O professor Lutiane Almeida, da UFRN, fala das contribuições que o conhecimento geográfico traz para a compreensão dos desastres
Os estudos sobre os desastres reúnem pesquisadores de diferentes áreas. Mas como a Geografia, particularmente, pode ajudar na compreensão dos riscos de desastres? Esse foi o tema da entrevista realizada nesta quarta (23) pelo Nossa Ciência com Lutiane Almeida, do Departamento de Geografia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele é professor do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da UFRN e coordena o grupo de pesquisa GEORISCO – Dinâmicas ambientais, Riscos e Ordenamento do Território.
De acordo com o professor Lutiane Almeida a Geografia ou Ciência Geográfica é dual, isto é, tem dois ramos, um voltado mais para o humano e outro para a natureza. “O grande desafio da Geografia é lidar com temas multidimensionais como os riscos de desastres que integram diferentes metodologias. A principal contribuição é a tentativa de integrar o que é responsabilidade do desenvolvimento humano e o que é relacionado com a dinâmica da natureza”, explicou. Ele considera o tema “riscos de desastres” multidisciplinar e extremamente geográfico, pois possibilita integrar esses dois ramos da Geografia.
No campo conceitual, o tema envolve diferentes aspectos que merecem ser definidos. O professor esclarece que há diferenças entre risco, perigo, vulnerabilidade, desastre e catástrofe. “As pessoas de uma forma geral confundem esses conceitos, mas na academia e nos setores de ponta, ou seja, aqueles setores que operam na prática – Defesa Civil, Bombeiros, SAMU, – precisam definir muito bem esses conceitos. Risco é o que pode acontecer, tem potencial de ocorrência. Desastre é quando o fato ocorre causando prejuízo, um dano em si. Vulnerabilidade é o quanto nós, seres humanos, estamos preparados para lidar com os danos desse perigo potencial. Catástrofe é muito mais na questão de escalas no número de mortes, pessoas atingidas, por exemplo”.
Tragédias
A cidade de Natal já foi cenário de algumas tragédias. Em junho de 2014, ocorreu o desabamento de parte do bairro de Mãe Luiza, na zona leste da capital potiguar. Sobre o ocorrido, Lutiane Almeida destacou que Natal tem grandes problemas relacionados a alagamentos e drenagem. “Isso não era para acontecer já que quase 100% do terreno que dá suporte a cidade é campo de dunas, ou seja areia, que tem uma capacidade enorme de infiltração. Mãe Luiza tem alto risco de deslizamentos por conta da declividade e instabilidade do terreno. Além disso, o mais importante foi que a população que mora lá não teve capacidade econômica de adaptar suas residências a vulnerabilidade do terreno”.
O professor da UFRN também apontou que vários bairros em Natal que hoje tem nome de lagoas são assim denominados pois eram locais onde existiam lagoas interdunares, que foram aterradas, ocupadas e incorporadas à cidade. “Essas áreas deveriam ter sido salvaguardadas, mas isso não foi feito. O que o poder público faz é gastar milhões construindo lagoas de detenção buscando imitar a natureza”, afirmou.
Quer saber mais sobre esse assunto? Acessem a entrevista veiculada pelo instagram do Nossa Ciência. Sigam @NossaCiência e confiram nossa IGTV.
Programação:
Dia 30 – Professor Nildo Dias (Ufersa) – “Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável: o mundo que queremos!”
Edna Ferreira