Criadora da Caravana da Ciência, em Alagoas, afirma que cientistas têm obrigação de fazer divulgação científica
A popularização do conhecimento sistematizado através das várias ciências é uma tarefa assumida quase que como um sacerdócio por significativa parcela de cientistas. A mestra em Física aplicada e doutora em Educação Lenilda Austrilino, que é especialista em popularização da ciência e professora aposentada da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), sempre voltou seus esforços à desmistificação da ciência e à interiorização das ações de popularização da ciência.
Quando adquiriu condições favoráveis ela iniciou as idas ao interior, há 12 anos, com um grupo em torno de 14 pessoas. Atualmente, a Caravana da Ciência, Tecnologia e Inovação levou em sua última edição 40 profissionais, possibilitando universos participativos ao público. A equipe atua promovendo uma ponte entre o conhecimento e o povo, mas proporcionando conceitos científicos que são básicos e, ao mesmo tempo, importantes.
Pautas que trilham a popularização
Austrilino cita que hoje a pesquisa alagoana tem bons resultados e o campo é vasto para quem deseja escrever. A área da Química, por exemplo, possui grupos que trabalham com produtos naturais voltados à resolução de problemáticas na Agronomia; já a Farmácia, elabora pesquisas que visam identificar princípios ativos em plantas e sua possível utilização como medicamento e outras potencialidades.
A Agronomia vive uma fase promissora, com discussões que já ganham proporções internacionais, através do desenvolvimento genético da cana e do mapeamento de seu genoma. A produção de feromônios para uso agrícola também está sendo amplamente debatida, assim como a Física, que está desenvolvendo pesquisas com laser para o tratamento do câncer de pele. A tecnologia, se utilizada desde o início, encurta o período de tempo do tratamento, pois diminui as chances de se realizar a cirurgia no método tradicional.
“Alagoas tem uma história de tradição no cenário de divulgação científica, não se deve deixar esta história guardada sem ser narrada e honrada”, complementa a pesquisadora citando o exemplo de Ladislau Neto.
O botânico alagoano foi um dos primeiros divulgadores da ciência no Brasil, quando diretor do Museu Nacional de História do Rio de Janeiro em 1876, montando sua divulgação e produzindo materiais científicos.
Noticiar com credibilidade e comprometimento
Para os jornalistas, a especialista reforça o básico: Além de fontes fidedignas, “quem quer fazer uma boa divulgação, quer jornalista, quer cientista, deve mostrar os dois ou vários aspectos das da ciência”, indicando uma relação de contraponto entre visões diversas de um mesmo assunto, porque a ciência não é verdade absoluta.
Um modelo exitoso seria o de trazer os impactos que tal pesquisa pode gerar: os vários aspectos da aplicabilidade, das consequências ambientais e sociais.
“Num segundo momento o jornalista tem de se atentar à linguagem, ela merece atenção no texto, necessitando ser o mais acessível possível ao público”. Lenilda teve a oportunidade de organizar três oficinas de jornalismo científico, e o considera um assunto de utilidade pública, entretanto sem grande espaço atualmente.
A educadora enfatiza que o debate deve existir justamente para extinguir o medo que existe em pautar a ciência, e porque sempre a retratam como difícil, distante, um tema complicado de se articular.
Mulheres na ciência
A pesquisadora lembra ainda da importância de efetivar o movimento de mulheres na ciência: “Retratar a representatividade é importante para enxergá-las à frente dos grupos de pesquisa e atuando, garantindo que esta cientista se sinta dona e precursora de suas pesquisas. Nós contamos com muitos exemplos disso em Alagoas“, menciona a especialista.
Expondo estas concepções, Lenilda explica que esta trajetória e o seu modo de atuação é apenas uma das formas de enxergar a popularização científica, deixando os jornalistas livres para encontrar o melhor método de enfoque.
Se aproximando dos 30 anos de trabalhos sistemáticos voltados a este tipo de divulgação, ela enaltece a relevância de se fomentar e conhecer mais sobre os universos maravilhosos desta cultura.
Quando perguntada sobre porque continua suas atividades mesmo estando aposentada ela conclui sua fala: “Esta é uma responsabilidade social dos cientistas, é importante contar estas histórias, mas viver é maravilhoso, nós precisamos levar um pouco do nosso mundo aonde ele ainda não consegue chegar”.
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