Aumento do tempo de vida das pessoas deve ser encarado pelas políticas públicas com novas formas de atender a essa “nova” população
Os idosos já são quase 25 milhões em todo o país e a estimativa é que esse número quase triplique, alcançando até 2050 os 69 milhões. É o que aponta o Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em setembro de 2015, indicando que a sociedade brasileira está envelhecendo em um nível acima da média mundial.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2015, do IBGE, divulgados no ano passado mostram que de 2005 para 2015, a proporção de idosos de 60 anos ou mais na população do Brasil passou de 9,8% para 14,3%. A pesquisa também registra queda no nível de ocupação da população de 30,2% para 26,3% e na a proporção de idosos ocupados que recebiam aposentadoria, que caiu de 62,7% para 53,8%.
Verbena Santos Araújo, pesquisadora e professora da UFRN no curso superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar e no Curso Técnico em Enfermagem, cuja tese de Doutorado defendida na Universidade Federal da Paraíba teve por objeto as Representações sociais sobre o cuidado construídas por idosas.
Realidades diferentes
A pesquisadora refletiu a importância do cuidado sob diferentes aspectos como a visão que o idoso tem sobre a sua condição, o papel que ele exerce dentro da conjuntura familiar e o modo como a sociedade e o Estado o acolhe.
O trabalho contou com o relato de 40 mulheres, de dois grupos de assistência à terceira idade na cidade de Campina Grande, na Paraíba. “Foi uma experiência bastante positiva, porque nós tivemos contato direto com mulheres formadas para o envelhecimento e mulheres que não tiveram essa formação, então nós tivemos o mesmo perfil de idade, com realidades bem diferentes” relata a professora.
Entre as conclusões a pesquisadora alerta que uma educação voltada para a terceira idade permite que o idoso se identifique nessa etapa de vida, desenvolva uma compreensão melhor de si e mantenha sua capacidade de autonomia. “É um paradigma que precisa ser quebrado, de que o idoso é incapaz de falar e se posicionar única e, exclusivamente, por conta da idade, como se ele fosse um ser que depois dos 65 anos e retirado do mercado de trabalho, também, devesse ser afastado do convívio social. O número de idosos está aumentando e essa realidade precisa mudar.”
Feminização da velhice
Verbena, também, reflete no seu trabalho sobre um processo que ocorre particularmente nas mulheres, que ela chama de Feminização da Velhice. A pesquisadora explica que esse processo está atrelado ao papel que grande parte das mulheres é designada a exercer no decorrer da vida, que acaba por ganhar um peso maior na velhice: o papel do cuidado.
“Esse processo faz com que a mulher, principalmente, nessa etapa de vida, seja única e exclusivamente vista com aquela que cuida e que deve cuidar do seu parceiro. Os filhos saem para trabalhar e os netos ficam sob a guarda da mulher. Isso é resultado de todo um processo cultural que pesa muito na questão do autocuidado, no desenvolvimento da autoestima e no potencial de socialização dessas mulheres que muitas vezes deixam de trabalhar para si, para cuidar dos entes familiares”.
A partir da experiência com as mulheres participantes da pesquisa, ela pontua que a socialização é um dos meios mais eficazes para desconstruir esse arquétipo: “O que eu pude observar nesses dois grupos é que um pouco disso já está sendo quebrado a partir de instrumentos que permitem o contato dessas mulheres com outras mulheres, então elas buscam fazer uma formação, buscam novas formas de se engajar socialmente, integram a diferentes grupos de convivência como aulas de dança e atividades físicas. Isso ajuda a desconstruir a questão da mulher ser apenas taxada como aquela que precisa cuidar dos outros a vida inteira, elas passam a cuidar mais de si.”
Inclusão digital na terceira idade
O pesquisador Bruno Araújo da Silva Dantas, doutorando do Centro de Ciências da Saúde da UFRN, afirma que aproximar a pessoa idosa da tecnologia pode ser uma medida eficaz na melhoria da sua qualidade de vida, porque ela permite que o idoso conquiste autonomia e desenvolva sua cognição. “O que acontece no envelhecimento é a perda dessa função motora e deficiência no sentido das alterações fisiológicas, por exemplo, na atrofia cerebral, então quando ele pratica movimentos dinâmicos propostos pelas novas tecnologias, ele desenvolve um aprendizado maior”.
A inclusão digital do idoso é uma medida que precisa ser defendida pelo Estado por meio de políticas públicas. Lançar incentivos para aquisição de equipamentos para o idoso com uma flexibilidade de impostos, favorecer o seu reingresso e inclusão em tipos de informação e educação continuada, são medidas básicas que podem auxiliar aqueles que não tenham uma capacidade hoje de usar um equipamento possam estar cada vez mais inseridos no âmbito social.
Tecnologias precisam estar ao alcance dos idosos
O relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que os brasileiros vão viver em média até os 75 anos, mas com boa saúde só até os 65. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apurou que em 2010 eram 3 milhões e duzentos mil o número de idosos em situações de saúde precárias e dificuldades básicas, e que a previsão para 2020 é que esse número alcance os 4 milhões e meio.
No tocante aos avanços tecnológicos, as reabilitações humanas através da confecção de próteses com tecnologia 3D estão cada vez mais próximas de se tornarem acessíveis. É o que garante o engenheiro projetista e pesquisador da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) Rodolfo Ramos Castelo Branco.
Ele destaca que a tecnologia permite a criação de próteses com dimensões próximas da região do corpo que precisa da intervenção, pois o scanner tem a capacidade de detectar com precisão os seus detalhes e as suas medidas. “As próteses convencionais podem apresentar erro de até 3 milímetros que é considerado muito, porque elas têm tamanhos fixos , e a 3D diminui o risco para 0,0 1 por cento , minimizando o erro de fabricação e geometria, sendo possível fabricar peças com 16 micro de precisão, praticamente fiéis ao corpo humano”.
Embora já sejam comercializadas, Rodolfo Ramos explicou que no Brasil ainda não é permitido o uso dessas próteses como implantes, devido a medidas restritivas estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). O pesquisador acredita que a liberação para o seu uso é apenas uma questão de tempo “A Anvisa já criou três normas específicas para impressão 3d, que chamamos de manufatura aditiva, então ela já reconhece a importância dessa tecnologia”
Os pesquisadores estiveram em Natal (RN), no mês de novembro último, apresentando trabalhos no I Congresso Nacional de Envelhecimento Humano.
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