É fundamental que o povo se aposse das conquistas que só a educação de qualidade confere a uma nação
Não há como ver nenhum lado positivo desta pandemia (mesmo que do alto do último resquício de otimismo). Para aqueles que achavam que este seria um período de transformação, crescimento, caridade e humanidade, os resultados chegam a ser frustrantes. Em um país que se aproxima da triste marca de meio milhão de mortos e que aguarda a terceira onda nos bares e festas clandestinas, a vacina chega em ritmo de conta gotas. E por mais que a ciência tenha a maternidade sobre as vacinas, esta continua a ser atacada pelo negacionismo. O olho do furacão pode ser o primeiro pedido de fechamento de uma instituição de ensino superior. E deste processo, se concretizado, representará a destruição da última barreira que separa a esperança da barbárie no Brasil.
E apenas o povo pode parar esta escalada de destruição sobre o conhecimento. Para isso, é fundamental que o povo se aposse das conquistas que só a educação de qualidade confere a uma nação. Há, de fato, uma distância entre a sociedade e a academia que precisa urgentemente ser diminuída pelas ferramentas que dispomos. As redes sociais são definitivamente um caminho viável. Em tempos de influenciadores digitais com milhões de seguidores, uma simples postagem de poucas linhas pode trazer impactos consideráveis (para ambos os lados). Um exemplo recente vem da matéria publicada no The Intercept.
É bem verdade que o perfil de quem faz a Universidade pública em 2021 é totalmente diferente do que era em 1990, por exemplo. E é esta esperança que ainda alimenta as instituições. Porém, esta revolução acadêmica citada na matéria no The Intercept precisa ser mais incisiva. O povo que adentrou nos portais da academia precisa usar a sua voz para defender a sua causa. A mitificação e a pompa do trono acadêmico com linguagem inacessível precisam ser desconstruídos com toda a urgência, sob o custo de não termos mais estrutura após o próximo iceberg (tal qual o Titanic, espera-se que os acadêmicos continuem a tocar seus violinos – ou seja, continuem publicando seus artigos internacionais enquanto o barco afunda). Só que o povo curte funk!!!!
Para complicar ainda mais, dentro da superficialidade em que vivemos mergulhados, o limite de atenção termina no título. Nesta explosão de textos direcionados por inteligências artificiais, conteúdo passou a ser o titulo das matérias. Isso significa que além da forma, temos de mexer no conteúdo de nossas divulgações científicas. A título de ilustração, se um canal de youtube fala de ciência dentro da temática de jogos de internet já ganha um público jovem extremamente envolvido com a causa.
É fato que fazer divulgação científica em tempos de pandemia é tarefa dificílima. Sair da zona de conforto já não é suficiente. É necessário inovar e mudar completamente a abordagem para fazer chegar a informação nas pessoas em todas as faixas etárias. Isso é necessário para fazermos com que quando a poeira de todo este caos baixar tenhamos ainda os prédios de pé e a força suficiente para reconstruir todos os sonhos novamente.
Referência:
The Intercept (link: https://theintercept.com/2021/05/18/revolucao-academia-brasileira-felipe-neto-precisa-conhece-la/)
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Leia o texto anterior: Mata Atlântica
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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