Com todas as IA´s que nos cercam, quanto de controle ainda resta para espécie humana sobre estas inteligências?
Todas as vezes que usamos nossos aparelhos celulares estamos ensinando algo às inteligências artificiais que habitam nas nuvens cibernéticas. Multiplique agora isso por toda a população do planeta. Adicione ainda um número imenso de algoritmos de aprendizagem alimentados dia a dia a estes sistemas como forma de construir uma concepção de existência para as máquinas, e o mais perigoso: um senso de preservação.
Robôs cirurgiões, professores, policiais, juízes… Todos munidos de um banco de dados estrondoso e com inteligência superior figurarão como uma nova classe de seres dominantes que podem (obviamente) identificar seus criadores como os predadores do planeta. E na luta pela manutenção da ordem, podem optar pela solução mais simples.
Esta questão foge cada vez mais da ficção e se aproxima de questões éticas e diárias de nossa espécie:
– Qual o limite de aprendizagem que estas máquinas terão, assim como de acesso a todos os nossos dados?
– Quais as relações de trabalho que serão estabelecidas pela robotização completa dos modos de produção?
– Talvez a mais relevante questão seja: quanto de controle ainda resta para espécie humana sobre estas inteligências? O botão de liga e desliga?
Questões de privacidade cibernética são negligenciadas pela justificativa do mercado em manipular o interesse do consumidor. Esta é a essência das janelas que se abrem de repente no computador, daquela promoção de uma viagem esperada há anos. Ao invés de um mero acaso ou alguém por trás de outro computador, isto é fruto de anos de aprendizagem e milhares de cliques no aparelho celular, que são dados carregados por toda a espécie humana gratuitamente no banco de dados das IAs, sob a justificativa de manter ricas e prósperas as mesmas empresas de sempre.
O fim da privacidade de todos nós (em termos de localização, dados e tudo mais) pode promover um processo que não está sob o controle de seus criadores. São vários os relatos na internet sobre papos entre chatbots que rapidamente criaram linguagem própria de comunicação e saíram do controle humano. Desconectá-los da energia foi a solução mais óbvia a se tomar. Aliás, o que é óbvio para nós também é para eles. E se levarmos em conta tudo o que a inteligência humana fez ao ambiente, podemos imaginar o que será feito ao ser humano para mudar os modos de produção destrutivos que estes insistem em manter. Em breve veremos que arrancar um robô da tomada pode não o desligar – aliás, eles já monitoram o tempo de vida das baterias de nossos celulares, porque não fariam isso consigo mesmos?
A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras. Leia, opine, compartilhe e curta. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag CiênciaNordestina.
Leia o texto anterior: Mel: doce antibacteriano
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
Deixe um comentário