Um lugar para se fabricar (quase) qualquer coisa Trilhando a Ciência

quarta-feira, 21 dezembro 2016

Os FabLabs despontam como os espaços de inovação mais promissores do planeta, e no Nordeste já existem cinco!

Muito se fala sobre Revolução Digital, mas os meios de produção e consumo da nossa sociedade ainda parecem bastante atrelados aos fundamentos e desdobramentos da velha Revolução Industrial. Tanto que uma maneira mais parcimoniosa de considerar a questão vai chamar a atual fase de produção digitalmente orientada de “4ª Revolução Industrial”.

Ela poderia ser considerada desde o início da fabricação digital – com as linhas de produção eletrônicas – até o que há de mais atual, ou seja, a tendência de conexão de objetos digitalmente fabricados com a internet, a assim chamada “internet das coisas” ou “indústria 4.0”.

Continuidades e descontinuidades consideradas, o que interessa mesmo é que sempre tem gente por aí querendo mudar o mundo.

O movimento maker é a encarnação sociocultural das possibilidades criadas pelos maquinários de fabricação digital contemporâneos, aliados à lógica do open acess e da comunicação e compartilhamento em rede. O princípio é o Do It Yourself (faça você mesmo), porém com a ousadia de desafiar o papel tradicional do consumidor, empoderando-o para que qualquer um que precise de alguma coisa fabricável possa ser também um ator no processo de fabricação

Finalmente, chegamos aos FabLabs, que são os ecossistemas propícios a esse tipo de movimento? Mas você pode perguntar por que usar o termo “ecossistema”, ao invés de “ambiente” ou “espaço”?

A resposta é simples: Porque, em seus próprios princípios, um FabLab incorpora determinados processos, determinadas redes e determinadas interações que são necessariamente dinâmicos e envolvem pessoas. Mais que um conceito, estamos falando de um movimento.

Qualquer FabLab que se preze tem propósitos, mas cada um deles começa com princípios, e uma característica básica de todos são os open days: Pelo menos uma vez por semana as portas tem que estar abertas a toda sociedade, livre para utilizar o espaço e seus recursos, com ajuda, e sem pagar nada além dos insumos.

Livre circulação de ideias, pessoas e materiais

Além de open software e open hadware, os FabLabs são moradas privilegiadas para o open design. Projetos são compartilhados em rede, por pessoas do mundo todo.

Se você quer desenvolver uma inovação, não precisa necessariamente projetar tudo desde o início e pensar todo o processo. Pode utilizar um código aberto e focar no lócus de inovação que lhe interessa e mais: conversar com gente do mundo inteiro a respeito.  E isso pode garantir um efeito dominó de acessibilidade criativa.

“Acompanhando a rede FabLab Brasil, conectada com o  mundo, você vê um impacto positivo muito grande em uma série de questões, inclusive de empoderamento, de inovação social.  Uma população agora consegue ter meios para tratar de seus próprios problemas. A gente vê exemplos de comunidades que criaram soluções tecnológicas locais para tudo que eles tinham necessidade, desde incubadoras de bebê na África à antenas wi-fi em vilarejos do Oriente Médio”.

Quem explica é a professora Ivy Quintella (foto), doutora em urbanismo e docente da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que também conta a novidade: Maceió tem a chance de contar com um Fab Lab acadêmico em breve!

O projeto já está sendo estruturado dentro do Centro de Tecnologia (CETEC – UFAL), mais especificamente no Laboratório de Computação Científica e Visualização (LCCV), num processo integrado com a Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design (FAU) e o Instituto de Computação (IC).

Pelos Lugares

Tecnicamente, Fab Lab significa Fabrication Laboratories, ou “laboratórios de fabricação” – por mais que eu e você tenhamos pensado que era  por causa da hashtag #fabulous.

De acordo com o site oficial da rede de FabLabs no mundo (fablabs.io ), eles podem ser definidos como ambientes que “fornecem um acesso amplo aos meios modernos de invenção. Eles começaram como um projeto de extensão do Center for Bits and Atoms (CBA) do MIT, e se tornaram uma rede colaborativa e global”.

Essa mesma fonte, no dia de hoje (terça-feira, 20/12/2016), lista 1051 deles no mundo: São 32 no Brasil, dos quais cinco no Nordeste: Camaçari e Itabuna (Bahia), Fortaleza (Ceará), Recife (Pernambuco) e Aracajú (Sergipe).

Ambiente típico

Em um ambiente que entrou para a rede mundial de FabLabs (existem os não oficias) espera-se encontrar softwares de modelagem 2D e 3D, preferencialmente open source ou, pelo menos, de baixo custo.   

Também é indispensável o maquinário de fabricação digital CNC (comando numérico computadorizado, que integra a operação de máquinas a partir de um código, utilizado na fabricação de peças complexas, seriadas ou de grande precisão).

Essas máquinas, como as impressoras 3D, são fundamentais para haver popularização de acesso, e devem trabalhar integradas a um maquinário tradicional, por exemplo: ferramentas de maceraria e recursos de prototipagem eletrônica, como o popular arduíno.

Outros recursos indispensáveis   seriam coisas como cortadoras; fresadoras pequenas de capazes de fazer circuitos integrados, usados na criação  e replicação de todo tipo de máquina; fresadoras grandes, que garantem a criação de peças em três eixos. Exemplos? Inúmeros, que vão de guitarras a barcos.

Recursos Humanos

As figuras típicas do Fab Lab são o Fab Manager e o guru.

O Fab Manager seria o coordenador técnico do laboratório, aquela pessoa que conhece as máquinas, os projetos e comenda a dinâmica do espaço; e os gurus, nome para os técnicos facilitadores que vão atender diretamente ao público ao geral, atuando como facilitadores até que alguém chegue ao ponto de pôr a mão na massa sozinho e, por sua vez, até auxiliar os gurus no processo de orientação.

Está na essência dos FabLabs terem uma comunidade de usuários ativos e serem os mais horizontais possíveis.

O outro lado da história…

… é que já aconteceu de inovações criadas em FabLabs serem escalonadas para um esquema industrial típico, meio que numa escala social até os status quo corporativo, onde não há como fugir dos moldes das empresas mais típicas, com fins lucrativos e etc.

Mas sem ingenuidade, também não devemos imaginar que esse tipo de resultado signifique apenas um comprometimento cínico do potencial disruptivo do modelo FabLab: Sintomaticamente, as duas empresas mais lucrativas que surgiram de fab labs até hoje vendem impressoras 3D.

O movimento maker e todas as pessoas que odeiam a obsolescência programada de seus produtos eletrônicos e digitais agradecem!

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