Quando a educação é atacada mortalmente, tem-se a garantia de que gerações de subserviência e fome conviverão com a injustiça social
Imagine que em pleno século XXI ainda exista um país (fictício) que não entenda a importância da educação para o seu povo, e até pior, aplique esta ideologia para não mais investir em educação, ciência e tecnologia. A desvalorização da educação pública em todos os níveis leva a um processo de redução brusca no nível de escolaridade da população, aproximando-os de uma escravidão moderna que normalmente é antecipada pela perda de direitos trabalhistas (substituição do empregado pelo desempregado “empreendedor”).
Nesta configuração de completa escassez de direitos e na inviabilidade de formação, resta a estas pessoas aceitar qualquer proposta a qualquer nível de remuneração. E isso inclui receber por produção e trabalhar por mais de 20 horas por dia, sem férias, FGTS, sem sábado e nem tão pouco domingo.
E nesta jornada ingrata, aceitar seu destino passa a ser mais um efeito colateral da maldita síndrome de vira-lata que segue sendo difundida no mundo nas mais diversas áreas para aqueles povos que perderam a esperança neles mesmos. Com isso, as pessoas preferem atacar os bancos públicos porque enfrentam filas. E passam a ocupar as mesmas filas nas instituições privadas. Reclamam dos correios, da educação pública… Para depois não poder pagar a mensalidade do curso que desejam fazer. E com isso, internalizam que não podem mesmo levar à frente seus sonhos, dizem que educação é “coisa de rico”, já que doutor só se forma mandando os filhos para fora do país. Qualquer relação com o Brasil colônia de séculos atrás é mera coincidência. Afinal estamos em 2021.
Restará a este pobre país fictício venerar a cor da grama do vizinho, que é alimentada por seu próprio trabalho. Pobre povo, não imagina que a grama cresceria ainda mais verde em seu quintal, se ele assim tentasse. Esta falta de perspectiva termina por fechar um ciclo que mantem a força de trabalho de nações dominadas a cultivar jardins alheios ao preço do suor de cada dia.
E este processo é fundamental para garantir o luxo de alguns em detrimento do trabalho dos outros. Natural? É óbvio que não. Todos precisam ter vida digna. E esta pandemia acelerou o processo de exposição da subserviência de longo prazo de algumas nações.
Quando a educação é atacada mortalmente, tem-se a garantia de que gerações de subserviência e fome conviverão com a injustiça social de modo muito pacato.
Mas… Que bom que estamos tratando de um país fictício. Nenhuma nação permitiria um ataque sem precedentes à educação dos seus próprios filhos. Não é verdade?
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Leia o texto anterior: Gil do vigor da educação
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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