Como pensar o sustentamento do país sem o cuidado e a sensibilidade de quem faz o atendimento?
Por Davi Silveira Guerra
É de praxe ver inúmeras pessoas falando do papel importante do Sistema Único de Saúde (SUS) na pandemia, mas pouco é sabido como as coisas vem sendo desenvolvidas no campo da atenção primária em saúde nesse período atípico da sociedade. As atividades do Programa de Educação pelo Trabalho – Interprofissionalidades em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PET – Saúde/UFRN), se entrelaçou num mundo de agentes promotores de saúde desassistidos e que precisaram obrigatoriamente vestir o jaleco de super-heróis da nação.
Como membro desse projeto de cunho educacional tão complexo, que pretende mudar perspectivas estruturais do campo da saúde, nos âmbitos da formação dos novos e dos atuais profissionais da saúde, enxerguei o quão falho o SUS pode ser quando o assunto é os próprios profissionais de saúde. A realidade desalegra, pois não temos uma rede de apoio psicológico com as pessoas que lidam com a fase mais sensível da vida humana, a doença.
Acompanhar as profissionais nos seus relatos semanais de suas atividades de garantia da saúde da população, através das reuniões do nosso programa, não foi fácil. No período mais crítico, era de partir o coração ver que essas tinham obrigação não só social, mas também profissional de assistir à população sem nem ao menos serem assistidas.
É nesse viés que trago a realidade de um sistema de saúde social capaz de solucionar o problema da sociedade, mas que aborda o princípio estruturante capitalista de exploração do trabalho, em que cada vez mais os profissionais são tratados como funcionários e não como construtores desse sistema.
A verdade é que hoje esse projeto de Estado continua, ainda, sendo implantado em um processo que perdura 32 anos, desde sua criação, precisando sempre viver de políticas de financiamento de governo. A demanda profissional só pode ser mudada através da luta social, visto que os mecanismos estruturantes do SUS ainda permanecem desde o princípio corrompidos pela política clientelista que permeia a sociedade cordial brasileira. Assim, retomar o olhar sobre profissionais da saúde é essencial, principalmente diante da independência política e da democratização verdadeira das bases organizacionais do SUS.
*Davi Guerra é graduando do curso de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e bolsista do PET Interprofissionalidades em Saúde (UFRN/SMS-Natal).
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“Epistemologias Subalternas e Comunicação – desCom, um grupo de estudos e projeto de pesquisa do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte”.
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