A descoberta científica precisa ser transformada em produto a ser apresentado ao mercado e à sociedade
O maior desafio da divulgação científica é permitir com que as pessoas se apossem das descobertas e possam incorporá-las em sua rotina a partir de um sentimento de pertencimento. Da mesma forma que muitos correm para bordar uma estrela na camiseta do time campeão, o sentimento relativo à ciência precisa ser o mesmo, de conquista e orgulho.
Enquanto que um atleta, músico ou celebridade recebe atenção para além do que se imagina, diversos outros anônimos dedicam a vida a pesquisar assuntos e não têm a oportunidade de ver suas descobertas popularizadas entre os seus financiadores (o povo). Todavia, o novo século trouxe a tecnologia suficiente para estes eventos. Se antes era necessária a infraestrutura de uma TV Universitária e estúdios de gravação, hoje basta um aparelho celular com acesso a instagram e youtube para que na velocidade de um clique seja possível estar ao vivo para todo o planeta.
No entanto, isto não basta. Para manter a atenção das pessoas se faz necessário muito mais que boa informação. Tomemos o exemplo recente da lives dos artistas: no início eram bem improvisadas, neste esquema de gravação com telefone smart. Com a concorrência, rapidamente ganharam em qualidade. O fato é que há um grande investimento por trás de tudo isso, em cifras que garantem centenas de milhares e até milhões de fãs conectados. Por outro lado, as lives com temáticas voltadas para a ciência têm atraído atenção de poucas centenas de usuários, sendo uma boa parte deles do próprio meio acadêmico. Esta constatação de pouca capilaridade da informação da Universidade para a sociedade é clara e requer ações menos convencionais – daquelas que saem da caixinha.
A primeira proposta é mudar a linguagem, de formal para entendível aos jovens. A apresentação que veio das antigas transparências de projetores também precisa ser repaginada. Isso significa que as instituições precisam investir no design de exposição de seus conceitos. A descoberta científica precisa ser transformada em produto a ser apresentado ao mercado de financiadores. E com isto, precisamos usar toda a tecnologia de apresentação de produtos, permitindo com que os conceitos sejam assimilados pela sociedade.
Quando pensamos em refrigerante, imediatamente somos levados à ideia de uma garrafa gelada. Esta abstração faz toda a diferença no momento de materializar um desejo. No momento de materializar a sensação de um fruto da pesquisa, a que figura somos remetidos? Precisamos materializar estas marcas e trazer sentimentos ao trabalho de tantos cientistas. Em um mundo consumista precisamos usar as ferramentas do marketing para sobreviver enquanto conceito. E tudo isso por um a ciência mais “amiga” e mais próxima de todos.
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Leia o texto anterior: Ciência brasileira: entre vacinas e cobaias
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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