Pesquisadores anunciam diagnóstico pioneiro para mil estrelas com planetas Pesquisa

sexta-feira, 2 outubro 2020
Imagem artística do telescópio TESS (Crédito: Nasa/Wikimedia Commons)

Estudo foi conduzido por equipe de astrônomos e estudantes do doutorado em Física da UFRN

A busca por exoplanetas com condições físico-químicas de habitabilidade representa o principal desafio da Astronomia moderna, sendo conduzida por uma verdadeira esquadra de satélites, em harmonia com instrumentos instalados em telescópios no solo. Como parte dessa esquadra, se inclui o satélite TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA, lançado em julho de 2018, idealizado especificamente para a busca por planetas do tamanho da Terra orbitando estrelas próximas.

O satélite TESS, até o momento, identificou cerca de 2 mil estrelas hospedando objetos com características de planetas. Em artigo publicado recentemente no prestigioso periódico americano Astrophysical Journal Supplement Series, um time de cientistas brasileiros, liderado por Astrônomos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), anunciou um diagnóstico pioneiro sobre as características físicas de mil dessas estrelas observadas pelo TESS, incluindo medidas de períodos de rotação, identificação de erupções e pulsação e possíveis níveis de atividade magnética. O projeto de pesquisa é liderado pelos professores José Renan de Medeiros, Bruno Leonardo Canto Martins e Izan de Castro Leão.

As condições mínimas para que um planeta possa ser habitável são a existência de água no estado líquido, associada a temperaturas e campos de radiação adequados para sustentar uma biosfera na superfície planetária. Em nosso Sistema Solar, tais condições estão localizadas em uma região restrita, localizada entre os planetas Vênus e Marte, com o nosso planeta azul, a Terra, no centro dessa região. Uma propriedade física determinante para a existência dessas condições mínimas, impactando diretamente na formação e evolução do sistema planetário, é a atividade magnética de uma estrela que está diretamente associada com a existência de erupções, ventos e tempestades magnéticas, como acontece com nosso Sol. Como a atividade magnética de uma estrela é controlada diretamente por sua rotação, a existência das condições mínimas para habitabilidade de um planeta exige que sua estrela gire de forma adequada, ou seja, nem muito rápido nem muita lento. No caso do Sol, o mesmo leva um pouco mais de 25 dias para dar uma volta completa em torno do seu eixo.

Base fundamental para a busca por Exoplanetas

Renan Medeiros é um dos coordenadores do projeto. (Foto: Nossa Ciência)

As descobertas anunciadas no referido artigo oferecem uma sólida base de apoio para pesquisas sobre exoplanetas realizadas pela missão espacial TESS. De um lado, os resultados indicam quais estrelas com candidatos a exoplanetas, revelados pelo TESS, oferecem melhores perspectivas para monitoramento e estudos sobre as características físico-químicas de seus sistemas planetários, incluindo suas potenciais condições de habitabilidade. Por outro lado, esses resultados ajudarão a comunidade na definição de critérios para a elaboração de estratégias observacionais para diferentes técnicas de diagnósticos, incluindo imageamento direto dos planetas.

O satélite TESS foi inicialmente programado para dois anos de operações, mas a NASA decidiu estender a missão por mais dois anos, até abril de 2022. Tal aspecto levou o Time de Astrônomos da UFRN a se decidir por um estudo contínuo no diagnóstico das estrelas que ainda terão planetas detectados pelo TESS, alimentando e mantendo uma base de dados atualizada a serviço da comunidade internacional dedicada à busca por exoplanetas. Tal base de dados já se encontra disponível numa plataforma interativa da Escola de Engenharia da Universidade de Vanderbilt, localizada em Nashville, USA, denominada Filtergraph.

A Astronomia para Inclusão Social e Inovação

Um aspecto diferenciado nesse trabalho conduzido por Astrônomos e estudantes do doutorado em Física da UFRN diz respeito à contribuição do mesmo para ações de inclusão de Pessoas Autistas, através do Centro Frist para Autismo e Inovação (Frist Center for Autism and Innovation), também sediado em Nashville, USA. Na realidade, a plataforma web Filtergraph onde o catálogo com os resultados da pesquisa está armazenado, criada pelo Astrônomo Dan Burger, da Universidade de Vanderbilt, foi idealizada inicialmente como uma ferramenta computacional para a visualização de uma grande variedade de dados no apoio ao descobrimento de Exoplanetas.

A partir de 2017, a plataforma tornou-se parte do Centro Frist para Autismo e Inovação, uma instituição que agrega cientistas, engenheiros e especialistas em neurociências e educação com o objetivo de entender, maximizar, identificar e estimular pessoas autistas a trabalharem com padrões de imagens e cores. Sabendo então que muitos Autistas têm a capacidade de entender padrões em cores e imagens em um nível superior, o Centro Frist usa a plataforma Filtergraph para identificar pessoas com tais habilidades, lhes oferecendo formação complementar e ferramentas para que possam se especializar e atuar profissionalmente em posições que executam tarefas semelhantes à análise de imagens ou cores em alto padrão.

A partir de uma compreensão do autismo e da neurodiversidade com base nos pontos fortes e no talento da pessoa, o Centro Frist oferece oportunidades de inclusão através da inovação tecnológica construída sobretudo por técnicas da inteligência artificial. Hoje, diferentes grupos profissionais e instituições de um amplo espectro de áreas do conhecimento, incluindo Astronomia, Engenharia, Física, Geologia, Jornalismo e planejamento civil se juntaram à filosofia e às ações oferecidas pelo Centro Frist, ampliando ainda mais os horizontes da inclusão social. Na área da Astronomia, particularmente, merece destaque as ações de cientistas que exploram a missão espacial TESS, da NASA, com inúmeros estudos contendo imagens reveladas por pesquisas conduzidas dentro da referida missão, incluindo imagens produzidas em nosso trabalho.

O time de cientistas da pesquisa conta também com os professores Maria Liduína Chagas, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará e do professor Leonardo Almeida, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, além dos doutorandos do Programa de Pós Graduação em Física da UFRN, Yuri Messias, Roseane Gomes, Márcio Teixeira, Asnakew Belete e Suzierly Lira.

Referência:

Filtergraph

Fonte: UFRN

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