Assessores e jornalistas fortalecem o processo de divulgação da ciência (parte 1) Artigos

quinta-feira, 22 abril 2021
Foto: Elisa Elsie/Assecom-RN.

Troca e integração de recursos entre os atores envolvidos aumentam a possibilidade de gerar cocriação de valor na divulgação de pesquisas científicas

Dividido em dois artigos, a professora Inara Regina Batista da Costa compartilha um recorte da sua tese de doutorado e publica pela primeira vez no Portal Nossa Ciência. Inara é doutora em Administração (CEPEAD/UFMG), mestre em Engenharia de Produção (FT/UFAM) e bacharel em Comunicação Social – Relações Públicas (UFAM). Docente da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas e vice-líder do Grupo de Pesquisa Comunicação, Cultura e Amazônia.

Por Inara Regina Costa

Podemos afirmar que em virtude da pandemia a ciência tem estado mais presente na mídia e nas conversas informais. Isso gera oportunidade para incrementar o serviço de comunicação com os públicos de interesse tanto por iniciativa do pesquisador quanto pelas instituições de ensino superior (IES). O desafio é divulgar de forma sistemática, a produção científica gerada pelos programas de pós-graduação stricto sensu, por exemplo, cujos resultados já foram aprovados e publicados em periódicos científicos.

Algumas instituições parecem não perceber os potenciais benefícios com a divulgação da sua produção científica, tais como, relacionamentos com outras organizações, proximidade com a comunidade externa; obtenção de recursos para investimentos; elaboração de pesquisas acadêmicas e de políticas públicas mais consistentes. Os setores de comunicação das IES podem contribuir para expandir o diálogo entre os atores envolvidos por meio da prestação do serviço de divulgação científica à sociedade.

Segundo dados de 2019 do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), um dos fatores que justifica a necessidade de maior divulgação científica na mídia é o desconhecimento da população. Cerca de 90% dos brasileiros não se lembram ou não sabem apontar um cientista do País; 3% não responderam; 88% não se lembram ou não sabem indicar instituição do setor. Nem mesmo as universidades foram muito citadas, embora sejam os principais centros de produção de conhecimento científico.

Ainda segundo o resumo executivo da ‘Percepção pública da Ciência & Tecnologia no Brasil’ (MCTIC, 2019), o resultado mostra que os cientistas de universidades ou de institutos públicos de pesquisa estão entre os que apresentam maior índice de confiança (IC) com 0,84, apesar de não aparecerem entre os mais citados como a primeira fonte. Os médicos aparecem em primeiro com elevada credibilidade (0,85). Assim, percebe-se que um relacionamento mais próximo com a mídia pode trazer mútuos benefícios – visibilidade da produção científica e opiniões especializadas nas diversas áreas do conhecimento.

Neste artigo o processo da divulgação científica é analisado sob a perspectiva da Lógica Dominada por Serviço (LDS) proposta por Lusch e Vargo (2006) por ter como foco a troca de serviço entre os atores por meio da integração de recursos e a cocriação de valor dentro de um ecossistema específico.

A perspectiva da LDS contribui na compreensão do valor percebido pelos atores quanto ao serviço de divulgação científica. Os valores são formulações abstratas que ajudam a compreender determinado comportamento.  Neste caso, os valores foram adaptados da escala List of Values – LOV de Kahle a qual consiste em mensurar aqueles que são importantes para as pessoas, geralmente trabalho e família (BUENO et al, 2014).

Partindo do pressuposto que a pouca divulgação de pesquisas científicas na mídia realizadas pelas universidades restringem o valor cocriado pelos atores, o problema abordado é a análise da percepção dos gestores de comunicação quanto ao relacionamento universidade–mídia.

A LDS foi construída por vários pesquisadores, assim como a sua evolução. Produtos passam a ser vistos como veículos para entregar benefícios, e o conceito de serviço como a aplicação de competências especializadas (conhecimentos e habilidades) que beneficiam as pessoas envolvidas numa troca.

Para identificar os valores pessoais dos assessores, foi adotada a técnica laddering cuja principal característica é questionar “porque [atributo ou consequência] é importante pra você?” a cada nova resposta do entrevistado. A entrevista vai se aprofundando e aos poucos o entrevistado indica as consequências e os valores pessoais.

Os valores “senso de realização”, “pertencimento”, “ser bem respeitado” e “prestígio social” foram adaptados da escala List of Values – LOV de Kahle (VINCENT, 2014) a qual consiste em mensurar aqueles que são importantes para as pessoas, como trabalho e família.

Característica da divulgação científica

A divulgação científica também está presente em diferentes disciplinas e campos do conhecimento. Há interesse em compreender esse fenômeno por meio de um olhar multidisciplinar. Uma das razões é a possibilidade do cidadão avaliar, comparar e ressignificar o conhecimento gerado nas pesquisas científicas atribuindo-lhe maior valor.

Partindo do pressuposto de que a razão da existência do serviço público é a sociedade no nível macro, torna-se pertinente analisar se as universidades têm conseguido construir um relacionamento com os jornalistas sobre a produção cientifica gerada, uma vez que a imprensa é considerada fonte de informação e formadora de opinião.

A principal característica da divulgação científica é (re)contextualizar e interpretar a linguagem técnica sobre as descobertas da ciência para uma linguagem cotidiana ampliando a visão e tornando o conteúdo compreensível para o público não acadêmico. Este processo pode ser iniciado com o setor de comunicação da universidade ao oferecer histórias interessantes sobre suas pesquisas para os veículos jornalísticos. Funciona como uma espécie de convite para o jornalista, em conhecer mais sobre o assunto e entrevistar o pesquisador. Como o prazo da imprensa é sempre muito exíguo, há necessidade de a assessoria atuar como mediadora entre pesquisador e jornalista a fim de facilitar a entrevista.

Pelo fato da mídia disponibilizar a maioria das informações que as pessoas têm sobre o mundo, incluindo ciência e tecnologia, isso implica que a mídia pode proporcionar também importante apoio público e político.

No próximo artigo você conhecerá, de acordo com a percepção dos assessores, em qual região do país os jornalistas tem mais facilidade de acesso aos pesquisadores, demonstram interesse pela produção científica das universidades, bem como outros resultados comparativos.

Referências

Inara Regina Batista Costa – Professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas.

Perfis Instagram: @inaracosta_ @ufam__ @ufmg

Perfis Facebook: Inara Regina Costa; UFAM – Universidade Federal do Amazonas; UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

Inara Regina Batista Costa

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