Abordagem “Espaço-Problema | Modo-Solução” Disruptiva

quarta-feira, 14 outubro 2020

É preciso compreender e respeitar a fronteira entre o espaço-problema e o modo-solução

Diz a lenda que, nos idos de 1965, a NASA queria uma “caneta que escrevesse na falta de gravidade”. Após um milhão de dólares de investimento feito pela Fisher Pen Company, chegou-se à Space Pen, caneta que funcionava em gravidade zero. Exposta ao mesmo problema, a Роскосмос (agência espacial russa) equipou seus cosmonautas com um lápis grafite. E o velho “grafitão” funcionou tão bem quanto. Narrei esta estória para ilustrar o tema de nossa aula condensada.

Ao não se respeitar (ou não se tentar compreender) a fronteira entre o espaço-problema e o modo-solução, gera-se um custo alto, a ponto de se inviabilizar a implementação de um P2S2 (Processo|Produto|Serviço|Startup).

Nesse episódio, ao tentar-se resolver um problema sem defini-lo corretamente, mergulhou-se de forma prematura no modo-solução ao sugerir a feitura de uma caneta. Uma abordagem de não interferência no caminho da solução poderia ter o formato “quero um instrumento de escrever que funcione na ausência de gravidade” ou, ainda mais aberto, “precisamos de uma forma de registrar notas em gravidade zero de modo que se possa recuperá-las mais tarde”.

Do ponto de vista empreendedor-inovador, encontrar e definir bem um problema é garantir que você saberá onde vai mergulhar, concentrando todo esforço e aumentando a eficiência na direção da solução. No encontro de hoje, listarei tipos inerentes ao espaço-problema para que se possa adotar o correspondente modo-solução.

Explicando melhor a Pirâmide de Glaslow🄬, nosso melhor espaço-problema!

Em Entendendo as necessidades de um cliente incomum, apresento a Pirâmide de Glaslow, erigida pelo aprendiz da inovação GBB-San. Subdivi verticalmente a Pirâmide de Maslow (que possui 5 níveis) em 5 colunas, com o intuito de quebrar os problemas do Cliente Universal em blocos menores para que se possa atacá-los com maior precisão pela ampliação dos espaços-problema.  Lá defendo que os problemas definem os mercados, não as soluções. Na esteira de um problema de um único cliente, poderá surgir uma oportunidade de Mercado. Se existem mais espaços-problema, existirão mais oportunidades. 

Com a subdivisão sugerida, ao invés dos 5 níveis originais de necessidades de um determinado indivíduo, passamos a ter 25 espaços-problema a serem preenchidos, o que nos dá 3.125 possibilidades de permutação. Em tese, se antes tínhamos que tentar preencher apenas 5 lacunas do ego humano, estas lacunas aumentaram 625 vezes. Escolha uma quíntupla da pirâmide de Glaslow e crie seu próprio nicho. 

A Caixa de Pandora dos problemas

Em várias oportunidades falamos em tipos de problema. No encontro Problema estrutural ou de processos: funil ou pilão?, descrevo que quando determinada empresa tem condições de atender uma demanda e sua estrutura de produção consegue se igualar ao tamanho do nicho de Mercado emergente, o gargalo que surge entre a base e o topo (estrutura x nicho) dá a este processo um formato de pilão. Temos um problema de processo para o qual a solução recai na logística. Entretanto, quando o nicho cresce e a estrutura de produção não consegue acompanhar, o topo (nicho) faz isto tão velozmente que o formato que vem à mente é a de um triângulo equilibrado pelo vértice, parecendo um funil. Para esta bronca, a solução passa pelo aumento da estrutura da empresa, associação com parceiras ou pela morte por fadiga. Um triângulo equilibrado pelo vértice está em  equilíbrio instável. Tem de cair!

Funil ou Pilão. Bronca de estrutura ou de processo?

Neste mesmo artigo, descrevo mais 4 tipos de problema. O Tipo 1, cuja causa é desconhecida; o Tipo 2, com causa conhecida; o Tipo 3, que envolve desenvolvimento ou aprimoramento de algo em prol de uma melhor solução e o Tipo 4, referente à prevenção de falha ou falta.

Já no artigo Problemas de Determinação x Problemas de Demonstração, desenvolvo os conceitos para o caso de um problema de determinação, que possui teor quantitativo, e para o de demonstração, que tende ao qualitativo. Os problemas de determinação envolvem apenas sequências algorítmicas; os de demonstração, a criatividade.

