia alemã está envolvida em produção de sementes transgênicas e agrotóxicos junto com a empresa Monsanto

O Coletivo Graúna, de docentes da Universidade Federal do Ceará (UFC), elaborou nota contrária ao termo de cooperação estabelecido, no fim de outubro, entre a UFC e a Bayer, para o projeto Polinização de Culturas Agrícolas, que será 100% financiado pela companhia alemã. No texto, divulgado no portal da universidade, o professor Breno Freitas, do Departamento de Zootecnia, explica que a iniciativa visa à conservação das abelhas e, consequentemente, à produção agrícola. O projeto identificará as abelhas que polinizam cada tipo de cultura, resultando no “Manual sobre os polinizadores da cultura brasileira”.

Há também uma declaração do Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFC, professor Antonio Gomes, afirmando que “a parceria universidade-empresa é o que deve acontecer cada vez mais frequentemente, sendo um fator de desenvolvimento tanto das universidades quanto da sociedade, além de servir para a formação de estudantes e ser uma fonte de recursos financeiros”. A afirmação vai ao encontro do novo marco legal de ciência, tecnologia e inovação do País, instituído pela Lei nº. 13.243/2016, que prega a “promoção da cooperação e interação entre os entes públicos, entre os setores público e privado e entre empresas”.

Trangênicos e agrotóxicos

Em setembro de 2016, foi anunciada a fusão da Bayer com a Monsanto, um negócio de US$ 66 bilhões, que gerou controvérsias no Brasil e no mundo. Na foto, Werner Baumann (Bayer AG) e Hugh Grant (Monsanto) selando a parceria.

Fazendo alusão ao slogan “Se é Bayer é bom”, o Coletivo Graúna questiona se o que é bom para a Bayer é bom também para o povo brasileiro, pois a fusão com a Monsanto resultou na maior empresa de insumos agrícolas do mundo, produzindo sementes transgênicas de soja, milho e algodão, além de mais de 80 agrotóxicos. Entre eles está o herbicida Roundup, à base do glifosato – reconhecido como provavelmente cancerígeno pela Internacional Agency for Research on Cancer, da Organização Mundial de Saúde.

Utilizando dados do Dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva ABRASCO, de 2015, os professores do Coletivo explicam que “o Roundup responde por mais de 45% do volume de venenos consumidos em nosso país e nos deu o lamentável título de campeão mundial no consumo de agrotóxicos, com uma média de mais de cinco quilos de veneno para cada brasileiro/a por ano”.

Leia, abaixo, trecho na nota:

Ao pressionarem as políticas públicas de ciência e tecnologia e ao intervirem diretamente na produção do conhecimento por pesquisadores/as e pós-graduandos/as nas Universidades, empresas como a Bayer acirram a crise de legitimidade em que estão lançadas, como desvela Leher:

Com efeito, tais pesquisas buscam legitimar: o uso do glifosato na soja, ignorando os fortes indícios de suas consequências cancerígenas para a saúde das pessoas, especialmente nas fumigações; as sementes transgênicas que permitem inédito monopólio das sementes em poucas corporações, em detrimento das variedades criollas, do meio ambiente e da saúde humana; o uso das bacias de água doce para a obtenção de celulose, comprometendo as bacias que são patrimônio dos povos; a construção de mega represas para beneficiamento de minerais, em detrimento do meio ambiente e das áreas indígenas e camponesas; as mineradoras a céu aberto, corroendo a saúde das populações e contaminando a água; o patenteamento da biodiversidade nativa em favor das corporações do complexo agro e farmacêutico; a constituição de grandes latifúndios para produzir o agrocombustível valendo-se de força de trabalho submetida a condições análogas à da escravidão mais selvagem e, não menos importante, da segurança alimentar dos povos (Leher, 2015, p. 9).

Compreendemos que a crise institucional contemporânea da universidade pública, fruto da crise de legitimidade, agrava-se no contexto atual de ultra-neoliberalismo e de desconstrução da democracia, mas acreditamos firmemente que a saída não é nos aliarmos aos poderes econômico e político hegemônicos, nem nos subordinarmos às suas exigências, dobrando os joelhos diante de seu dinheiro.

Como servidores/as públicos/as, professores/as e pesquisadores/as da UFC, acreditamos e estamos construindo uma outra Universidade, efetivamente pública, democrática, referenciada no povo e fomentadora da formação de pessoas e da produção de conhecimentos que promovam a superação das desigualdades e das injustiças; a liberdade criadora do ser humano; a emancipação das sociedades. Em tempos de crise planetária e civilizatória, estamos trabalhando para a garantia dos direitos dos povos e das comunidades indígenas, camponesas, quilombolas, pescadoras e marisqueiras, rumo à justiça ambiental e climática.

Sobre o Coletivo Graúna:

Blog: https://coletivograunace.wordpress.com/

Facebook: https://www.facebook.com/coletivograuna/

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