Pesquisadores apontam que o uso intensivo de pesticidas é o grande responsável pelo declínio dos polinizadores no mundo
O mundo está preocupado com o desaparecimento dos polinizadores. Prova disso foi o trabalho elaborado por uma equipe internacional de 12 cientistas, entre os quais três brasileiras, Blandina Viana, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Ariadna Lopes, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Carmem Pires, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, de Brasília, que propõe a implementação de 10 ações políticas para salvaguardar os serviços de polinização fundamentais à produção agrícola.
O estudo foi publicado na revista científica Science confirmando o declínio em larga escala dos polinizadores em várias partes do mundo. O sistema agrícola convencional, com destaque para seu uso intensivo de pesticidas, é apontado no artigo como o grande responsável pelo declínio dos polinizadores em larga escala no nordeste da Europa e nos Estados Unidos e em queda menos acentuada, mas exigindo urgente monitoramento, em outras regiões do planeta, incluindo o Brasil.
Conservação
Blandina Viana e sua equipe vem há anos desenvolvendo trabalhos sobre os polinizadores na Universidade Federal da Bahia, onde ela é professora de disciplinas na área de Ecologia, orientadora de estudantes de Graduação e pós Graduação e coordenadora de projetos de pesquisa e extensão voltados para conservação dos polinizadores e dos serviços de polinização. “O foco principal das minhas pesquisas é a polinização em agro-ecossistemas. Busco avaliar os efeitos do uso da terra e dos sistemas agrícolas sobre os polinizadores e polinização e identificar práticas amigáveis aos polinizadores, principalmente àquelas de base agroecológicas”, esclarece.
De acordo com Blandina (foto), o artigo publicado na Science é resultado de uma Avaliação Temática sobre Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos, demandada pelos países signatários da Plataforma Intergovernamental sobre a Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (Ipbes), painel intergovernamental independente aberto a todos os países-membros das Nações Unidas. Essa avaliação contou com a participação de 77 especialistas de vários países, incluindo o Brasil, que produziram um extenso relatório, baseados nos conhecimentos científicos, tradicionais e indígenas, e um resumo para os formuladores de políticas. “Esse resumo foi aprovado na plenária do Ipbes, em fevereiro desse ano, em Kuala Lumpur, na Malásia, por representantes de 124 países membros das Nações Unidas e entregue aos representantes da Convenção da Diversidade de Biológica (CDB), para subsidiar a elaboração das decisões e recomendações de políticas a serem seguidas pelos países signatários”, detalha a pesquisadora que coordenou um dos capítulos da avaliação temática do Ipbes da ONU.
Sistemas diversificados
Essa avaliação, segundo ela, confirmou que os polinizadores silvestres e manejados “trazem inúmeros benefícios para os seres humanos, incluindo os efeitos diretos sobre a produção de frutas, legumes e óleos”. Mas esses polinizadores estão em declínio em diversas partes do planeta, e “dentre as causas principais destaca-se o sistema agrícola convencional”. Foi com base nisso, acrescentou, que “sugerimos 10 ações políticas que os governos e os formuladores de políticas em todo o mundo devem considerar para salvaguardar os polinizadores e os serviços de polinização”.
A pesquisadora reconhece que todas as 10 ações apontadas são relevantes e se complementam, mas ela destaca o que acredita ser mais importante para o Brasil em prol dos polinizadores. “Entre as dez, eu destacaria aquelas que visam apoiar os sistemas agrícolas diversificados, a exemplo dos sistemas agroflorestais e policultivos, que são práticas que ajudam a manter os polinizadores por proverem a eles alimento e abrigo; e conservar e restaurar a “infraestrutura verde” (uma rede de habitats entre as quais os polinizadores podem se mover) em paisagens agrícolas e urbanas. Para polinizar as culturas, os polinizadores silvestres necessitam de habitats em torno dos cultivos que forneçam locais de nidificação e recursos florais. Essas manchas de habitat precisam ser suficientemente próximas para que insetos ou pequenos pássaros voem entre elas – não mais de 500 m de distância para as abelhas médias”, opina.
Manejo sustentado
Apesar de os resultados apontarem diretamente para o setor agrícola, a pesquisadora acredita que não haverá resistência por parte dos agricultores e sim um acordo envolvendo os diferentes setores sociais. “Qualquer proposta nova, em princípio, provoca algum tipo de resistência, mas eu creio que os diferentes setores sociais envolvidos e interessados no tema serão capazes de chegar a um acordo, pois todos sairão ganhando com a conservação e o manejo sustentado dos polinizadores”, avalia Blandina.
Além disso, ela informa que há diversas iniciativas sendo desenvolvidas em muitos países para conscientizar o setor agrícola. No Brasil, o destaque da pesquisadora vai para as ações da Confederação Brasileira de Apicultura e Meliponicultura, juntamente com as Federações estaduais e as associações, da Associação Brasileira de Estudos Sobre Abelhas (A.B.E.L.H.A), do Projeto Polinizadores do Brasil, da Campanha Sem Abelha Sem Alimento, e do projeto de Ciência Cidadã Guardiões da Chapada. “Eles têm contribuído bastante na sensibilização e popularização do conhecimento”, enfatiza.
Veja o artigo completo da Revista Science
Edna Ferreira
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