Ofertado pelo Instituto Humanitas, o curso terá início neste primeiro semestre letivo
De um lado, cultura científica. Do outro, cultura humanística. Esses saberes, hoje em dia vistos como opostos, podem andar de mãos dadas. Um complementa o outro, já que a produção científica também deve considerar a ética, a promoção do bem-estar, solidariedade, sustentabilidade, entre outras questões sociais. O reencontro dessas duas culturas é a principal proposta do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades, cuja criação foi aprovada no dia 2 de fevereiro pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Consepe/UFRN).
Ambos os conhecimentos são abarcados no currículo da graduação, que adota a característica interdisciplinar a partir do intercâmbio das humanidades com áreas como neurociência, ecologia, estatística e ciências do clima. Ofertado pelo Instituto Humanitas de Estudos Integrados, o curso terá início no semestre letivo 2021.1, com 50 vagas para ingresso por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Os alunos serão conduzidos a estudos e análises dos problemas sociais contemporâneos, em suas dimensões locais e globais, para construir uma visão social, cultural, política e ético-moral.
De acordo com o diretor do Instituto Humanitas, Alípio de Sousa Filho, o bacharelado busca constituir indivíduos pensantes e críticos, movidos pelo desejo de mudanças e inovações. “Nossas sociedades necessitam de profissionais com orientação ética clara para suas atuações em todas as áreas, principalmente quando os contextos, espaços e laços sociais atuais estão, cada vez mais, esgarçados por desigualdades, violências, conflitos e sofrimentos que podem ser evitados se soluções adequadas forem pensadas e aplicadas”, ressalta.
Atuação inovadora, empreendedora e multidisciplinar do bacharel em humanidades facilita diálogo entre as diferentes profissões (Foto: Faxuels)
Agente do diálogo
Após três anos de formação, o bacharel em humanidades atuará como um “analista generalista disciplinar”, dado o seu perfil profissional que não tem natureza de especialização exclusiva. Isso significa que terá “capacidade de realizar leituras abrangentes, críticas e sensíveis da realidade social e dos contextos de sua atuação e vida, numa perspectiva interdisciplinar dos problemas e das ações para enfrentamento desses problemas”, explica Alípio de Sousa.
O professor complementa que o egresso será um “agente do diálogo”, dada a sua capacidade para coordenar trabalhos em equipes e promover a interseção entre profissionais de áreas distintas. Por exemplo, em uma instituição pública ou privada com diferentes profissionais, o analista é capaz de elaborar uma agenda multidisciplinar que viabiliza a concepção de soluções a partir do intercâmbio entre os especialistas. Desse trabalho podem ser criados projetos e ações, estudos diagnósticos ou prospectivos e análise de temas diversificados, mediante uma visão humanista crítica, criativa e cooperativa.
Matriz curricular da UFRN adota flexibilidade, interdisciplinaridade e indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão
Os campos de atuação do profissional são múltiplos, como universidades, empresas, órgãos públicos, movimentos sociais, consultorias, assessorias, entre outros. Existem oito cursos no Brasil com proposta semelhante, que se diferem entre formações de ciclo único e primeiro ciclo. Nesta última, os estudantes têm opções de cursos para formação de segundo ciclo especializada.
No Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades da UFRN, a matriz curricular é flexível, sem disciplinas que exijam pré-requisitos, em um total de 2.400 horas distribuídas entre componentes obrigatórios e optativos. Os conteúdos são voltados ao estudo de temas, problemas e questões contemporâneos, tais como “Religião no Mundo de Hoje”; “Civilização e Desafios dos Problemas Globais”; “Mídias Sociais Digitais”; “Neurociência da Vida” e “Smart City e Sociabilidade na Contemporaneidade”.
Novo curso, novas rotas
Com foco em criar um novo curso para uma época de transformações, a UFRN alia a flexibilidade curricular à integração com a pós-graduação. O diretor do Instituto Humanitas detalha que a ideia nasceu das inspirações na Reforma de Bolonha, que, na Europa, integrou cursos de primeiro ciclo com mestrados e doutorados.
“A matrícula no componente Tópicos Avançados assegura ao aluno, com anuência do professor responsável pelo componente na pós-graduação, frequentar aulas e delas participar. O objetivo de criar o que estamos chamando de rotas para a pós-graduação é favorecer ao estudante o conhecimento de percursos possíveis e existentes na UFRN para eventuais escolhas futuras de cursos de mestrado e/ou doutorado”, detalha Alípio de Sousa, ao destacar que essa iniciativa é pioneira na Universidade.
“Com o avanço da ciência, cada vez mais as profissões foram perdendo o legado humanista” – Alípio de Sousa, diretor do Instituto Humanitas (Foto: cedida)
O projeto do curso envolve outras seis unidades acadêmicas de diferentes áreas, que juntas assumem a missão de reaproximar a cultura científica da cultura humanística. A importância desse reencontro, segundo Alípio de Sousa, consiste em recuperar o legado humanista nas diferentes profissões, de modo que sempre sejam analisados os impactos de suas atuações na vida humana. “Ou seja, colocar ao lado da racionalidade cientifica e técnica uma compreensão humanística da própria existência. Caso contrário, [a separação de culturas] vai esterilizar o mundo das próprias razões humanas para a existência social”, defende.
Para o professor, a busca por essa transformação é o principal motivo do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades, cuja essência dá sentido à vocação do Instituto Humanitas: promover estudos integrados.
Fonte: Agecom UFRN
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