Dia da Mata Atlântica - 27 de maio: cinco estados nordestinos estão perto do desmatamento zero
Embora, no geral, os números relacionados à Mata Atlântica não sejam animadores, seis estados da região nordeste estão melhorando os indicadores para esse bioma brasileiro. Rio Grande do Norte, Alagoas, Ceará, Paraíba e Pernambuco aparecem na condição próxima ao desmatamento zero, ou seja, menor de 100 hectares. Os outros que estão na mesma condição são Goiás, Espírito Santo e Rio de Janeiro. No período de 2017-2018 e de 2018-2019, nove estados apareciam com menos de 100 hectares desflorestados.
Um estado que chama a atenção é o Piauí, que teve uma queda drástica no desmatamento neste último período. Entre 2017-2018 aparecia no quarto lugar da lista, com 2.100 hectares, no período 2018-2019 foram desflorestados 1.558 hectares e neste último período, apenas 372 hectares,76% de redução, caso a ser comemorado.
RN: bem e mal na foto
Ainda que esteja entre os estados com desmatamento próximo de zero, o Rio Grande do Norte, contraditoriamente é um dos dez estados onde o desmatamento cresceu entre 2019 e 2020. Entre 2019 e 2020, o desmatamento da Mata Atlântica se intensificou em dez dos 17 estados que compreendem o bioma: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ceará, Alagoas, Rio Grande do Norte, Goiás, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Espírito Santo. Nos quatro últimos (RJ, MS, SP e ES), o aumento foi de mais de 100% em relação ao período anterior – sendo que em São Paulo e no Espírito Santo este ultrapassou 400%. A manutenção do alto patamar de perda da vegetação nativa, com o crescimento do desmatamento em diversos estados, ameaça intensamente o bioma e reforça a necessidade de ações de preservação e restauração florestal.
As informações são do Atlas da Mata Atlântica, estudo realizado desde 1989 pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, unidade vinculada ao Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação (INPE/MCTI), lançado na quarta-feira, 26 de maio, véspera da data em que é celebrado o Dia Nacional da Mata Atlântica (27/5). A execução técnica ficou a cargo da Arcplan.
No total, foram desflorestados 13.053 hectares (130 quilômetros quadrados) da Mata Atlântica no período – dado que, apesar de 9% menor que o levantado em 2018-2019 (14.375 hectares), representa um crescimento de 14% em relação a 2017-2018 (11.399 hectares), quando se atingiu o menor valor da série histórica.
Os três estados que mais desmataram no período anterior seguem no topo do ranking, embora mostrem ligeiras reduções em seus índices: Minas Gerais (de 4.972 para 4.701 hectares), Bahia (de 3.532 para 3.230 hectares) e Paraná (de 2.767 para 2.151 hectares). Junto de Santa Catarina e do Mato Grosso do Sul, respectivamente o quarto e o quinto da lista, eles acumulam 91% da perda de vegetação da Mata Atlântica entre 2019 e 2020.
“Mesmo que tenhamos uma diminuição de 9% do desmatamento em relação a 2018-2019, ali o aumento havia sido de 30%, então não podemos falar em tendência de queda”, explica Luís Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica. “Além disso, no que se refere à Mata Atlântica, 13 mil hectares é muito, porque se trata de uma área onde qualquer perda impacta imensamente a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, como regulação do clima e disponibilidade e qualidade da água”, afirma.
Segundo ele, a grande preocupação é ver estados que já estiveram muito próximos de zerar o desflorestamento voltando a mostrar aumentos expressivos. “São Paulo e Espírito Santo são os maiores exemplos disso”, completa.
Desmatamento em áreas metropolitanas e litoral
Enquanto nos estados que abrangem a maior parcela de desmatamento do bioma no país a ocupação agrícola pode ser apontada como principal vetor, em regiões como as de São Paulo e do Rio de Janeiro, onde, proporcionalmente, o desmatamento se mostrou muito acentuado, a pressão está no entorno das áreas metropolitanas e no litoral – ocorrendo, acima de tudo, por conta da expansão imobiliária e pelo turismo.
Para Luís Fernando, o principal problema é a falta de fiscalização. “Os governos precisam fazer valer a Lei da Mata Atlântica, que não permite a conversão de áreas florestais avançadas, e garantir o desmatamento ilegal zero por meio do combate às derrubadas não autorizadas”, explica.
O levantamento é realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica, uma organização não governamental, em parceria com o INPE/MCTI, por meio de imagens de satélite e tecnologias na área da informação, do sensoriamento remoto e do geoprocessamento. O projeto é fruto de um acordo de cooperação técnica pioneiro, estabelecido em 1989, voltado a determinar a distribuição espacial dos remanescentes florestais e de ecossistemas associados da Mata Atlântica, monitorar as alterações da cobertura vegetal e gerar informações permanentemente aprimoradas e atualizadas desse bioma.
“Os avanços tecnológicos na área da informação, do sensoriamento remoto, do processamento de imagens de satélites e da geoinformática vêm contribuindo favoravelmente para a realização do Atlas, tornando-o mais preciso e detalhado, além de mais acessível ao público em geral”, afirma Silvana Amaral, coordenadora técnica do Atlas da Mata Atlântica pelo INPE.
Restauração como prioridade
Hoje a Mata Atlântica mantém apenas 12,4% de sua vegetação original – que se distribui por mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados (três vezes a área da Suécia). Além de a proporção estar muito abaixo do limite mínimo aceitável para sua conservação, que é, segundo estudo da revista Science, de 30%, as florestas naturais encontram-se restritas a espaços extremamente fragmentados (a maior parte não chega a 50 hectares) e, em 80% dos casos, encontram-se em propriedades privadas.
A situação atual contrapõe-se a importantes referências internacionais que – pela conservação de sua rica biodiversidade e de seu potencial no combate às mudanças climáticas – apontam a Mata Atlântica como uma das prioridades mundiais para a restauração florestal. Mais do que isso, sua proteção e seu reflorestamento são fundamentais para a garantia de serviços ecossistêmicos em uma região que abriga 70% da população brasileira e responde por 80% da economia nacional.
Dessa forma, para a SOS Mata Atlântica, mais do que interromper o desmatamento da Mata Atlântica, é preciso, nesta que é a Década de Restauração de Ecossistemas da ONU, tornar sua recuperação uma prioridade na agenda ambiental e climática.
“A restauração de ecossistemas é uma solução baseada na natureza para alcançarmos o cenário de redução de 1,5°C de aquecimento global estabelecido no Acordo de Paris. As maiores e mais baratas contribuições que o Brasil pode dar ao combate das mudanças climáticas são as soluções baseadas na natureza. O caso da Mata Atlântica tem tudo para se tornar uma referência global para a proteção e recuperação de florestas tropicais e hotspots ameaçados. Sua restauração geraria benefícios não só para a população e a economia nacionais, mas também para o planeta e a humanidade como um todo”, aponta Guedes Pinto, diretor da ONG.
Para Malu Ribeiro, diretora de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, é fundamental que os estados que compõem o bioma vejam na década da restauração uma oportunidade para regenerar e recuperar a floresta. “Deveríamos estar comemorando a renovação, porém ainda estamos falando sobre como conter o desmatamento, que não para de crescer”, alerta. “A sociedade e os gestores precisam encarar essa como uma agenda estratégica para o Brasil principalmente em relação às emergências climáticas.”
SOS Mata Atlântica
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