De posse das oportunidades que podemos criar (Glaslow) e dos métodos aqui listados para definir problemas (Funil, Pilão e Tipos), consegue-se vislumbrar o Espaço-Problema e desenhar-se caminhos de criação para soluções e/ou inovações mercadológicas. A exemplo do que mostrei na introdução, não saber que existe ou onde está a fronteira custa caro. Buscar por questões e defini-las corretamente, é o que há de melhor para se inovar. A má definição de um problema é o que há de pior!

Assim, abri a caixa de Pandora dos conceitos sobre problemas para apresentar um diagrama que criei que junta tudo em um canto só. A intenção foi a de facilitar a abordagem de inovação. Vamos a ele.

Abordagem Espaço-Problema/Modo-Solução

Diagrama Espaço-Problema|Modo-Solução para o Mercado.

A abordagem começa pelo ícone da cabeça laranja, seu avatar. Você, líder de uma equipe de criação, é responsável por observar um dado contexto e ter de criar uma saída para a situação na qual se encontra determinado empreendimento, seu, de outrem ou pelo qual foi contratado(a). As saídas possíveis são: fazer nada, pedir para ir ao cinema e nunca mais voltar, mandar fechar a bodega ou esboçar uma solução em forma de processo, produto, serviço ou startup (P2S2). Admitamos que você optou pelo P2S2. Parabéns, posso então te ajudar.

Baseado no diagrama, vou montar aqui uma sequência possível. Na dúvida, clique na frase em “verdito” (verde + negrito) e o portal Nossa Ciência (https://nossaciencia.com.br/) te levará a um link fantástico sobre o respectivo tema. Vamos lá:

  1. Monte um time.
  2. Conduza um brainstorming.
  3. Vá ao âmago do problema eliminando todos os excessos por isolamento de seus princípios.
  4. Muito café, água e post-its depois (pipi-breaks também), defina bem os problemas. Só problemas, moçada. Nesta etapa, tenha no brainstorming apenas uma única limitação: proibido falar em soluções. Ninguém quer um grafite custando U$ 1M! Com base na TRIZ, adaptei 4 tipos:
    • Tipo 1: Não há Mercado pré-existente.
    • Tipo 2: Há Mercado, mas não há soluções.
    • Tipo 3: Mercado com soluções “capengas”.
    • Tipo 4: Mercado prestes a morrer.
  5. “Prego batido, ponta virada” e um esmalte para não enferrujar, vamos ao brainstorming modo-solução. Os caminhos relativos aos tipos levantados no item anterior podem ser:
    • Tipo 1: Proativo. Busca por disrupção.
    • Tipo 2: Reativo. Busca por soluções.
    • Tipo 3: Reativo. Ação de aprimoramento.
    • Tipo 4: Reativo e Proativo. Criar outro.
  6. Tipo definido, o resultado deverá apontar para a validação de novos conceitos, para os quais você terá de criar protótipos, ou para a verificação de encaixe no Mercado, para a qual você deverá utilizar MVPs.
  7. Chegou a hora de pensar no tipo de solução e como definir o produto. Para gerenciar a implementação da solução, sugiro uma abordagem como em Novos tempos, novo mindset!.

Finalizando…

O mergulho, se em águas azuis ou vermelhas, será ditado pelo tipo de encaixe que se deseja fazer no Mercado. No avatar, serão trabalhados apenas conceitos. O time fica no trampolim e por isto nada é verificado; apenas validam-se teses. Se o time define que a solução não passará por validação nem verificação, o trabalho que o empreendimento fará será braçal: “aumenta aí a produção, encarregado!”. Se os indicadores de nicho estão verificados, não há necessidades de validações. A recomendação será a de aprimoramento de processos na indústria, pela promoção do velho choque de modelo. O mergulho mais arriscado, pois envolve águas nunca antes desbravadas, será aquele pelo qual o time definiu por criar novos conceitos e verificá-los no nicho a ser criado: modo startup on. Mais arriscado, porém pode ser interpretado como salvador e lucrativo. Neste caso, o empreendimento tornou a concorrência irrelevante e criou seu oceano azul.

Em tempo…

Na verdade, como pode ser lido no site da Scientific American, apesar de o “grafitão” funcionar em gravidade zero, pedaços de grafite podiam machucar os astronautas, assim como entrar em partes da nave e provocar curto-circuitos, além do fato de o corpo de madeira do lápis ser altamente inflamável. Resumo da ópera, a Space Pen foi adotada também pelos russos. Lenda urbana esclarecida!

Referência:

Scientific American 

A coluna Empreendedorismo Inovador é atualizada às quartas-feiras. Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #EmpreendedorismoInovador.

Leia a edição anterior: O “x” da questão

Gláucio Brandão é Pesquisador em Extensão Inovadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Gláucio Brandão

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