Já existe um processo que faz uso de bactérias para promover o bioprocessamento de componentes eletrônicos das placas de dispositivos como telefones celulares, computadores e TVs
Biohidrometalurgia: uma palavra longa e provavelmente desconhecida pela maioria das pessoas. No entanto, a sua prática pode livrar nosso planeta de uma quantidade (cada vez maior) de sucata eletrônica.
O Brasil, por exemplo, é um dos maiores produtores de lixo eletrônico no planeta (com a quase totalidade deste lixo tecnológico sendo importado sob forma de produtos). E isto segue completamente na contra mão de tudo o que preconiza a economia circular, que é baseada no conceito de fechar o ciclo sem gerar resíduos em processos industriais. Enquanto não evoluímos ao patamar que a mãe natureza estabeleceu (o ciclo perfeito) precisamos tratar todo o lixo que já geramos. E o lixo das placas eletrônicas é complexo de tratar, uma vez que consta de uma diversidade de componentes e compostos metálicos.
A biohidrometalurgia é um processo que faz uso de bactérias para promover o bioprocessamento de componentes eletrônicos das placas de dispositivos como telefones celulares, computadores e TVs. Estudos realizados por pesquisadores brasileiros constataram que a bactéria Acidithiobacillus ferrooxidans tem a propriedade de atuar em solução de ions ferrosos convertendo-os em íons férricos (Fe2+ em Fe3+) que são compostos reativos e contribuem com a oxidação do substrato (placas trituradas de circuito eletrônico com componentes).
Com isso, elementos como o cobre são separados dos componentes e se tornam disponíveis para extração da solução como parte do processo de biolixiviação. A remoção do cobre do meio permite ainda com que outros metais (como o ouro) passem pelo mesmo processo de extração. Este processo, (a separação seletiva de metais do lixo eletrônico por meio de bactérias) é a maior prova de que a natureza tem todas as ferramentas para desfazer a ação antrópica danosa de todos nós.
E o mais interessante continua a ser que este é mais um processo cíclico perfeito: as bactérias reoxidam os íons, dando continuidade ao processo de separação de íons metálicos (usando o lixo como insumo). Assim, ao invés de seguir para um aterro ou algum entulho no mar, o descarte de eletrônicos retorna metais preciosos e gera material inerte que pode enfim retornar ao ambiente.
Esta “deconvolução” natural dos metais no lixo é, por fim, a prova inconteste que vêm da biologia as soluções para todo o mal que já promovemos ao planeta.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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