A visão crítica de uma população é o primeiro passo para destruir as redes de fake news e aproximar o povo da forma de pensar a ciência
Há fenômenos corriqueiros que (hoje) são simples de descrever: lançar uma pedra, por exemplo. Se sabemos a velocidade e o ângulo do lançamento podemos dizer exatamente onde e quando ela cairá. Para os estudantes do ensino fundamental este é o primeiro contato com a física – embora a física tenha belezas infinitamente mais atraentes que arremessar pedras.
No entanto, foi observando o problema de uma maçã caindo da árvore que Newton conseguiu construir sua mecânica. Foi olhando para o céu que Galileu comprovou o heliocentrismo. E foi olhando para coisas muito pequenas (como átomos e elétrons) que os físicos perceberam que lá embaixo as coisas não funcionam como aqui em cima.
As probabilidades comandam o mundo quântico e os “quanta” (pacotes de energia) fizeram com que toda a teoria clássica (que explica o comportamento de coisas grandes) tivesse de ser repensada. E baseados na visão crítica de que modelos têm seus limites, toda a física quântica foi construída como algo diferente de tudo.
Para sua concepção foi fundamental construir uma visão crítica de fenômenos não comuns (e portanto poucos usuais para nosso entendimento) ao ponto de superpor o determinismo com uma teoria de probabilidades que colocava em questão até a possibilidade de Deus jogar dados com o universo.
A divulgação científica tem a premissa básica de passar para as pessoas esta capacidade crítica de avaliar conteúdos. Tomando nosso exemplo, se a mecânica quântica está na dimensão subatômica (dimensão muito pequena) como acreditar que um travesseiro ou colchão tenha efeitos quânticos? O travesseiro é enorme, está mais para a dimensão da maçã do que para a dimensão do elétron. Logo, se a maçã não tem efeitos quânticos, porque teria o travesseiro?
O charlatanismo pseudocientífico tende a usar termos e expressões para enganar os consumidores. Desta forma, toda uma linha “harmônica magneto quântica” promete resultados que nenhuma ciência valida.
Portanto, em caso de dúvida, sempre é recomendado buscar informações em outras fontes do que acreditar na primeira opinião que surge. A visão crítica de uma população é o primeiro passo para destruir as redes de fake news e aproximar o povo da forma de pensar a ciência. Pessoas com visão crítica questionam antes de propagar um conceito.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Nossa Ciência firmou parceria com a Saiba Mais – Agência de reportagem e jornalismo independente do Rio Grande do Norte. Saiba Mais.
Helinando Oliveira
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