Rio Grande do Norte desponta na área da pesquisa arqueológica com primeira datação de gravuras rupestres da América do Sul
Obter respostas de como viviam os grupos humanos que habitavam o Rio Grande do Norte há milhares de anos, desvendando qual era o seu cotidiano, o que caçavam, onde moravam, como se deslocavam, qual era o seu simbolismo e quais artefatos produziam. Este é o objetivo do trabalho do professor Valdeci Santos, do Departamento de História, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), que realiza pesquisas relacionadas à Pré-história Potiguar, ou seja, ao período anterior à chegada dos colonizadores portugueses. Ele já tem catalogados 326 sítios arqueológicos no estado com a presença de arte rupestre e espera, até o final deste mês, divulgar a primeira datação de gravuras rupestres potiguares. “O que podemos adiantar é que há mais de 5 mil anos já existiam grupos humanos praticando arte rupestre em nosso estado”, revela.
Graças ao trabalho do professor Valdeci, a UERN entrou na história como o primeiro campo de pesquisa de arte rupestre da América do Sul. Essa condição foi apontada pelo arqueólogo australiano, Robert Bednarik, que visitou, recentemente, laboratórios da instituição e sítios da região. O arqueólogo, que é um dos maiores estudiosos de desenhos, pinturas e inscrições realizadas pelo homem pré-histórico do mundo (arte rupestre) e de arte portátil paleolítico na era do gelo, elogiou o trabalho do professor Valdeci.
Primeira datação rupestre
Todos os 326 sítios arqueológicos catalogados pela UERN possuem arte rupestre. Existem 67 municípios no Rio Grande do Norte com arte rupestre. Os que possuem um maior quantitativo é Carnaúba dos Dantas com 81 sítios e Santana do Matos com 76 sítios.
O professor Valdeci trabalha para realizar a primeira datação de gravuras rupestres da América do Sul nos sítios pesquisados pela UERN. Segundo ele, existem duas técnicas de elaboração da arte rupestre: através de pinturas e das gravuras. “Quanto às pinturas já existem datações no Brasil evidenciando a presença humana entre 12 e 6 mil anos atrás na Serra da Capivara, no Piauí. No entanto, quanto às gravuras rupestres não existe nenhuma datação direta. As pesquisas que aplicamos mostrarão as primeiras datações no Brasil através do método da microerosão do granito desenvolvido pelo pesquisador australiano Robert Bednarik”, explica.
O método da microerosão direta das partículas do granito, adotado pelo professor Robert Bednarik, permite obter dados cronológicos sobre a intensidade do intemperismo (degradação das partículas do granito decorrente de variáveis ambientais, tais como o vento e a chuva), que incide diretamente nos sulcos internos das gravuras rupestres.
O professor Valdeci planeja até o final deste mês de dezembro divulgar as primeiras datações através de um trabalho de pós-doutorado em arqueologia que ele está desenvolvendo pela Universidade de Coimbra. “Foram pesquisados cinco sítios arqueológicos com gravuras rupestres em cinco municípios potiguares diferentes: Angicos, Afonso Bezerra, Pedro Avelino, Santana do Matos e Caraúbas. O que podemos adiantar preliminarmente é que há mais de 5.000 anos já existiam grupos humanos praticando arte rupestre em nosso estado. Estamos também concluindo a elaboração de um livro intitulado “A arte rupestre do Rio Grande do Norte” que será publicado em breve mostrando todo o potencial desses sítios arqueológicos, região por região de nosso Estado”, revela.
Temáticas e grafismos diferentes
Enquanto trabalha na datação das gravuras rupestres, o professor Valdeci Santos, que coordena o Laboratório de Arqueologia O Homem Potiguar (LAHP) da UERN, explica que com as informações obtidas durante as pesquisas são produzidos artigos científicos em revistas especializadas de arqueologia, assim como dissertações de mestrado e teses acadêmicas. “Esse conhecimento obtido também é reproduzido em palestras, seminários e em sala de aula do curso de História da UERN onde leciono as disciplinas de pré-história potiguar e arqueologia”, conta.
Conhecidos internacionalmente, os desenhos rupestres do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, são diferentes dos registrados no Seridó Potiguar. “Existe uma tradição de pinturas rupestres intitulada de “Nordeste” que é encontrada lá na Serra da Capivara e aqui também. O que muda um pouco são as temáticas e as formas de apresentação dos grafismos rupestres. Entretanto, a Serra da Capivara é um Parque Nacional bastante divulgado em todo o Brasil e mundo afora, enquanto no Rio Grande do Norte, por enquanto, só existe a divulgação do sítio arqueológico do Lajedo do Soledade no município de Apodi”, esclarece.
O trabalho de pós-doutorado do professor Valdeci Santos da UERN conta também com a participação de pesquisadores (geólogos, arqueólogos, físicos e químicos) da UERN, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade de Coimbra, Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e University in Shijiazhuang (China), da qual o professor Bednarik é professor.
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