Um novo método de expor ideias inovadoras? Entenda o potencial criativo dessa técnica
Um chocolate para quem pronunciou isso daí de primeira sem titubear!!! Pois é, inventei mais uma: não adianta procurar no Google. Embora pareça uma palavra alemã de 20 letras, não é! Peço que leiam até o fim e prometo a vocês que fará sentido.
No século I a.c., o general romano Pompeu, encorajava marinheiros receosos, inaugurando a frase “Navigare necesse, vivere non est necesse”. Muito tempo depois, o poeta Fernando Pessoa a transformou em “Navegar é preciso; viver não é preciso”.
Viver não é preciso; inovar também não! Ambos são necessários (Obs.: o “preciso” dessa frase é sinônimo de “exato”). Notas de engenheiro à parte, o que há de “preciso” – nesse caso no sentido de necessidade – é ter ideias. Agora, posso soltar meu lado poético e confundir vocês, como fizera a poesia de F. Pessoa comigo: “Inovar não é preciso; ter ideias é preciso”. Rerere: gostaram?
Ainda muito jovem – Julho de 2019 -, escrevi a aula condensada Conduzindo um brainstorming, um daqueles encontros em que exploro as ferramentas de auxílio à criatividade. Só que revendo aquele texto, e depois de algumas práticas de brainstorming, percebi falhas que a “tempestade de ideias” pode conter e induzir e, na realidade, matar potenciais big ideas que estavam por brotar. Aí fiquei encucado: será que existem aprimoramentos para este método?
Vasculhando a Web e tendo em mente que um poeta libera todo o seu potencial criativo através da escrita – assim como faz nosso aprendiz GBB-San -, procurei por técnicas de criatividade associadas à pena e ao papiro, e encontrei o método Brainwriting.
Hoje apresentarei (a quem não conhece, claro) este método, que para mim é uma evolução do brainstorming. Afinal, escrever é preciso.
Brainstorming
Do artigo Conduzindo um brainstorming, trago seus princípios:
Com estes dois princípios em mente, faça o seguinte:
Olhando para os princípios e a abordagem, parece um método perfeito e amistoso para fazer nascer ideias livres, né não? Entretanto, exercitando minha projeção astral e olhando friamente para GBB-San conduzindo brainstormings: professor titular da disciplina, quase dois metros de altura, barba grisalha, voz de barítono desafinado, 52 anos – dos quais 18 lidando com empreendedorismo inovador – e ainda sendo o cara que lança as notas no SIGAA, fico pensando se os alunos se sentem à vontade pra avançarem ideias malucas (portanto, necessárias para a inovação) “livremente”, com o mínimo de constrangimento também perante a turma, por mais que eu estimule isto. O viés “atrapalhante” do estereótipo “modo teacher” ainda é demasiado intenso em nossa cultura. Necessário em algumas situações e desnecessário em outras, o que dá uma discussão danada… Percebi então que o termo “livre”, adjetivo primordial para se ter ideias poderosas, torna-se relativo. Vamos ao brainwriting para saber se é possível remediar isto.
Brainwriting
É o irmão mais novo e silencioso do brainstorming, no qual as ideias são expostas de forma escrita, não falada. Sacaram onde podemos chegar?
Nesse método, de fato, ninguém é sujeito a críticas de suas ideias enquanto o está executando. Em segundo lugar, o background não importa: títulos, especializações, condecorações, número de filmes vistos na Netflix ou episódios de Jojo’s Bizarre Adventure, não incrementam seu poder de criatividade, assim como cargos. O modo teacher, ou modo chefe, assim como a pressão por pares, cai por terra. E três: ser introspectivo ou espalhafatoso não gera desvantagem ou vantagem, respectivamente, quando a maioria dos condutores de brainstormings preferem aqueles(as) que chamam mais a atenção. Pode-se convergir e divergir, de fato, livremente e sem vexames!
Brainwriting 635
Fazendo uma tradução livre do texto que encontrei no Wikipedia para Brainwriting, temos mais ou menos isto:
“É composto por 6 participantes (supervisionados por um moderador) que devem escrever 3 ideias em uma planilha específica em 5 minutos. Dessa forma, “6-3-5” explica a etimologia que deu os números ao método. O resultado após 6 rodadas, durante as quais os participantes trocam suas planilhas e as passam para o membro da equipe sentado à sua direita, são 108 ideias geradas em 30 minutos”. E tudo sem influência e sem vieses “atrapalhantes”.
Cada um dos 06 participantes pega uma planilha e põe seu nome nela. Assim, o tímido estagiário Asdrolfo, que faz parte da equipe “Belos nomes”, nomeia sua planilha e lá coloca suas 03 ideias em 05 minutos. Feito isso, ele passa sua planilha à extrovertida diretora Beneditilda, à sua direita, cuja planilha – já com seu nome e suas 03 ideias escritas – faz o mesmo passeio, sendo entregue à programadora Cleoniltem. E o barco segue. Ao final de 30 minutos, e após 06 passagens, teremos 108 ideias depositadas nas 06 planilhas, que também podem ser eletrônicas e disponibilizadas em nuvem. Dá para fazer isso online.
Observe que as 03 primeiras ideias de cada um são originais, pois acontecerão simultaneamente, ou, em momentos de baixa inspiração, pode-se desenvolver ideias baseadas nos escritos dos integrantes do grupo, e tudo free pressure (livres de pressões dos pares e do chefe). Estresse zero.
Este processo pode ser repetido diversas vezes, até que o grupo decida que a coisa tá suficientemente refinada.
Brainwritingstorming 635: a evolução do Brainstorming!
Agora sim: cabe ao moderador, o designer Giedastor, juntar tudo em um quadro (ou arquivo eletrônico), discutir em conjunto cada uma das ideias e avaliá-las, reunindo as melhores e eliminando as que são impraticáveis. Com a quinta-essência das ideias em mãos, as remanescentes, inicia-se um brainstorming convencional digno daqueles filmes que mostram salas de situação com super-espiões, generais e estrategistas definindo o que fazer antes do filme acabar. A execução correta do brainwritingstorming leva o brainstorming a outro nível!
Finalizando…
A evolução sempre deixou claro que se a mudança orgânica é mais lenta do que a do ambiente, a espécie está com os dias contados. Inspirado por esta máxima natural, Jack Welch, lendário CEO da GE, cunhou a frase: “Quando o ritmo de mudança dentro da empresa for ultrapassado pelo ritmo da mudança fora dela, o fim está próximo”.
Trocando em miúdos, o mundo natural pede para que nos adaptemos à natureza. O pedido do mundo “artificial” é que inovemos. Pode-se ter ideias e não inovar, mas não se pode inovar sem ter ideias. Técnicas para aguçar a criatividade existem aos montes. Essa é apenas uma a qual, inclusive, é uma evolução do brainstorming convencional, capaz de reduzir bastante – ou mesmo eliminar – o estereótipo do “chefe”. E observem: continuou simples, eficaz e precisa. Portanto, “Fazer brainwritingstorming é preciso. Inovar é necessário”!
Referências:
Wikipedia – Brainwriting
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Leia a edição anterior: Abordagem “Espaço-Problema\Modo-Solução”
Gláucio Brandão é Pesquisador em Extensão Inovadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Gláucio Brandão
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